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Novo ídolo mundial, Calderano bate o melhor do mundo no tênis de mesa

Demétrio Vecchioli

09/03/2018 13h25

Calderano é a capa da World Table Tennis

Seja na Áustria, no Brasil ou no Qatar, Hugo Calderano já sabe que, após as partidas, terá que dedicar um tempo para tirar fotos, dedicar autógrafos, atender os fãs. O brasileiro, afinal, é um dos novos ídolos do tênis de mesa mundial. Número 15 do ranking, ele tem o dobro de seguidores no Instagram na comparação com o primeiro da lista, o alemão Timo Boll, por exemplo. Mas não é só nas redes sociais que Calderano vence o melhor do mundo.

Esse texto já estava pronto quando, nesta sexta-feira, o brasileiro alcançou o maior feito de sua carreira. Assim como já havia acontecido uma vez em 2014, ele venceu Boll. Com a diferença que a vitória desta sexta aconteceu com o alemão de volta à liderança do ranking mundial. O duelo terminou em 4 sets a 1, pelas oitavas de final do Aberto do Qatar. Dos 16 melhores do mundo, 15 estão na competição, na qual Hugo já está entre os oito primeiros.

Comparando com o tênis, é como se um brasileiro tivesse chegado às quartas de final de Roland Garros, ganhando de Roger Federer nas oitavas – Boll já foi o melhor do mundo e agora voltou ao posto. O momento de Calderano é tão bom que, este mês, é ele a capa da mais importante publicação sobre tênis de mesa no mundo, a japonesa World Table Tennis.

"Sempre que vou nos Mundiais, ou em uma etapa de Copa do Mundo, sempre tem uns fãs de tênis de mesa que são meus fãs, vêm pedir autógrafo, tirar foto. Isso é muito legal. Gente de vários países que sabe meu nome, conhece meu jogo", contou Calderano, um dos cinco jogadores mais bem ranqueados a disputar a Champions League da Europa, o terceiro na lista da Bundesliga. A entrevista ao blog ocorreu antes do início do Aberto do Qatar. E, como de costume, acabada a partida contra Boll, lá estava Calderano distribuindo autógrafos.

O reconhecimento vem atrelado à evolução dos seus resultados. Hoje, o brasileiro é 15º do ranking mundial, melhor posição já alcançada por um mesa-tenista latino-americano. À frente dele estão 11 asiáticos (sendo quatro chineses) e três europeus, sendo um deles o francês Simon Gauzy, seu colega de equipe no clube alemão Ochsenhausen.

O tênis de mesa tem um modelo híbrido entre os clubes dos esportes coletivos e os torneios profissionais do tênis. Na maior parte do tempo, Calderano joga pelo Ochsenhausen, que disputa a Bundesliga (Campeonato Alemão) e a Champions League, igual no futebol. O time que vencer mais partidas no confronto (igual a Copa Davis) fica com a vitória. Paralelamente, o Circuito Mundial tem etapas de maior ou menor valor, em torneios de mata-mata e distribuindo pontos em um ranking mundial, igual no tênis.

Independente do referencial, a evolução de Calderano é clara. No Aberto da Hungria, disputado em janeiro, ele encarou na semifinal o chinês Fan Zhendong, número dois do mundo, fez um jogo parelho e só perdeu nos detalhes, por 4 sets a 1. Nesta sexta, a vitória sobre Boll consagrou a maior vitória de sua carreira.

Cada vez mais, ele encara qualquer um em igualdade de condições. "Uma das minhas metas é ganhar dos chineses em competições importantes", revela Calderano. "No tênis de mesa tem esse certo favoritismo que às vezes é difícil um jogador muito acima do outro perder. Ainda assim acontecem mais zebras que no tênis, por exemplo, porque os jogos são mais curtos. Isso exceção os chineses, que raramente perdem. Mas eu trabalho para conseguir", conta. Hoje, é Boll o líder de um ranking recém-estruturado, mas a tendência é que ele caia algumas posições agora que os chineses estão jogando o circuito com regularidade.

Evolução

Na atualização do ranking neste mês de março, Calderano apareceu pela primeira vez no 15º lugar do ranking mundial, ganhando uma posição na comparação com fevereiro. Aos 22 anos, o brasileiro prefere não colocar metas, para depois não ter que ampliá-las. "Não quero botar limites. Não quero falar que quero ser Top 15, porque pode pode ser que eu chegue no Top 10. Só tento subir o máximo possível", revela.

A evolução, porém, não é só de Calderano. Por equipes, o Brasil chegou até as quartas de final da Copa do Mundo disputada há duas semanas e alcançou um inédito nono lugar no ranking mundial. Mais uma posição e a equipe brasileira pode sonhar em ser cabeça-de-chave na Olimpíada de Tóquio, com um caminho favorável para, quem sabe, brigar por medalha. "A gente ainda não tem esse nível de ser Top 5, mas não vou dizer que não dá para ficar entre os cinco primeiros na Olimpíada. Depende da chave", argumenta.

O crescimento não vem sem sacrifício e Hugo sabe bem disso. Exceção às últimas férias, quando ficou três semanas no Brasil, foram quatro anos sem tirar um descanso longo. E morar no Brasil de novo não é uma meta no curto ou sequer no médio prazo. "É um pouco chato saber que vou ter que morar na Europa nos próximos 10, 15 anos. Mas já me acostumei. Tenho minha ambição, minha vontade de conseguir alguma coisa especial no tênis de mesa. Esse desejo que continua me levando, me fazendo treinar todo dia. Essa vontade de ganhar é maior que tudo isso."

 

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Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.


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