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Bolsonaro assina novo contrato com CPB, mas Caixa não paga anterior

Demétrio Vecchioli

19/06/2019 12h00

O presidente Jair Bolsonaro, o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Mizael Conrado, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, e o governador João Doria, assinam termo de compromisso entre a Caixa e o Comitê Paralímpico Brasileiro.

Em concorrida cerimônia na manhã desta terça-feira (19), que contou com a presença do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e da primeira dama Michele, a Caixa Econômica Federal anunciou a assinatura de um novo contrato que dará R$ 2,5 milhões ao Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB). O banco estatal, que é patrocinador esportivo do CPB há mais de uma década, porém, deve cerca de R$ 5 milhões ao comitê.

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Este novo contrato, com duração de quatro anos (um total de R$ 10 milhões) é um termo de compromisso para a realização de inclusão social de pessoas com deficiência por meio de atividades esportivas, culturais e educativas. Pelo acordo, o Centro de Treinamento do CPB, que pertence ao governo do Estado de São Paulo e está concedido ao comitê, passa a ser chama "Centro Paraolímpico Caixa". O governador João Doria participou do evento.

"Motivo de orgulho para nós a Caixa de fato mais do que cumprir a lei está tendo a satisfação de atender em grande parte as pessoas com deficiência. Agradeço ao Pedro Guimarães, presidente da Caixa, que além da sua capacidade é uma pessoa que tem o coração maior do que o peito e mergulhou nessa questão de corpo e alma", comentou Bolsonaro.

Em contrapartida, o CPB vai promover a iniciação esportiva de 550 crianças ao ano, todas alunas das rede públicas municipal e estadual de ensino. Elas praticarão oito modalidades: atletismo, natação, judô, futebol de 5, vôlei sentado, bocha, goalball e tênis de mesa. O projeto já existe, com o CPB se oferecendo para buscar e levar crianças com deficiência em escolas da cidade de São Paulo e em municípios próximos.

Inclusive, o projeto é pago com recursos da própria Caixa, que assinou em 2016 um contrato de R$ 90 milhões com o CPB até o final de 2020. Os valores anuais crescem ano a ano e, em 2019, o banco estatal deve pagar R$ 2,5 milhões ao comitê, divididos em 12 parcelas mensais.

O problema é que essas parcelas estão atrasadas. Depois que Jair Bolsonaro assumiu a presidência da República, a Caixa cortou os patrocínios aos clubes de futebol, pagando a última parcela dos antigos contratos só no último dia possível, e atrasou os pagamentos às outras entidades esportivas com as quais mantém contrato. De acordo com fontes do Olhar Olímpico, isso nunca havia acontecido.

O CPB só recebeu os meses de janeiro, fevereiro e março em maio. Ainda estão pendentes os pagamentos referentes a abril e maio. A próxima parcela vence no fim deste mês. Sempre que procurada a falar sobre esse assunto, a Caixa alega que o andamento do contrato é uma discussão entre o banco e seus patrocinados.

Mas, nesta quarta, o banco fez uma grande festa para anunciar um contrato que é o menor de sua carteira de patrocínios esportivos – que também incluiu NBB, Liga de Basquete Feminino e as confederações de ginástica e atletismo. Havia mil cadeiras em um auditório montado no espaço onde costumam ficar diversas quadras. Todas foram ocupadas, assim como as arquibancadas. Na enorme fila de credenciamento, a maioria das pessoas portava crachá de funcionário da Caixa.

"Existe um esporte paraolímpico antes da Caixa e depois da Caixa. O Brasil avançou da 24ª colocação em 2000, em Sydney, para o oitavo lugar na Rio-2016 e a Caixa teve papel decisivo. O que celebramos hoje nos permite entrar na agenda social da Caixa, na agenda do banco da inclusão do Brasil", discursou o presidente do CPB, Mizael Conrado, festejando também um acordo com o governo do Estado para que os professores de educação física da rede estadual recebam treinamento do CPB.

Presidente da Caixa, Pedro Guimarães, que é ex-nadador, chorou bastante em seu discurso, ilustrado no telão por imagens dele ao lado de atletas com deficiência. "Vamos fazer outro vídeo com a realidade que nós vimos no Brasil inteiro. Eu vi cadeiras de rodas que cortavam a perna das pessoas. No ano passado a Caixa gastava mais de um bilhão em patrocínio e publicidade. O que vamos fazer é o patrocínio no Brasil inteiro, no interior do Brasil", disse. No discurso, o presidente da Caixa citou que o pai tinha Aids, morreu jovem, e que ele não sabe se o pai era ou não homossexual. 

"O investimento que vocês estão fazendo aqui é um investimento para o Brasil. Quero voltar a reafirmar a nossa disposição de apoiar todas as suas iniciativas do seu governo que forem boas para o Brasil. Tudo que seu governo fizer de bom, nós estaremos apoiando", comentou Doria.

Flexões

Uma cena inusitada abriu a agenda. Antes de participar da cerimônia, Bolsonaro se encontrou com atletas, mas não paraolímpicos. Quem estava esperando pelo presidente era a equipe da escola de educação física da Polícia Militar, que treina no CT de vez em quando. A pedido da equipe de segurança da Presidência da República, todos os treinos de atletas paraolímpicos foram suspensos na terça (18) e nesta quarta.

No campo de atletismo, Bolsonaro se juntou aos policiais militares e, como já fez diversas vezes, foi ao chão para simular o movimento de flexões. Desta vez, porém, recebeu a inusitada companhia do governador João Doria, que, em forma, realizou as flexões corretamente – diferente do presidente.

Bolsonaro e Doria fazem flexões em inauguração do CT paraolímpico

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Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.