Natação tem disputa por sucessão de presidente em vias de ser deposto
Miguel Cagnoni não tem mais apoio político para se manter na presidência da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). Eleito em 2017, ele deve ficar na cadeira de presidente só enquanto dois grupos políticos medem forças para definir quem vai sucedê-lo. O deputado estadual paraibano Ricardo Barbosa (PSB), ligado aos antigos aliados de Coaracy Nunes, defende novas eleições e tem o apoio silencioso do próprio Miguel, contra quem concorreu na eleição passado. Os últimos a pularem fora do barco de Miguel querem que seu vice, Luis Coelho, assuma e faça uma devassa nas contas do atual mandatário e antigo aliado.
Quem chegar ao poder será o quarto presidente da CBDA em dois anos e meio. Coaracy foi afastado pela Justiça em março de 2017, depois de a eleição para sucedê-lo ser adiada. O interventor Gustavo Licks assumiu e entregou o cargo para Cagnoni, eleito em junho de 2017 em votação não reconhecida pela federação internacional. Um novo pleito foi realizado em fevereiro de 2018 e ele ganhou de novo, em mandato válido até o início de 2021.
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Mas Miguel vai sair bem antes disso. A dúvida é como. Celso Oliveira, presidente de federação do Rio de Janeiro e um de seus mais firmes aliados até meses atrás, diz ter o apoio majoritário de 15 federações estaduais para a convocação de uma Assembleia Geral Extraordinária na última semana de setembro. Ali, seriam dadas duas opções a Miguel: renunciar ou ser deposto.
"Se ele não pedir para sair aí eu acredito que ele tem que sair. Aí não tem outro jeito. Nós queremos a prestação de contas de 2019 e a descontinuidade do mandato", explicou o cartola carioca ao Olhar Olímpico. Dentro dessa opção, Luis Coelho assumiria e iria a fundo para descobrir como que Miguel conseguiu deixar a confederação em situação financeira e administrativa muito pior do que a herdada de Coaracy. Pelo estatuto, o vice assume se a presidência ficar vaga a mais de um ano do fim do mandato, o que é o caso agora.
Representante do antigo grupo de Coaracy Nunes e derrotado por Miguel na eleição passada, Ricardo Barbosa defende a realização de novas eleições, ainda que evite falar publicamente que seria candidato. "Disputar eleição não é prioridade, pode ser uma contingência a ser discutida quando oportuno for", disse ao blog, via assessoria, ressaltando que não haveria incompatibilidade, ao seu ver, com o mandato de deputado estadual.
Barbosa, que é o líder do governo na Assembleia Legislativa da Paraíba, curiosamente tem o apoio de Miguel pela realização de novas eleições. Comenta-se nos bastidores que existe um acordo entre os dois para o presidente deixar o cargo e seu sucessor não ir a fundo nas investigações sobre fraudes.
Sai não sai
Partiu de Celso Oliveira a inciativa de convocar uma reunião no começo do mês para colocar Miguel contra a parede pela primeira vez. No encontro, em São Paulo, o presidente foi avisado que, a partir dali, quem mandava era um "Comitê de Gerenciamento de Crise". Miguel continuaria como presidente enquanto se defender de uma série de acusações de desvios, mas as ordens seriam dadas pelos presidentes de federações.
Só que Miguel não cumpriu o acordo. "No dia seguinte ele começou a não cumprir com o combinado. Soltou uma nota de que o comitê era de 'orientação'. Mas posição de orientar já passou faz tempo. A gente queria posição de mandar, determinar, decidir as coisas. Mas ele não quis seguir assim. Eu sentei aqui para dizer que você (Miguel) não manda mais, mas você insiste em ficar aí mandando?", esbraveja Oliveira. Na nota divulgada à imprensa, a CBDA informou que a reunião "teve o objetivo de manifestação de apoio irrestrito à gestão".
Ao decidir continuar mandando no que resta da CBDA, Miguel perdeu o apoio das federações. E, ao manter sob sigilo dados relativos à sua relação com a ex-diretora-executiva Ana Paula Alves, perdeu o último apoio que lhe restava. Depois de o Olhar Olímpico mostrar que a confederação comprou passagens para uma viagem pessoal de Miguel a Ana Paula a Buenos Aires, o diretor Eduardo Fischer, uma espécie de representante dos atletas na confederação, pela primeira vez se afastou do presidente que ajudou a eleger e a quem vinha defendendo com unhas e dentes.
"Gostaria apenas de esclarecer que minha função na CBDA é eminentemente técnica. Não tenho gerência na gestão da entidade, e continuo prestando meus serviços e conhecimentos de maneira não remunerada à pedido dos atletas, a quem prometi fazer o melhor para os esportes aquáticos", escreveu no Twitter, horas depois da reportagem do blog.
Um dia antes, na segunda-feira (19), Barbosa enviou ofício aos Correios pedindo uma audiência com o presidente da estatal, general Floriano Peixoto. Assinando como coordenador do Comitê de Crise, o deputado em nenhum momento cita Cagnoni e diz que esteve reunido com o presidente do COB, Paulo Wanderley, em busca de alternativas às sansões impostas pelo comitê.
Também neste mês, o Conselho de Ética do COB emitiu uma "advertência pública" contra a CBDA por conta da falta de transparência e das supostas irregularidades da gestão de Miguel e de Ana Paula. No documento, o conselho recomenda a realização de novas eleições.
Por enquanto, porém, isso não pode acontecer. É que a CBDA ainda não registrou em cartório o novo estatuto da entidade, aprovado em março, que inclui o direito de voto dos atletas. Assim, se uma nova eleição for convocada, ela não teria a participação dos atletas, o que a tornaria inválida para efeitos de Lei Pelé, o que proibiria a CBDA de receber recursos públicos.
De qualquer forma, com uma dívida de R$ 8 milhões com o COB – dos quais R$ 1,6 milhão devidos à gestão Miguel Cagnoni -, a CBDA já não recebe recursos da Lei Agnelo/Piva. Por desvio de recursos que deveriam ser aplicados em performance esportiva, a confederação recebeu uma multa de R$ 2 milhões dos Correios, que não renovou contrato de patrocínio.
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