Relatório aponta mais de 1.400 falhas em apenas quatro arenas olímpicas
Demétrio Vecchioli
21/06/2017 04h00
Viga metálica no Velódromo não foi parafusada
Um relatório assinado por Mário Brasil do Nascimento, coordenador-geral de Implementação de Infraestrutura do Ministério do Esporte, obtido pelo Olhar Olímpico, catalogou mais de 1.400 falhas nas quatro instalações do Parque Olímpico da Barra que estão sob responsabilidade da Autoridade de Governança do Legado Olímpico (AGLO): as Arenas Cariocas 1 e 2, o Velódromo e o Centro Olímpico de Tênis. Por contrato, a Prefeitura do Rio de Janeiro é quem deveria solucionar os problemas, mas até agora nada foi feito, apesar das cobranças do ministro Leonardo Picciani ao prefeito do Rio, Marcelo Crivella.
As arenas pertencem à prefeitura, mas em 23 de dezembro de 2016 elas foram cedidas ao Ministério do Esporte a partir da assinatura de um Termo de Cessão de Uso. O contrato estabelece que cabe à prefeitura responder pelos "vícios" (problemas) anteriores à cessão e que o Ministério do Esporte teria 90 dias para apresentar "análise detalhada de eventuais vícios a serem reparados".
A vistoria foi realizada entre 7 e 10 de fevereiro, por sete engenheiros e dois arquitetos, que apontaram que o Velódromo, obra de R$ 188 milhões que ainda não completou um ano de inauguração é a instalação que mais apresenta problemas. Lá foram identificadas: "Anomalias ligadas às infiltrações generalizadas, com destaque para a eflorescência de água no subsolo; obras de estrutura de concreto inacabadas; instalações elétricas com risco à segurança; corrosão em peças metálicas; desnível no piso da edificação e materiais perfurocortantes aparentes com risco de acidentes, caimento irregular do piso resultando em acúmulo de água junto às paredes; e tanque de combustível (óleo diesel) inadequadamente posicionado e corrosão em elementos metálicos".
O relatório do Centro Olímpico de Tênis aponta "fiação exposta, eletrocalhas junto ao chão, exposição inadequada de fios; detector de incêndio inadequado; problemas de infiltração; pisos danificados; desnível de pisos; corrosão de peças metálicas; e portas danificadas".
Na conclusão do relatório, Nascimento alertou que "há necessidade urgente da adoção de medidas corretivas" e recomendou que o laudo fosse encaminhado à prefeitura para apreciação de seu conteúdo e para a formulação de um "Plano de Ataque", que deveria indicar a solução dos problemas em até 30 dias.
A demora em uma resposta da prefeitura fez Picciani cobrar Crivella por meio de ofício. Ali, solicitou que a prefeitura apresentasse até o dia 17 de maio de 2017 um plano de ataque. Passado mais de um mês, nada foi resolvido.
Em nota ao Olhar Olímpico, a Prefeitura do Rio de Janeiro disse que "no momento a Empresa Municipal de Urbanização (RioUrbe) analisa os problemas indicados no relatório" e que "o órgão poderá acionar as construtoras responsáveis para fazer os reparos, uma vez que as arenas olímpicas ainda estão no período de garantia de obra". Já o Ministério do Esporte admitiu que está aguardando a prefeitura responder.
Apesar de todos os problemas, o Centro Olímpico de Tênis já recebeu uma etapa do Circuito Mundial de Vôlei de Praia e um evento amistoso da mesma modalidade, enquanto o Velódromo foi palco de uma competição interestadual de ciclismo de pista. Para usar o Centro de Tênis, a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) instalou guarda-corpos nas arquibancadas e luzes de emergência.
Confira alguns dos problemas da Arena Carioca 2:
Infiltração na parede
"Ausência de acabamento em revestimento 'Dry Wall', focos de oxidação em estrutura metálica, fiação exposta, ausência de pintura em caixa de inspeção", tudo numa só fot.
Estrutura metálica da arquibancada oxidada.
Trincas no chão.
Já na Arena Carioca 1, é possível colocar uma mão no vão entre duas placas de concreto no chão da arquibancada.
Sobre o autor
Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.
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Sobre o blog
Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.