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Olhar Olímpico

Confederações de skate e patinação precisam virar uma só até Tóquio

Demétrio Vecchioli

28/09/2019 04h00

Mundial de Skate em São Paulo (divulgação/World Skate)


Aconteceu há menos de três anos: sem reconhecer a Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação (CBHP) como sendo a responsável por gerir o skate no Brasil, os principais skatistas brasileiros ameaçavam boicotar os Jogos Olímpicos de Tóquio. A polêmica durou alguns meses e foi resolvida com o Comitê Olímpico do Brasil (COB) chancelando a Confederação Brasileira de Skate (CBSk). A novela parecia chegado ao fim.

Em julho, porém, ela foi retomada pela World Skate, entidade internacional que tem a chancela do Comitê Olímpico Internacional para reger as modalidades sobre rodinhas, sejam elas de patins (nove, no total), de skate (uma, dividida em diversas provas, das quais duas são olímpicas) ou até de patinete (scooter, em inglês).

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Em assembleia geral realizada em Barcelona, a World Skate primeiro aceitou a inclusão de uma série de novas federações nacionais, inclusive CBSk. No item seguinte da pauta, colocou em votação e aprovou a exigência de que cada país possa ter apenas uma federação associada, instituindo prazo até a Olimpíada de Tóquio, em agosto, para que uma solução seja encontrada individualmente por Brasil, EUA, Canadá, Holanda, Rússia e mais três países. No Canadá a situação é ainda pior porque lá são três federações, para skate, patinação e hóquei sobre patins (o que não inclui hóquei sobre a grama ou sobre o gelo).

Criada em 2017 como fusão da FIRS (hóquei e patinação) e da ISF (uma das duas federações internacionais de skate), a World Skate incluiu agora em seu estatuto que "em países onde mais de uma federação tenha sido reconhecida pela World Skate, as diferentes entidades farão todos os esforços necessários para estabelecer um único órgão de governo", ressaltando que "a entidade resultante também pode configurar-se como organização representativa abarcando entidades separadas". 

O esporte tem diversos casos assim. Nos Estados Unidos, por exemplo, a United States Aquatic Sports (USAS) tem caráter quase figurativo, representando os EUA perante à federação internacional (Fina). Mas cada modalidade aquática tem sua própria confederação, como a USA Swimming e USA Water Polo, que as representam perante ao comitê olímpico norte-americano. No Brasil, a CBSk é filiada ao COB, enquanto a CBHP é apenas "vinculada", porque a patinação faz parte dos Jogos Pan-Americanos.

Este modelo, porém, só funciona se os interessados sentarem à mesa e chegarem a um meio-termo. E é esse o problema enfrentado no Brasil, onde ainda não foram fechadas as feridas abertas em 2017, quando a CBHP chegou a ser reconhecida pelo COB como confederação de skate e depois perdeu tal reconhecimento.

Moacyr Neuenschwander Junior, que é candidato ao quinto mandato como presidente da CBHP, diz que a decisão da World Skate não agrada a ninguém no Brasil, mas que não há mais o que fazer a não ser conversar. "É irreversível. Tudo que antes aconteceu lá atrás tem que ser página virada. Falei para o Duda (Eduardo Musa) que já que é irreversível a gente tem que sentar e compor. O skate tem sua vida própria, a gente já sabe, tem que tocar em separado", diz Moacyr.

O Olhar Olímpico procurou Eduardo Musa, presidente da CBSk, que não topou dar entrevistas e respondeu a todas as perguntas enviadas pela reportagem com a seguinte frase: "A CBSk está tratando a questão diretamente com a World Skate e tem certeza que a melhor solução será encontrada". Na resposta, deixou de incluir a outra parte diretamente interessada, a CBHP.

O problema depende de rápida solução, que não é fácil. Ainda que seja adotado modelo semelhante aos esportes aquáticos norte-americanos, uma nova confederação "guarda-chuva" teria que ser criada. E naturalmente tanto os representantes do skate quanto os da patinação teriam interesse na presidência. A CBHP defende que as modalidades "urbanas" sobre patins, semelhantes às olímpicas do skate, fiquem sob a responsabilidade da CBSk, mais acostumada a lidar com os radicais.

Presidente da World Skate, o italiano Sabatino Aracu passou as últimas duas semanas no Brasil, por conta dos dois Mundiais de Skate realizados em São Paulo. Encontrou-se tanto com Moacyr quanto com Duda para discutir um modelo, mas até agora não há nem sinal de acordo. Aracu, que é ligado à patinação, teria sido um dos responsáveis por pressionar a CBSk a deixar de ser comandada por Bob Burnquist, que vinha ligando sua imagem cada vez mais à pauta da liberação da maconha para fins medicinais. 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.