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Guilheiro aprende a 'sofrer', supera cirurgias e volta à seleção aos 34

Demétrio Vecchioli

25/01/2018 04h00

Leandro Guilheiro (Ricardo Bufolin/EC Pinheiros)

Leandro Guilheiro tirou um printscreen e guardou no celular um comentário feito por um jornalista em uma rede social. Na mensagem, uma crítica que o incomoda: "O Guilheiro errou a hora de parar". Dono de duas medalhas olímpicas, a última delas conquistada há 10 anos, o judoca está, segundo suas próprias palavras, preparado para sofrer. Não será uma série de lesões iniciadas ainda em 2013 que irão encurtar sua carreira a resposta, diz ele, virá no tatame. "Decidi que ia continuar e sei que vou ter que um preço muito alto. Vou sofrer, vou perder, vou começar por baixo. Mas vou encarar."

Para um judoca acostumado desde cedo às conquistas – foi bronze em Atenas-2004 aos 21 anos -, o jejum de quase seis anos sem vencer uma etapa do Circuito Mundial incomoda, e muito. Após ganhar mais um bronze em Pequim-2008, Guilheiro chegou a Londres-2012 como primeiro do mundo a grande favorito na categoria até 81kg. Uma derrota nas quartas de final e outra na repescagem o tiraram do pódio. No começo do ano seguinte, porém, teria início um calvário, com uma lesão no joelho e a primeira de quatro cirurgias seguidas.

"Foram cinco anos muito difíceis. Começou lá em 2013, quando machuquei o joelho na volta aos treinos depois de Londres. Só voltei a competir no fim de 2014 e já no olho do furacão, precisando de resultado para ir ao Rio, o que me gerou mais lesões", explica Guilheiro. Com um currículo irretocável, ele ganhou diversas oportunidades da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), inclusive no Mundial de 2015, mas nunca voltou a ser um judoca de destaque.

Alijado da disputa por uma vaga olímpica, passou mais quase um ano e meio sem competir internacionalmente, voltando em setembro do ano passado. Em dezembro, Guilheiro disputou a seletiva nacional e conquistou a tão sonhada vaga para voltar à seleção brasileira. Ele admite, porém, que os resultados não deverão vir de uma hora para outra.

"Eu sempre encaro resultado como consequência de muita coisa, principalmente de uma boa preparação. Uma das grandes virtudes da idade e da experiência é ter vivido muita coisa diferente. É ruim perder? É claro que é ruim. Essa é maior sequência da minha vida sem ganhar nada, com certeza, mas é natural para as dificuldades que vivi. Nesse retorno, eu tô pronto para ter paciência. Ninguém pode afirmar ou prever quando o resultado vai vir, mas posso dizer que vou me dedicar muito. Uma hora ele aparece", diz Guilheiro.

É natural que, em algum momento, o judoca de 34 anos tenha pensado em parar. Até porque, da melhor e mais vitoriosa geração que o judô masculino formou (com ele, Leandro Cunha, Luciano Correa, Tiago Camilo e João Derly), Guilheiro é, coincidentemente, o único que continua em atividade. Mas o judoca, que continua contratado pelo Pinheiros e até o fim de 2017 era do projeto de alto rendimento do exército, não deixou as lesões falarem mais alto.

"Só tem uma pessoa que pode me julgar, que sou eu. Só eu posso dizer por que e como gosto do judô. Meu ponto é a questão da lesão, do corpo. Posso encarar não lutar os próximos Jogos Olímpicos porque tem alguém melhor, mas não porque perdi a chance de lutar de igual para igual por conta de lesão. Não é esse o ultimo capitulo da minha carreira", conta. "Foi uma coisa muito pensada."

Com a aposentadoria de Luciano Corrêa, anunciada no fim do ano passado, e a ausência de Tiago Camlio (que ainda não oficializou que já está aposentado), Guilheiro passa a ser o judoca mais velho da seleção. Ainda que seus contemporâneos tenham todos traçado um caminho para o pós-carreira, ele não quer nem pensar no que vai fazer quando deixar de lutar judô.

"Eu me interesso por várias coisas, tem diversas possibilidades de coisas para eu fazer, mas só funciono vivendo as coisas 100%. Um dos preços que ia ter que pagar para seguir no judô era me dedicar 100% a isso. Daqui dois anos pode acabar, mas até lá meu foco principal é eu me resolver no esporte. Não quero encerrar a carreira e ter a frustração de que deveria ter investido energia nisso", afirma.

No mês que vem, Guilheiro volta a defender o Brasil em uma competição importante no calendário internacional: o Grand Slam de Paris, a partir do dia 10. Enquanto alguns judocas preferem se poupar em torneios duros assim para pontuar em eventos sem tantos atletas de peso, Guilheiro está motivado para voltar à França oito anos após faturar um ouro lá. "Eu preciso voltar, preciso de ritmo, sofrer, apanhar, levantar. Só assim que vou evoluir, retornar ao melhor forma", completa.

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Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.


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