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Com dívida impagável, CBB decide denunciar ex-presidente ao MPF

Demétrio Vecchioli

27/03/2018 15h23

Carlos Nunes, ex-presidente da CBB (divulgação)

Contando pela primeira vez com a participação dos atletas, a assembleia da Confederação Brasileira de Basquete (CBB) decidiu por unanimidade denunciar seu ex-presidente Carlos Nunes ao Ministério Público Federal (MPF). Uma auditoria guardada a sete chaves pelo atual presidente, Guy Peixoto, apontou um rombo que, em 31 de dezembro de 2017, superava os R$ 38 milhões. Mas que, vista de agora, já ultrapassaria R$ 46 milhões. Um valor impagável para uma confederação que está sem patrocinador master e tem fechado parcerias com base em permutas.

A auditoria foi promessa de campanha de Guy Peixoto, que pagou do bolso para a BDO Auditores realizar o trabalho. Mas o contrato inclui uma cláusula de confidencialidade, o que impede que o documento seja tornado público. Apenas os membros da assembleia poderão ter acesso à auditoria e apenas se comparecerem à sede da CBB, que hoje é no centro do Rio, mas está de mudança para o Parque Olímpico da Barra. A imprensa não o conhecerá.

Na assembleia ordinária anual realizada na segunda-feira, também no Rio, a BDO apresentou um resumo da auditoria em Power Point. E mostrou que a gestão de Carlos Nunes, que ficou oito anos como presidente da confederação, cometeu uma série de irregularidades. Algumas, de ordem técnica, como contratos firmados com a assinatura de só um funcionário, o que contraria o estatuto, ou confissões de dívidas sem a devida comprovação de serviços prestados.

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Mas foram apresentadas também outras supostas irregularidades, como gastos em cartão de crédito corporativo, pagamento de cruzeiros, viagens e hospedagem de familiares do ex-presidente, saques com o cartão corporativo sem justificativa, além do pagamento de cartão de crédito de familiares. Nada disso foi documentado, o que não impediu que os poucos atletas presentes se chocassem – a CBB recentemente abriu espaço para 10 atletas na assembleia, mas só quatro compareceram: Oscar, Paula, Marcel e Cadum, pagando as viagens do bolso.

Oscar Schmidt foi um dos que pediram a palavra para criticar Carlinhos, como Carlos Nunes é conhecido. Seu antigo colega de seleção Cadum foi além e sugeriu que o ex-presidente fosse enquadrado no ato de gestão temerária, com proibição imediata pelo prazo de 10 anos de ocupar e se eleger para qualquer cargo na CBB ou em suas afiliadas. Ninguém se opôs, ainda que diversas federações tenham ficado desconfortáveis.

Pelo que apurou o Olhar Olímpico, a assembleia expôs uma postura mais crítica – e mais radical – por parte dos atletas. Tanto que partiu de Cadum a proposta de punir Carlinhos antes mesmo que os associados conhecessem a íntegra do relatório de auditoria. A suspensão foi baseada em dados mostrados em Power Point. Já as federações, mesmos aquelas que não concordavam com a punição, não se expressaram de forma contrária. Afinal, aprovaram por anos as contas da gestão de Carlos Nunes e inclusive o reelegeram.

Mas a pena aplicada pela CBB tem pouco efeito prático. O que os atletas e os aliados da atual gestão querem é que a Justiça Comum puna Carlos Nunes. Assim, ficou aprovado que o relatório da auditoria será levado ao Ministério Público Federal (MPF), para que tome as medidas cabíveis. O próprio MPF, porém, já havia procurado a CBB para pedir documentos.

A CBB diz, porém, que a auditoria ainda não acabou. Apesar de o trabalho ter começado há mais de um ano e de Guy já ter declarado publicamente o valor da dívida em pelo menos duas oportunidades, esse passivo não para de crescer, com a descoberta de novos débitos. Isso impediu que a MCS Markup, contratada para auditar as contas de CBB em 2017 (primeiro ano da gestão Guy), pudesse concluir seu trabalho.

"Na última reunião de trabalho a auditoria mostrou que não era possível emitir o parecer sem que fossem reabertos os números de 2016 para que sejam confrontadas as discrepâncias entre o balanço auditado e o relatório da BDO", explicou Carlos Fontenelle, secretário-geral da CBB, em material enviado à imprensa. Por causa disso, a assembleia abriu uma exceção e aceitou adiar a avaliação das contas anuais do comitê por mais 40 dias. Uma nova reunião terá que ser convocada.

A reportagem entrou em contato com Carlos Nunes, que disse ter sido recomendado pelo seu advogado a não conceder entrevistas. O Olhar Olímpico apurou que ele chegou a enviar explicações à CBB, a respeito das irregularidades apontadas na auditoria. Em síntese, alegou que todas as contas foram aprovadas pelas federações.

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Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.


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