"Skate é mais perigoso às crianças do que atirar", diz dirigente do tiro
Editado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), o decreto que amplia o acesso a armas de fogo também flexibilizou o acesso de menores de idade a clubes de tiro. Se até então os menores de 18 anos precisavam de autorização judicial para frequentarem as aulas, a partir de agora a prática de tiro esportivo por esses menores passa a precisar apenas ser autorizada por um dos seus responsáveis legais.
Presidente interino da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo (CBTE), Jodson Edington não vê risco à segurança das crianças e adolescentes com as novas medidas. De acordo com ele, o tiro é um esporte seguro, diferente de outras modalidades que não impõem qualquer restrição à sua prática por menores.
"O kart tem muito mais acidentes. Um kart vira, capota. Imagina o que não tem no kart, que não tem o teste psicológico para isso. Até um pequeno skate causa muito mais acidente do que o tiro. Quantas crianças tiveram algum acidente praticando tiro esportivo. Digo em termos de comprovação estatística de acidentes. No tiro não se pega uma arma e se dá na mão de uma criança", alega o dirigente, que reclama que muitas vezes as autorizações judiciais eram difíceis de serem obtidas pela morosidade do Judiciário.
Em entrevista por telefone ao Olhar Olímpico, Edington não soube detalhar a idade dos atletas mais jovens a disputar as modalidades do tiro esportivo sob o chapéu da CBTE – a única responsável pelo tiro "olímpico" no Brasil. Mas disse conhecer casos de atiradores de até 10 anos participando de provas nacionais. Nas provas de carabina de ar, os jovens são mais comuns.
O polêmico decreto de Bolsonaro manteve as exigências de que as aulas aconteçam em local autorizado pelo Comando do Exército. A arma precisa ser do clube ou do responsável, quando este estiver acompanhando o menor. De acordo com Edington, cabe aos pais e aos instrutores identificarem com que idade os jovens têm condições físicas e psicológicas de iniciar em cada arma.
"Normalmente essas crianças que praticam tiro esportivo são de pais que já são policiais, ou militares, ou praticantes de tiro esportivo. Meu pai por exemplo nunca deu uma arma. Eu fui começar a atirar aos 19 anos. Já meus filhos praticam desde cedo. É raro no nosso meio pais que são irresponsáveis. Na hora que isso acontecer, ele vai ter que pagar por isso. Se ele tiver um comportamento inadequado, ele vai ser colocado para fora do clube, vai ter o registro cassado", argumenta o cartola.
Arma carregada
Outra demanda antiga do tiro esportivo que foi abrangida pelo decreto de Bolsonaro é a autorização para que os caçadores, atiradores esportivos, colecionadores (CACs) possam estar com suas armas municiadas enquanto se deslocam de casa para o estande de tiro, ou vice-versa.
"Essa é uma solicitação que vem de décadas, que já estava prevista no Estatuto do Desarmamento, mas que nunca foi regulamentada pelo Exército, como determinava o Estatuto. No ano passado o Exército até fez uma portaria nesse sentido, mas agora o decreto tem maior peso", explica o presidente da CBTE.
Pelo decreto de Bolsonaro, os atiradores esportivos poderão transportar uma arma municiada no trajeto entre a casa e o estande. "O objetivo é proteger o equipamento", diz Edington. A ideia é que o atirador é um alvo potencial de assaltos e que fica desprotegido por não estar efetivamente armado. "Algumas armas custam R$ 80 mil", alega ele. A arma carregada, porém, precisa ser de cano curto: revólver ou pistola.
Dados do Instituto Sou da Paz junto ao Exército mostram que, no fim do ano passado, havia cerca de 255 mil registros CAC's ativos. Desses, 133 mil eram de atiradores esportivos. A CBTE tem cerca de 5 mil atletas associados.
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