Nova denúncia liga Rio-2016 a membros do grupo criminoso de Cabral
Demétrio Vecchioli
05/10/2017 11h03
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Os mandados de busca e apreensão cumpridos há um mês na casa de Carlos Arthur Nuzman e na sede do Comitê Rio-2016, entre outros locais, municiou o Ministério Público Federal (MPF-RJ) para pedir a prisão do dirigente do Rio-2016 e do Comitê Olímpico do Brasil (COB), efetuada nesta quinta-feira, no Rio. Os documentos apreendidos reforçam a conexão entre o comitê e o grupo criminoso ligado ao ex-governador Sérgio Cabral.Na primeira fase da Operação Unfair Play, além de Nuzman, também foi alvo o empresário Arthur Soares, o Rei Arthur, que teria sido o responsável por comprar o voto senegalês de Lamine Diack, presidente da federação internacional de atletismo, a IAAF, conforme mostram novos e-mails.
Com os documentos da Rio-2016 em mãos, os procuradores também encontraram outras relações com o grupo de Cabral. Um deles é Marco Antonio de Luca, preso na Operação Ratatouille, em junho, que fez pagamento de vantagem indevida de ao menos R$ 16 milhões em favor da organização de Cabral, segundo o MPF.
Agora preso, Nuzman mantinha 16 barras de ouro na Suíça, material que poderia produzir medalhas olímpicas até 2028. Para os procuradores, nas contas do dirigente há indícios de lavagem de dinheiro,
A denúncia apresentada à Justiça Federal pelo MPF argumenta que a vinda da Olimpíada para o Rio abriu um grande campo de atuação para Luca, proprietário da Masan Serviços Especializados, que firmou diversos serviços com a Rio-2016, entre segurança, limpeza da Vila dos Atletas e do Parque Olímpico, alimentação e hospitalidade. A contratação não é ilegal, uma vez que foi feita entre duas empresas privadas, mas chamou a atenção dos investigadores um depósito da Masan para o Rio-2016, o que, no entender deles, aparenta ser um ato de lavagem de dinheiro.
Também firmaram contratos com a Rio-2016 outros empresários ligados a Cabral, como o próprio Arthur Soares e as empresas de Jacob Barata Filho, dono de diversas empresas de transportes, entre elas duas que prestaram serviços à Olimpíada.
No caso do Rei Arthur, a partir da LSH Barra Empreendimentos Imobiliários, ele recebeu R$ 3,8 milhões do Comitê Rio-2016 a título de reservas em um hotel que seria construído, o Trump Hotel, que não ficou pronto a tempo. A empresa não pagou a multa na íntegra, recebendo um desconto de 30%. "No jogo do ganha-ganha, o único perdedor é o erário, já que o prejuízo foi bancado pelo Comitê Rio-2016, que recebeu verba pública em quantias significativas para realização do evento", escrevem os investigadores.
Outra relação é entre Nuzman e o médico Sergio Côrtes, que produziu um dossiê contra Alaor Azevedo, presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM) e seu principal rival político dentro do COB. O dossiê foi encontrado entre os pertences de Nuzman, na casa dele. Para o MPF, isso mostra que "os membros da organização criminosa ajudam-se mutuamente para manutenção do status quo".
No entender do MPF, a primeira fase da Unfair Play demonstrou que "a organização criminosa comandada por Cabral atuou para garantir votos na escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016 e, com isso, assegurar a vinda de grandes investimentos públicos para o Rio de Janeiro, a realização de obras e a contratação de serviços". Ainda de acordo com a denúncia, "tais constatações foram utilizadas como meio para atender aos interesses privados de um seleto grupo de 'amigos da corte' e, ao mesmo tempo, para canalizar os dutos de propinas pagas pelo setor privado a agentes públicos"
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Sobre o autor
Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.
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Sobre o blog
Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.