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Novo Phelps? Até Caeleb Dressel admite que comparação é 'inevitável' após 7 ouros

Demétrio Vecchioli

31/07/2017 12h00

(Clive Rose/Getty Images)

Michael Phelps foi um nadador especial não só pelos tantos recordes que estabeleceu em velocidade como pela capacidade única de acumular medalhas. Quando se aposentou, após a Olimpíada do Rio, deixou a impressão que, ao menos na natação masculina, demoraria a ser igualado. Pois já no primeiro Campeonato Mundial sem Phelps, um norte-americano de 20 anos surgiu para igualar um dos grandes feitos do maior medalhista olímpico da histórica: um recorde de sete medalhas de ouro em um só Mundial.

Isso só havia sido alcançado por Phelps em uma ocasião, em Melbourne, em 2007. "As comparações são praticamente inevitáveis", admitiu Dressel. "Eu não sou a mesma pessoa que Michael. Meus objetivos não são contar medalhas. Então, essa é uma questão. Eu não sei se eu curto isso (as comparações), mas sei que elas virão. Eu não acho que elas põem mais pressão em mim", completou.

Dressel foi o grande protagonista do Mundial de Budapeste, deixando em segundo plano a compatriota Katie Ledecky, que ganhou cinco medalhas de ouro e uma de prata e, diferente de Dressel, não bateu recordes. Além disso, há outra outra grande diferença entre os dois: ele é especialista nas provas de velocidade, aquelas que levantam a torcida e aceleram corações; ela vai melhor nas provas mais longas – e entediantes.

Mais do que o número total de medalhas de Dressel – beneficiado por dois ouros nos revezamentos mistos, que não existiam até 2015 -, impressiona a forma como ele nadou em Budapeste. Nos 100m livre, bateu duas vezes o recorde norte-americano: uma no revezamento 4x100m livre (foi o único americano a nadar mais rápido que seu rival brasileiro, no caso Gabriel Santos, garantindo o ouro para os EUA) e outra na final da prova individual.

Depois, ganhou três medalhas em um só dia, sempre com marcas impressionantes (o que já havia feito nas eliminatórias e nas semifinais, também nadando duas vezes quase seguidas). Nos 50m livre, fez o melhor tempo da história sem os trajes tecnológicos. Nos 100m borboleta, ficou a 0s04 de bater o recorde mundial de Michael Phelps, na segunda exibição mais rápida de todos os tempos. Isso cerca de 40 minutos depois do feito nos 50m livre.

Aqui, vale um parenteses. Desde que os trajes tecnológicos foram proibidos, em 2009, nunca ninguém bateu um recorde mundial de Michael Phelps.

Dressel ainda ajudou o revezamento 4x100m medley misto (que será prova olímpica em Tóquio) e o 4x100m livre misto a baterem o recorde mundial. Dono do sexto tempo dos Estados Unidos, poderia facilmente ter nadado as eliminatórias do 4x200m, na qual a equipe americana foi bronze, mas preferiu se poupar. Só não ganhou medalha nos 50m borboleta, terminando em quarto, a 0s04 do bronze, com recorde norte-americano. "Não penso em treinar para essa prova, porque ela não é olímpica", avisou Dressel, questionado sobre a possibilidade de ganhar quatro provas individuais no próximo Mundial.

Apesar de tudo que fez em Budapeste, ele não se vê como a nova cara da natação. "Eu não me coloco neste grupo ainda. Eu ainda estou colocando meu pé na natação internacional. Acho que há outros caras no time dos Estados Unidos que também têm muito talento", afirmou, de forma política.

Dressel de fato não parece se sentir como estrela. Aos 20 anos, ele ainda é um garoto que usa aparelho dentário e fala com a imprensa de forma muito mais natural do que a própria Ledecky, que tem a mesma idade, mas já está brilhando no seu terceiro Mundial seguido. As falas dele não parecem frutos de um programa de treinamento de mídia, como é o caso dela. Pelo contrário: seu canal no Youtube, cujos vídeos não chegam a 2 mil visualizações, mostram um jovem espontâneo e brincalhão.

Estrela precoce – Tivesse nascido no Brasil, Dressel seria conhecido como "novo Cielo". É só ver como a carreira dele é parecida com a Matheus Santana – o "novo Cielo" brasileiro. Os dois têm praticamente a mesma idade e foram quebrando recordes nacionais categoria por categoria. Em 2013, tinham tudo para fazer um desafio de gigantes na final do Mundial Júnior de Dubai, mas Matheus ficou fora da prova por causa da diabete. Dressel ganhou e bateu o recorde mundial da categoria, que dois anos depois seria baixado pelo também brasileiro Pedro Spajari.

Então com 17 anos, Dressel caminhava a passos largos para chegar à seleção adulta dos EUA, mas surpreendentemente resolveu se afastar da natação. Em um momento crucial da carreira, no início do seu último ano no "high school" (ensino médio), Dressel ficou cinco meses sem cair na água. Inicialmente para uma cirurgia para corrigir um desvio de septo, mas depois porque estava cansado das obrigações relacionadas à natação – ele teria inclusive sofrido de depressão.

O retorno foi a tempo de atrair a atenção dos principais programas universitários dos EUA. Mas Dressel fez a escolha mais improvável, seguindo para a Florida, universidade com tradição de não fazer campeões nas provas rápidas. O conselho de Ryan Lochte foi fundamental na escolha, que acabou por fazer bem a Dressel.

Na Florida, Dressel cresceu. Em 2015, já venceu o campeonato norte-americano tanto nos 50m quanto nos 100m livre. No início de 2016, quebrou o recorde mundial dos 50m livre em piscina de jardas, que pertencia a ninguém menos que Cesar Cielo. Mas aquele ainda não seria o ano dele, que foi sexto na final olímpica dos 100m livre e ganhou duas medalhas na Rio-2016, com o revezamento 4x100m livre e nadando as eliminatórias do 4x100m medley.

O início da consagração seria na seletiva norte-americana, onde ganhou três provas – ficou a 0s04 de Nathan Adrian nos 100m livre e foi o único homem da delegação dos EUA a se classificar para nadar quatro provas individuais em Budapeste. Na Hungria, no total, bateu três recordes nacionais e ficou a 0s04 do quarto (que também seria mundial). A próxima meta? Passar na prova de álgebra que ele fará online nesta segunda-feira.

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Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.


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