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Rodrigo Pessoa rompe com Doda e estreia como técnico de rival do Brasil

Demétrio Vecchioli

28/09/2017 04h00

Doda e Rodrigo, ao centro, comemoram medalha conquistada em Sydney, em 2000 (Marcos André Pinto/COB/Divulgação, Sydney, 28/Setembro/2000)

"Com a nossa amizade, o relacionamento de tantos anos, isso é uma coisa que não abala", apostava Álvaro de Miranda Neto, o Doda, depois de trocar farpas públicas com Rodrigo Pessoa durante a Olimpíada do Rio. Ledo engano. Um ano depois, os dois maiores cavaleiros da história recente do Brasil, amigos de longa data, não se falam mais. "Não temos obrigação de ser amigos", admite Rodrigo Pessoa, agora treinador da Irlanda.

Os dois eram amigos há mais de 20 anos. Em 1993, Doda mudou-se para o centro de treinamento de Nelson Pessoa, o Neco, na Bélgica e virou não só companheiro de treinos, mas colega inseparável de Rodrigo, que é um ano mais velho. Eles eram jovens de 22 e 23 anos quando levaram o Brasil a uma história medalha de bronze por equipes na Olimpíada de Atlanta, em 1996. Vinte anos depois, são ambos recordistas de participações pelo Brasil em Olimpíadas de Verão, com seis cada uma.

Rodrigo poderia ter se isolado como recordista se tivesse disputado a Rio-2016. Ele até foi convocado, mas para ser reserva, e recusou o posto. O Brasil terminou em quinto por equipes e Doda, questionado sobre a ausência do amigo, disse que até foi melhor assim, porque Rodrigo, com a montaria que tinha à disposição, poderia ter passado vergonha. O campeão olímpico, que estava em Deodoro para comentar a competição por um canal de televisão francesa, até ponderou que Doda estava de cabeça quente, mas manteve sua postura crítica em relação à sua não convocação.

Depois daquilo, porém, os dois grandes amigos nunca mais se falaram. "Infelizmente a gente não tem mais relação, por causa desse comentário infeliz que ele fez. Ele falou depois que se arrependeu de ter falado, mas nunca veio falar para pedir desculpas. Ele nunca me procurou. Ele tem que me procurar, falar as coisas depois vamos ver se a gente consegue encontrar um entendimento. A gente foi amigo durante muito tempo, muito bons amigos", lembra Rodrigo, que foi padrinho de casamento de Doda.

Aliás, padrinho de um casamento que também acabou. Doda e a grega Athina Onasis se separaram no ano passado de uma forma nada amigável. Eles eram sócios em cavalos e em estábulos, mas a bilionária barrou o acesso do ex-marido a montarias e equipamentos. Doda teve que recomeçar a carreira no Brasil, montando um cavalo ainda cru para grandes competições e ficou fora da convocação do técnico Pedro Paulo Larcerda para a Final da Copa das Nações, que começou nesta quinta-feira.

Rodrigo Pessoa também está em Barcelona, mas como treinador da Irlanda. Aos 44 anos, ele também não está com nenhum cavalo em nível para competir em grandes eventos e, até o fim do ano que vem, tem compromisso com os irlandeses.

"Começou em uma brincadeira, com um dos cavaleiros deles brincando dizendo que eu seria a pessoa ideal, até que fomos falando mais seriamente até o final do ano passado. Falei: 'Bom, boto meu nome no chapéu e a gente vê se sai alguma coisa'. Fui na entrevista contra outros dois outros irlandeses e eles acharam que a minha pessoa era a mais indicada", conta Rodrigo Pessoa.

O cavaleiro brasileiro, que segue morando na Bélgica, até tem participado de competições internacionais, mas com montarias que não têm nível para disputar a Copa das Nações deste ano ou os Jogos Mundiais Equestres do ano que vem. "É um contrato de dois anos com opção de mais dois anos. No final do ano que vem a gente vai parar para ver se está todo mundo feliz. Nos finais de semana que não tenho compromisso com a equipe eu posso montar", explica.

Pessoa não descarta voltar à seleção brasileira para os Jogos Pan-Americanos de 2019, uma vez que esta é uma competição da qual a Irlanda não participará. Conflito de interesses, só nos Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio. Mas as conversas tanto com a federação irlandesa quanto com a brasileira deixaram em aberto a possibilidade de Rodrigo estar ou aqui ou lá. "Vamos ver se vou ter um cavalo de bom nível para a Olimpíada."

Nova fase – Depois de ser convocado como reserva para a Rio-2016, Rodrigo rompeu com o então técnico da equipe brasileira, o veterano norte-americano George Morris, a quem também considerava amigo. "Ele foi injusto, não foi correto na maneira de abordar. Não vou ficar alimentando amizade com quem não é fiel sem razão. Tinha bom relacionamento com ele há muito tempo, hoje a gente se cruza e não se fala", reconhece.

Passada a Olimpíada, Morris não renovou com a Confederação Brasileira de Hipismo (CBH), que também trocou de presidente, saindo Luiz Roberto Giugni e entrando Ronaldo Bittencourt. Rodrigo até chegou a ser cotado para assumir o posto de técnico da equipe de saltos, que ficou com Pedro Paulo Larcerda, mas as conversas não foram adiante.

"Estou há 25 anos na equipe brasileira, fui por muitos anos uma espécie de treinador informal, e queria ver outro país, lidar com outras pessoas, tomar um pouco de espaço da equipe brasileira. A confederação tinha acabado de mudar de presidente e eles não estavam prontos para se comprometerem rapidamente do jeito que eu precisava. Ficou combinado que eu iria embora por um tempo e voltaria se tivesse um cavalo bom", explica.

Mesmo assim, Rodrigo continua ligado ao time porque um dos seus pupilos está na seleção. Trata-se de Pedro Junqueira Muylaert, o Pepê, de 31 anos, que é treinado por Rodrigo na Bélgica. "Quero primeiro que ele vá bem, que se dê bem, mas meu compromisso profissional é a Irlanda. Não deixo de torcer pelos meus amigos, pelo meu aluno, mas tenho um compromisso com a Irlanda."

Copa das Nações – Nesta quinta-feira, nem Rodrigo Pessoa nem o Brasil foram bem na fase de classificação da Final da Copa das Nações, que equivale a um Mundial por Equipes e é o evento mais importante do ano no calendário do hipismo. Os oito melhores passavam à final e a Irlanda ficou em nono.

Com Pepê, Yuri Mansur, Pedro Veniss e Eduardo Menezes, a equipe brasileira ficou apenas na 13ª colocação e também não conseguiu vaga na final. O aluno de Rodrigo Pessoa foi o primeiro a competir pelo Brasil e teve 21 pontos perdidos. Eduardo perdeu 16, Yuri quatro e Pedro Veniss cinco. Um total de 25 pontos que deixou o time brasileiro, que fazia boa temporada, muito longe de se classificar à final.

Marlon Zanotelli também foi convocado, mas não irá disputar a competição, uma vez que considera que seu melhor cavalo ainda não está preparado para participar de um evento forte assim.

Assim como Rodrigo Pessoa, Doda nem foi cogitado para ser convocado, depois de chegar a afirmar que pretendia disputar a competição com Cornetto K, cavalo que montou na Olimpíada e pelo qual ele luta judicialmente contra Athina. Morando em São Paulo, Doda participou no fim de semana de um importante evento indoor da Sociedade Hípica Paulista, clube que representa, mas nem ficou entre os cinco primeiros colocados. Ele não tem dado entrevistas e não quis comentar as declarações de Rodrigo.

 

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Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.


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