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Líder paraolímpico, Parsons tenta tirar cartolas do Brasil da 'vala comum'

Demétrio Vecchioli

09/03/2018 04h00

Andrew com o ídolo paraolímpico Daniel Dias, no pódio dos Jogos Paraolímpicos do Rio (Cleber Mendes/MPIX/CPB)

Carlos Arthur Nuzman renunciou ao COB quando estava na prisão. Os últimos três presidentes da CBF estão envolvidos em denúncias de corrupção, sendo que um já foi condenado e outro teme deixar o país e ser preso. Os dirigentes máximos das confederações de atletismo e natação são investigados pela polícia, enquanto diversos outros estão na mira do Ministério Público Federal.

Credibilidade parece ser um produto em falta quando se fala em cartola brasileiro e Andrew Parsons sente na pele isso. Presidente do Comitê Paraolímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês), ele será pela primeira vez o responsável por uma edição dos Jogos Paraolímpicos, a de Inverno, em PyeongChang, que começa nesta sexta. Pela fama dos compatriotas, ainda precisa encarar olhares tortos quando se apresenta como brasileiro.

"Quando você fala que é brasileiro, as pessoas te olham com um pouco daquela cara de 'humpf' [faz careta e olha torto], pensando: 'Vamos ver se esse cara é como os outros que a gente tem notícia por aí"', contou Parsons ao Olhar Olímpico, na semana passada, em São Paulo, quando esteve presente ao lançamento do rating do Pacto Pelo Esporte.

Veio ver de perto um filho nascendo. É que foi dele, ainda presidente do Comitê Paraolímpico do Brasil (CPB), quem propôs o que acabou por se tornar o Pacto – um acordo entre empresas, que só patrocinarão entidades esportivas que cumprirem determinados parâmetros de transparência e governança. Foi também Parsons quem primeiro modificou o estatuto de sua entidade para dar espaço aos atletas – isso ainda em 2010.

"Sinto que colocam um pouco de responsabilidade em mim (por ser brasileiro), mas não cheguei ontem. No movimento paraolímpico são 20 anos. Conheci muita gente fora do movimento também: patrocinadores, COI, televisões, federações. Muita gente me conhece e tanto é que partiram em minha defesa quando tentaram me jogar numa certa vala comum brasileira. Todo mundo já sabia da minha trajetória. Tenho bom reconhecimento internacional, tanto que fui eleito com boa vantagem de votos", lembrou.

A eleição do IPC aconteceu em setembro, dois dias depois de a Polícia Federal cumprir mandados de busca e apreensão no COB e na casa de Nuzman. Não demorou para o próprio Parsons ser atacado, com sites relacionando ele ao então presidente do COB, uma vez que os dois atuaram juntos na organização da Rio-2016. Também foi relembrada reportagem da Folha que mostrou críticas do TCU a prestações de contas do CPB. O ataque, porém, não o atingiu e ele acabou eleito com quase o dobro de votos que o segundo colocado.

Críticas ao legado

Ainda que tenha atuado como representante do comitê paraolímpico local na Rio-2016, Parsons se sente à vontade para admitir que o legado olímpico passou longe do esperado. Mas faz uma ressalva: "O legado paraolímpico foi extraordinário. Saímos da Paraolimpíada com um CT que quase ninguém tem parecido no mundo, mais do que triplicou o financiamento e conseguimos atingir um novo público. Só que no legado olímpico, no uso das instalações principalmente do Parque Olímpico da Barra, a gente ainda está longe de poder comemorar", reconhece.

O presidente do IPC é mais do que acredita que a Olimpíada foi "uma oportunidade perdida". "A questão da Rio-2016 sempre foi que o financiamento serviria para transformar o brasil num país esportivo a gente perdeu essa oportunidade. Foi uma oportunidade perdida, não ter transformado o Brasil no país esportivo, não só do futebol."

Agora, porém, a responsabilidade do brasileiro não é mais com o legado do Rio, mas com o PyeongChang, onde a Paraolimpíada começa logo mais às 8h (pelo horário de Brasília). Parsons admite que, com ele no comando do IPC, a competição muda "um pouco", uma vez que ele tem um background (repertório) diferente do antigo presidente Philip Craven, britânico que ficou 16 anos no cargo. Mas que as mudanças serão sentidas mesmo em 2020. "Dizer que em seis meses a gente afetou a entrega dos Jogos de PyongChang não seria verdade. Para Tóquio a gente vai sentir uma diferença maior", promete.

Brasil

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O CPB enviou uma delegação de três atletas para PyeongChang, nesta que é a segunda participação do Brasil nas Paraolimpíadas de Inverno. Precursor, André Cintra, de 38 anos, competiu pela primeira vez no snowboard cross em Sochi-2014 e agora vai para sua segunda experiência paraolímpica. Além dele, estão na Coreia do Sul dois estreantes: Aline Rocha, de 27 anos, primeira mulher brasileira nas Paraolimpíadas de Inverno, e o jovem Cristian Ribera, de apenas 15 anos, ambos do esqui cross-country.

A expectativa é que PyeongChang receba 650 atletas, que competirão em seis esportes (snowboard, esqui cross-country, biatlo, esqui alpino, curling em cadeira de rodas e hóquei em trenó). Serão 80 eventos, disputados por 46 equipes. Uma delas vai competir com bandeira neutra: a Atletas Neutros Olímpicos, formada pelos russos.

Diferente do COI, que chamou o time de "Atletas Olímpicos Russos", o IPC não deixou a Rússia ser identificada na equipe. Assim como aconteceu na Rio-2016, o movimento paraolímpico foi mais rígido que o olímpico. "A gente queria a Rússia, mas o que aconteceu, o que vinha acontecendo até Sochi, era muito grave. A gente tem evidências do que acontecia, então a gente precisa ter evidencias de que não vai acontecer de novo. Precisamos ter mais garantias, compromissos", cobra o dirigente brasileiro, deixando claro que o governo russo precisa colaborar, atendendo as determinações da Agência Mundial Antidoping (Wada) para que a RUSADA (agência antidoping da Rússia) seja recredenciada. Sem isso, o IPC não deverá revogar também  a suspensão imposta ao comitê russo.

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Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.


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