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Olhar Olímpico

Esporte deve sair do Ministério da Cidadania, mas não sabe para onde

Demétrio Vecchioli

16/11/2019 04h00

Jair Bolsonaro (PSL) recebe atletas medalhistas dos Jogos Pan-Americanos (Alan Santos/PR)

Depois da Secretaria Especial da Cultura ser transferida para o Ministério do Turismo, a cúpula da Secretaria Especial do Esporte já dá como muito provável que a pasta também seja transferida. A dúvida é para onde. Os ministérios da Educação, da Casa Civil e do Turismo aparecem como mais bem cotados. Com isso, chegaria ao fim o Ministério da Cidadania como ele foi desenhado.

Trata-se de um complexo jogo de tabuleiro, sobre o qual incidem a influência de diversos grupos políticos que transitam em torno da cúpula do Executivo em Brasilia e, principalmente, a imprevisível estratégia do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que recentemente nomeou Roberto Alvim como secretário de Cultura, no Ministério do Turismo, depois que esse ganhou notoriedade por ofender a atriz Fernanda Montenegro.

A montagem do Ministério da Cidadania, no fim do ano passado, para começar a valer com a chegada de Bolsonaro ao poder, já não seguia muita lógica. Debaixo do guarda-chuva do novo ministério ficaram as atribuições que antes eram dos ministérios do Esporte, da Cultura e do Desenvolvimento Social, que não têm muitas intersecções. E, para comandar a nova pasta, a escolha foi pelo deputado federal gaúcho Osmar Terra (MDB), médico, com pouca familiaridade com as áreas.

No esporte, é praticamente consenso que a decisão deu errado. Primeiro porque não coube a Terra, e a sim aos militares, apontar o secretário especial de Esporte. O general Marco Aurélio Vieira foi o escolhido e saiu três meses depois reclamando da má-vontade de Terra em nomear seus indicados. Acabou substituído por outro general, Décio Brasil, que pegou uma equipe já escalada.

Há mais de seis meses no cargo, porém, não conseguiu emplacar nenhum projeto. A Autoridade de Governança do Legado Olímpico (AGLO) acabou no início de julho, não foi renovada, e o plano apresentado pela Secretaria Especial do Esporte para dar uma solução ao cada vez mais popular "largado olímpico" está engavetado desde então. Para piorar, o orçamento para o ano que vem destina muito pouco dinheiro para atividades e integrantes do alto escalão sabem que o trabalho será, cada vez mais parecido com o de um coveiro.

Osmar Terra, que não reclamou de ver a Secretaria de Cultura ir embora, também não faria qualquer objeção a "perder" o Esporte, na visão de diversas fontes do Olhar Olímpico. Há tempos especula-se que ele quer ser ministro da Saúde, atualmente sob o comando de Luiz Henrique Mandetta (DEM). Tirar o enorme orçamento da Saúde das mãos do DEM e passar ao MDB, porém, pode causar impacto expressivo na já abalada relação de Bolsonaro com o Congresso.

Enquanto isso, o Esporte já teria sido oferecido ao Ministério da Educação. Na semana passada, a revista Crusoé noticiou que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, já deixou claro ao governo que não quer o Esporte sob seu guarda-chuva.16

Na Câmara dos Deputados e entre figuras importantes da política esportiva duas outras alternativas são especuladas. A primeira seria fazer do Ministério do Turismo a sala da frutas que era a Cidadania, unindo ali o Esporte e a Cultura. A segunda seria levar o Esporte para a Casa Civil, onde o antigo ministério, hoje secretaria, ganharia contornos de agência reguladora. Essa opção, porém, demandaria uma complexa discussão no Congresso, onde as pautas do esporte costumam aparecer no fim da agenda política.

Dentro da Secretaria Especial do Esporte, boa parte do alto escalão vê a possível saída do Ministério da Cidadania como uma luz no fim do túnel, tamanho o descontentamento com a falta de espaço para desenvolver um trabalho. Depois de quase um ano, a pasta ainda não tem trabalho para mostrar. Seu maior feito foi fazer o Bolsa Atleta voltar ao mesmo nível de 2017, e só. Mesmo na bem sucedida campanha do Brasil no Pan a influência do governo foi tão pouca que nenhum representante da secretaria esteve presente em Lima a partir do segundo dia de competições.

Os militares, que têm influência nas questões ligadas ao esporte, também estão descontentes com Terra, que não liberou cerca de R$ 20 milhões, relativos ao antigo Ministério do Desenvolvimento Social, necessários para manter de pé o programa Forças no Esporte. Os quartéis tão tendo que usar dinheiro próprio para comprar alimentação para os jovens carentes atendidos e, onde isso não é possível, o programa parou. A Secretaria Especial do Esporte, que paga técnicos e material esportivo, cumpriu com a parte dela e vê a situação de braços atados.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.