Thiago Braz vai mal e admite relaxamento após ouro: "Meu salto está perdido"
Demétrio Vecchioli
04/06/2017 04h00
(Botterill/Getty Images)
A primeira temporada como campeão olímpico parece ainda não ter começado para Thiago Braz. Neste sábado, o medalhista de ouro no salto com vara nos Jogos Olímpicos do Rio competiu em casa pela primeira vez e decepcionou a torcida ao ficar apenas com o segundo lugar no GP Brasil, em São Bernardo do Campo (SP). Passou o sarrafo a 5,40m, mas depois falhou nas três tentativas a 5,60m, altura que costuma ser brincadeira de criança para o recordista olímpico.
A competição foi a terceira dele na temporada outdoor e até agora ele não mostrou a que veio. Saltou apenas 5,60m em Xangai, na China, e depois zerou na etapa de Eugene (EUA) da Liga Diamante. Em São Bernardo do Campo, perdeu do ex-companheiro Augusto Dutra, que alcançou 5,60m.
"Não é fácil depois da medalha voltar a competir no mesmo nível. A gente está preparado para saltar. Só não está conseguindo por motivos internos", disse, antes de explicar que o "motivo interno" é um relaxamento. "É a sensação de estar tranquilo. Pensar: 'já fiz meu dever que é ganhar medalha na Olimpíada'. O resultado (ouro olímpico) saiu, a gente dá uma relaxada, mas agora tem que reerguer", complementou.
Thiago sabe que esse relaxamento está atrapalhando seus resultados. "Pelo meu potencial, eu deveria estar saltando 5,80m, mas eu estou em um momento não tão legal. Fico um pouco triste com o resultado. Espero que todo mundo entenda. Cada atleta passa por esses momentos. Nós também passamos por momentos ruins das nossas vidas, não podemos ser hipócritas."
Durante a semana, em entrevista coletiva, o superintendente de alto rendimento da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), Antônio Carlos Gomes, disse que conversou com Vitaly Petrov, técnico ucraniano de Thiago, e eles concordaram que não haveria cobrança sobre o saltador nos próximos anos. O campeão olímpico passaria por um trabalho de ganho de força para conseguir carregar uma vara mais alta e, daqui alguns anos, tentar bater o recorde mundial.
Neste sábado, Thiago inicialmente negou esse trabalho de força. Mas, depois, admitiu que seu foco a longo prazo é sim o recorde mundial. Mas, bem antes disso, precisa voltar a saltar minimamente bem. "Agora é buscar meu salto de novo, que está perdido. As pessoas têm que ter um pouco de calma. Vai passar o tempo e a gente vai voltar a saltar normal e aí vamos pensar num resultado bom."
Augusto ressurge – Se Thiago Braz decepcionou, o GP Brasil pelo menos teve um bom resultado no salto com vara. Depois de ir mal na Olimpíada, Augusto Dutra estava sumido. Ele rachou com o técnico Elson Miranda, assim como Thiago já havia feito, e ficou sem clube, sem salário, sem técnico e sem estrutura, uma vez que o marido de Fabiana Murer é ligado à B3 (antiga BM&F), principal clube do país. Há quatro meses, nem varas Augusto tinha.
A CBAt, porém, resolveu apostar em Augusto. Emprestou varas e bancou a ida dele aos Estados Unidos acompanhado de um treinador, João Gabriel, que até o ano passado era competidor, mas que sofreu grave lesão no pé. Neste sábado apareceu o primeiro bom resultado: 5,60m. o que o coloca no 21.º lugar no ranking mundial. No Troféu Brasil, daqui a uma semana, a meta será passar 5,70m e alcançar o índice para o Campeonato Mundial.
Sobre o autor
Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.
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Sobre o blog
Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.