Sem futebol, Lusa discute antecipar eleições e afastar presidente
Vinte e cinco jogos, sete vitórias, sete empates e onze derrotas depois, a temporada da Portuguesa já acabou. O tradicional clube rubro-verde escapou por pouco do rebaixamento para a terceira divisão estadual e terminou em último lugar do seu grupo na desinteressante Copa Paulista. Eliminado ainda em agosto, o time só volta a jogar no começo do ano que vem, que deveria ser de festa – afinal, 2020 é o aguardado ano do centenário da Lusa.
Sem futebol, o clube do Canindé vive (nenhuma novidade) uma intensa crise política. O ex-radialista Alexandre Barros se segura como pode no cargo de presidente, apesar de não ter apoio do Conselho Deliberativo e de nunca ter apresentado prestações de contas ao Conselho Fiscal. Esta semana ele conseguiu evitar a antecipação das eleições, mas ganhou, em troca, uma denúncia no Conselho de Ética.
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As eleições foram marcadas para o limite do que prevê o estatuto do clube: 15 de dezembro. Um novo mandatário só assumiria nas vésperas do Natal, precisando montar do zero um elenco para a temporada 2020. Como 2019 acabou em agosto, o mais inteligente seria antecipar as eleições e começar a trabalhar mais cedo.
"Eu particularmente era favorável à antecipação da eleição, mas a gente não pode rasgar o estatuto. O estatuto é claro e objetivo. Qualquer mudança estatutária precisa ter 50% + 1 dos conselheiros em uma reunião extraordinária convocada por no mínimo 120 dias de antecedência a partir da data da eleição. A eleição é na primeira quinzena de dezembro, então não há mais essa possibilidade", disse Barros, ao Olhar Olímpico.
Novo presidente do Conselho Deliberativo, órgão que ficou praticamente ocioso até agosto, João Bento vê jogo de cena do adversário político. "Houve uma reunião dos quatro poderes da Portuguesa e nessa reunião ficou acertado que quem deveria marcar a eleição para presidente da diretoria era o Conselho Deliberativo. Então fizemos uma convocação para que isso acontecesse. Marcamos uma reunião dia 16 de setembro para que conselho decidisse se era vontade do conselheiro e do torcedor antecipar eleições. Mas o presidente da diretoria e o da assembleia geral, que eram a favor, foram contra", relata.
O estatuto prevê uma eleição pode ser convocada por 1/5 dos conselheiros, o que significa 73 pessoas. João Bento está atrás dessas assinaturas e, para acelerar o processo, resolveu seguir o que também manda o estatuto e destituir conselheiros que faltaram a três ou mais reuniões seguidas. Seriam 227, contando também os vitalícios, que recebem suspensão de seis meses.
Barros então mandou ofício mandando o conselho revogar de imediato a decisão. De acordo com Bento, o presidente da Lusa alegou que estava com documentação que mostrava que os conselheiros haviam justificado suas faltas. "Revogamos a decisão, mas pedimos que ele entregasse imediatamente essa documentação. Ele não entregou, muito provavelmente porque é mentira. Com isso estamos denunciando ele no Conselho de Ética, pedindo o afastamento imediato. Ele não pode pegar documento do clube e ficar em posse dele. Muito menos documento do conselho deliberativo", argumenta.
Eleito com 85% dos votos dos conselheiros no final de 2016, para ser o terceiro presidente da Lusa só naquele ano, Barros faz uma gestão bastante contestada. Com ele na presidência, as piscinas foram aterradas e deram lugar a um galpão onde deveria funcionar a Feirinha da Madrugada. O Canindé, que sempre foi utilizado para shows e eventos festivos, como a popular Festa Junina, passou a ser um dos "points" noturnos da cidade, com festas de música eletrônica, especialmente.
"Esse cara é um problema para a Portuguesa. O clube hoje não tem churrasqueira, não tem campo, não tem piscina, não tem nada. Ele trata a Portuguesa de forma a afastar o associado do clube para que vire um clube de festas", critica Bento. No ano passado, o UOL Esporte contou como um clássico contra o Juventus e uma festa rave conviveram num domingo de manhã.
Barros se defende e diz que a culpa da situação vivida pela Portuguesa não é só dele. "As pessoas da Portuguesa estão mais chateadas com toda a situação, que não é de hoje, não é só da minha gestão. Acho que a maioria dos homens políticos da Portuguesa são responsáveis. A situação da Port não é de hoje, vem de muitos anos. Os processos trabalhistas vêm de 2001, 2002, 2003. A gente está tentando acertar o piso para a Portuguesa começar a subir novamente", alega. Nas contas dele, que soam otimistas, a atual dívida da Lusa é de R$ 350 milhões. O Canindé vira e mexe vai a leilão (foi assim de novo esta semana), mas ninguém se arrisca a comprar metade do estádio – a outra metade é da prefeitura.
Paralelamente a isso tudo, a Portuguesa entra no noticiário policial. No fim de semana passado, um evento de som automotivo terminou em pancadaria no clube e as imagens das brigas se espalharam pelas redes sociais. O clube se posicionou dizendo que a responsabilidade era da empresa que alugou o espaço.
"Para nossa surpresa, há um movimento que chamam de 'fluxo', e que as pessoas combinam e vão para determinado lugar, e houve uma grande aglomeração de pessoas na porta do evento. Os portões foram fechados, mas as pessoas na rua passaram a invadir o local, quebrando portões do clube e até o muro desta associação. A Polícia foi chamada ao local algumas vezes para conter as invasões que se deram em portões que sequer eram da área locada", contou o clube, em nota.
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