O cenário de caos no controle de doping do futebol brasileiro, revelado pelo blog no sábado, não é novidade para a Fifa. A federação internacional tem feito cobranças constantes à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que, neste caso, está de mãos atadas. Entidade recordista mundial em exames antidoping realizados (serão 6 mil só em 2017), ela deixou de ser responsável por punir os atletas.

"A Fifa já tem cobrado a CBF, para saber como estão os casos de doping. A Fifa me cobra, mas eu tenho uma lei e  tenho de respeitar a lei. Ela quer ser informada do andamento dos casos, mas nem a gente tem a informação", explica Jorge Pagura, responsável pela área médica da CBF.

Até abril, a CBF é quem comandava a engrenagem. Mandava realizar a coleta, recebia os resultados diretamente do laboratório de Los Angeles, fazia a chamada gestão de resultados (buscar o prontuário médico do atleta para identificar quando o resultado analítico adverso não é doping, mas doença) e repassava o caso ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva. O SJTD rapidamente aplicava suspensões provisórias, quando fosse o caso, e informava a CBF, que repassava a informação para as federações estaduais, os clubes, os atletas e à Fifa, que acompanhava passo a passo.

Desde maio, a única tarefa que cabe à CBF é mandar realizar a coleta e pagar pelo exame. Os resultados analíticos adversos são enviados à Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), que faz a gestão de resultados e encaminha o caso para o Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TJDAD), responsável por julgar. A Fifa, assim como a Agência Mundial Antidopagem (Wada) e a CBF, recebe, por e-mail, cópia da notificação do resultado analítico adverso.

O que tem acontecido é que tem parado por aí. Com a morosidade do TJDAD e da ABCD, a Fifa deixou de ser informada a respeito do andamento dos processos, que já são 14 no futebol brasileiro só este ano – ante uma média de nove por temporada entre 2010 e 2016. A entidade internacional passou a cobrar a CBF, que apertou o TJDAD e a ABCD. Até sexta-feira, sem sucesso.

"Nunca fomos cobrados pela Fifa, é a primeira vez que isso acontece. Eles (a ABCD e o TJDAD) precisam se organizar", reclama Pagura.

Para tentar tornar mais ágil e transparente o processo, o comando da CBF chegou a se reunir com o ministro do Esporte, Leonardo Picciani (PMDB-RJ), que ouviu a reclamação e pediu que ela fosse levada ao Conselho Nacional do Esporte, órgão vinculado ao ministério.

Como mostrou o blog no domingo, a CBF só foi informada a respeito das oito suspensões provisórias aplicadas pelo TJDAD para jogadores brasileiros na última sexta-feira, após a CBF desmentir informação passada pelo Ministério do Esporte à reportagem de que os 14 jogadores estavam suspensos e a CBF havia sido informada de todos os casos.

Ainda não está claro, porém, de que forma a Fifa poderá acompanhar o desenrolar dos processos. É que eles vão continuar correndo sob sigilo, sem que o nome dos atletas seja divulgado. O próprio presidente do TJDAD admite que o sigilo atrapalha a fiscalização das punições.