Prefeitura do Rio licitou autódromo antes de estudar custo de obras viárias
O modelo de Parceira Público Privada (PPP) escolhido pela prefeitura do Rio para a construção de um autódromo em Deodoro joga para o concessionário toda a responsabilidade pelas obras e pela gestão do equipamento. Mas cabe ao governo municipal realizar uma série de intervenções viárias, como construção de um grande terminal de ônibus e trem, viadutos e passarelas, além do alargamento de uma rodovia. O governo de Marcelo Crivella (PRB), que bate na tecla de que não terá custos com o autódromo, não tem estudos que apontem quanto essas obras vão custar, nem se ficariam prontas antes de um eventual GP de Fórmula 1 em 2021.
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O edital da PPP inclui uma série de estudos apresentados à prefeitura pela Crown Assessoria e Consultoria Empresarial S.A., única participante do Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) aberto ainda em 2017. No PMI, a prefeitura questiona o mercado sobre ideias de modelagem para a concessão. Empresas realizam estudos, o governo escolhe um vencedor, e utiliza esse estudo como base do edital. Quem ganha a concessão paga por ele.
No caso da PPP do autódromo, Crown foi a única a apresentar um estudo, avaliado em R$ 7,1 milhões. Depois, o edital teve só um interessado, o Consórcio Rio Motorsports, associado daquela consultoria.
Só o estudo de transporte e mobilidade custou R$ 400 mil. Em 35 páginas, anexadas ao edital, a Crown avalia que "a grande maioria" dos espectadores deve ir ao autódromo em eventos como uma etapa de Fórmula 1 por meios de transporte de alta capacidade, como o BRT e a Supervia.
Para isso, porém, seria "fundamental" a construção de Terminal Rodoferroviário em Deodoro com 9 mil metros quadrados de área construída. Sempre de acordo com o estudo, com o término da implantação do BRT Transbrasil, a previsão é que em Deodoro circulem "enormes volumes de usuários".
"O projeto e o modelo de operação do futuro Terminal Deodoro deverão levar em consideração que, durante a realização dos eventos programados para o Autódromo de Deodoro, ocorrerá grande concentração de pessoas nas operações de chegada e partida dos espectadores. Essa situação representa a condição mais crítica em termos de operação de sistemas de transporte de alta capacidade, uma vez que, para esses sistemas, os principais gargalos operacionais ocorrem em estações e terminais", diz o estudo.
O documento afirma também que a construção de passarelas é de "extrema importância", apontando duas delas: uma, longa, ligando o autódromo ao terminal BRT Deodoro e outra, mais curta, ao Parque Radical. "Sem a implantação dessas estruturas, vias teriam que ser bloqueadas, estacionamentos proibidos, eixos de tráfego possivelmente desviados, a fim de evitar a circulação e travessia segura de pedestres, o que impacta demasiadamente a rotina do local."
O Terminal precisa ser conectado às vias do entorno. Por isso, o estudo propõe a construção de alças de acesso direto de uso exclusivo do BRT Transolímpica e do BRT Transbrasil e de um viaduto para ligar este último, no canteiro central da Avenida Brasil, até o terminal.
Como 20% dos espectadores utilizariam veículos próprios, também será necessário construir, de acordo com o estudo, outras quatro alças de acesso da Avenida Brasil para o autódromo. Além disso, a consultoria cita a necessidade de um viaduto de acesso aos estacionamentos internos do autódromo, a partir da Estrada Marechal Alencastro, passando por cima da linha férrea. Por conta da demanda, essa estrada, hoje com duas pistas, teria que ser duplicada em um trecho de cerca de 1 quilômetro.
O Olhar Olímpico enviou quatro perguntas à prefeitura: se ela pretende realizar as obras propostas, se foi feito estudo para determinar se elas de fato são necessárias, quanto elas custariam aos cofres públicos e quando ficariam prontas. A gestão Marcelo Crivella respondeu apenas que "o projeto básico ainda não foi concluído".
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