Topo

Contaminado em Londres, favorito é barrado na porta de estádio e não corre final

Demétrio Vecchioli

08/08/2017 18h04

(AP Photo/Martin Meissner)

Demétrio Vecchioli e Julianne Cerasoli

Wayde Van Niekert venceu a final dos 400m rasos no Mundial de Londres nesta terça-feira, mas o mundo nunca saberá se ele de fato era o homem mais rápido da prova nesta noite. Afinal, a Associação das Federações Internacionais de Atletismo (IAAF) impediu que um dos principais candidatos ao título, o botsuano Isaac Makwala, competisse. Pior: botou seguranças para barrar a entrada do corredor no Estádio Olímpico, alegando que o protocolo das autoridades de saúde do Reino Unido determina que uma pessoa contaminada com o norovírus, como ele, fique 48 horas em repouso em casa.

O momento em que os seguranças barram Makwala, candidato a astro do atletismo, foi flagrado por um site norte-americano, que compartilhou as imagens no Twitter. Makwala, de 29 anos, terceiro do ranking mundial dos 400m antes de o Mundial começar, passou mal na segunda-feira depois de supostamente comer a comida contaminada de um hotel quatro estrelas no centro de Londres. De acordo com membros da delegação de Botsuana, ele vomitou e teve diarreia ontem, mas nesta terça estava pronto para competir.

O Olhar Olímpico acompanhou a saga de Moses Bantsi, presidente da federação de atletismo de Botsuana e que, no Mundial, usa credencial de chefe de equipe do país africano. Por volta das 19h50, duas horas antes da largada da final dos 400m, ele não sabia onde Makwala se encontrava. Subia correndo as escadas que ligam a área de aquecimento ao setor da arquibancada onde ficam atletas e membros de equipes. "Estou procurando alguém importante. Alguém da IAAF que possa nos ajudar, deixar ele correr", disse ao blog.

Não encontrou ninguém e voltou à área de aquecimento, enquanto acredita que seu atleta ainda estivesse lá. Não estava. Makwala já havia sido impedido de entrar no Estádio Olímpico, barrado no corredor entre onde os ônibus oficiais deixam os atletas e a entrada da pista externa.

A IAAF soltou comunicado oficial só cinco minutos antes da largada e afirmou que devido às regras sanitárias do Reino Unido, Makwala teria que ficar em quarentena no seu quarto por 48 horas, período que acaba às 14h da quarta-feira.

"Os procedimentos foram recomendados pelas autoridades de saúde da Inglaterra e foram claramente explicados para as equipes inscritas, no domingo, e também pessoalmente para a delegação de Botsuana. A decisão de tirá-lo da competição foi tomada com base em exame médico conduzido no aquecimento dos 200m no centro médico por um especialista qualificado. Uma cópia do relatório foi dada para um membro da comissão médica de Botsuana. Esse documento informava que ele só poderia voltar a competir na quarta-feira", escreveu a IAAF, que completou que sente muito por não ter o talento de Makwala na final dos 400m, mas que deve cuidar do bem-estar de todos os atletas.

"Ele estava pronto para competir. Só vomitou e passou mal ontem. Hoje ele estava bem, queria correr. É injusto que façam isso com ele", reclamou Bantsi. Outros atletas da delegação de Botsuana também confirmaram ao blog que Makwala tinha a intenção de competir.

Contaminação – O corredor de Botsuana foi um dos pelo menos 30 atletas que contraíram o vírus norovírus em um dos hotéis reservados aos profissionais que estão participando do evento e já havia sido vetado nas eliminatórias dos 200m na segunda-feira, depois de ter vomitado enquanto se aquecia para disputar a prova.

A atitude dos organizadores logo causou reação nas mídias sociais. Usando a hashtag #FreeMakwala, vários fãs passaram a questionar a IAAF, inclusive pedindo que o restante dos atletas classificados para a final boicotassem a prova. Também causou revolta o fato da atleta alemã Neele Eckhardt também ter apresentado os mesmos sintomas, sendo liberada para competir, tendo terminado em último lugar no salto triplo.

O corredor de 30 anos tinha a terceira melhor marca do ano para os 400m, atrás apenas de Wayde van Niekerk, da África do Sul. Makwala vinha bem recentemente, tenho corrido abaixo de 45s para os 400m e de 20s para os 200m em um meeting disputado há menos de um mês, na Espanha, e estava escalado para estas duas provas no Mundial, além do revezamento dos 400m.

O Comitê Organizador Local afirmou por meio de comunicado oficial que as medidas devidas estão sendo tomadas para conter o vírus, que é altamente contagioso e é relativamente comum no Reino Unido, sendo conhecido no país como "virose de inverno". "Houve vários casos reportados por membros de equipes que estão hospedadas em um dos hoteis oficiais. Os que foram afetados estão sendo apoiados pelos médicos da organização e também estamos trabalhando com o serviço público de saúde da Inglaterra para garantir que a situação está controlada."

O Hotel Tower, localizado perto da Tower Bridge, afirmou que investigações demonstraram que o hotel não é foco de vírus, o que também foi confirmado pelas autoridades sanitárias britânicas. Atletas e membros da comissão técnica da Alemanha e do Canadá também tiveram o mesmo problema. A delegação italiana, no entanto, que está no mesmo hotel, não teve casos reportados.

Olhar Olímpico conversou com membros das duas equipes, que confirmaram as contaminações, mas disseram que o vírus não deve causar mais ausências na competição. Os alemães inclusive conseguiram realocar os seus atletas que ainda não haviam chegado a Londres até ontem, e que agora ficarão hospedados em outro hotel.

Curiosamente, a mesma imprensa britânica que tanto bateu na tecla dos riscos associados à realização da Olimpíada no Rio, principalmente por causa da água da Baía de Guanabara e da Lagoa Rodrigo de Freitas, agora dá pouco destaque ao tema. Os jornais distribuídos aos montes no metrô, por exemplo, citam o fato sem manchetes, mesmo os impressos à tarde. Nos sites dos principais jornais, também, nenhum destaque.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Contaminado em Londres, favorito é barrado na porta de estádio e não corre final - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.


Olhar Olímpico


Newsletter