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Olhar Olímpico

Correios dá chá de cadeira e Maria Lenk expõe crise financeira na natação

Demétrio Vecchioli

16/04/2019 04h00

Nicholas Santos no Troféu Maria Lenk de 2017 (Satiro Sodré/SSPress/CBDA)

O Troféu Brasil Maria Lenk, principal competição nacional de natação começa nesta terça-feira (16), no Rio, mostrando uma Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) inoperante. Proibida de receber recursos da Lei Piva, por causa de dívidas com o governo federal, a entidade não vai investir recursos próprios no torneio, organizado, na prática, pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB). Enquanto isso, toma um chá de cadeira dos Correios.

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Faz dois meses que o deputado federal Luiz Lima (PSL), nadador, levou a Brasília o presidente da CBDA, Miguel Cagnoni, para um encontro com o presidente dos Correios, o general Juarez Aparecido de Paula Cunha. Depois da reunião, em 13 de fevereiro, os três gravaram vídeo para celebrar a assinatura de um novo acordo de patrocínio – o antigo expirou no fim de 2018.

"Queremos dizer que o Correios continua firme no apoio aos nossos atletas porque para nós é uma satisfação muito grande que brasileiros se dediquem ao esporte", prometeu o general Juarez Cunha na ocasião. Desde então, nenhuma novidade. Sequer os valores foram discutidos.

"O contrato não foi assinado. Existe a promessa de que será assinado. Já voltei a Brasília, falo, pergunto, estamos em contato. As promessas são satisfatórias. Eles alegam que vai ser assinado, repetem que será assinado, é uma resposta constante. Agora se vai ser ou não vai ser? Até agora não foi", explicou Cagnoni, ao Olhar Olímpico. Já a estatal diz a mesma coisa há dois meses: "A renovação do contrato de patrocínio ainda está em análise pelos Correios".

Sem o patrocinador, de quem recebia R$ 5,7 milhões ao ano, a CBDA tem apenas uma fonte expressiva de recursos: a parte que lhe cabe no contrato de direitos de transmissão entre a Globo e a Federação Internacional de Natação (Fina). É com essa verba, cerca de R$ 2,8 milhões ao ano, que a CBDA paga suas despesas operacionais.

Inscrita em um cadastro de devedores do governo, por irregularidades em um convênio, a CBDA não pode receber repasses da Lei Agnelo/Piva. Assim, é o COB quem executa diretamente os projetos formulados pela confederação, entre eles o Troféu Brasil.

Seletiva

Pelo terceiro ano consecutivo o Maria Lenk, que voltou a ser chamado "Troféu Brasil", acontece no Parque Aquático Maria Lenk. A competição é seletiva para diversas competições, incluindo o Mundial de Esportes Aquáticos de Gwangju (Coreia do Sul), os Jogos Pan-Americanos de Lima (Peru) e o Mundial Júnior de Budapeste (Hungria). 

O torneio estava inicialmente marcado para acontecer na semana passada, mas acabou adiado para não coincidir com o Sul-Americano Juvenil. Assim, a principal competição da natação brasileira vai ocorrer em meio ao feriado de Páscoa. Inclusive com provas importantes, como os 50m livre, marcadas para acontecer na tarde do domingo de Páscoa.

Apesar disso e ainda que o torneio não tenha transmissão na TV, apenas no canal de streaming da CBDA, o Troféu Brasil foi desenhado para ser mais atraente para o público. As "finais B" vão acontecer no fim do dia, depois de todas as finais A, que serão disputadas em ritmo frenético.

Nesta terça-feira, por exemplo, a programação de finais começa às 18h e tem previsão de acabar às 18h36. Neste intervalo serão disputadas cinco provas, incluindo uma de fundo, os 800m para mulheres. Considerando também as finais B, a previsão é que o dia termine às 19h. A previsão é que em nenhum dos seis dias o evento passe das 20h.

Diferente do que acontecia até a Rio-2016, a CBDA agora só aceita índices feitos nas finais e apenas do Maria Lenk. Não adianta mais nadar forte nas eliminatórias e depois nadar para o gasto na final. Isso tem tornado a competição mais atraente.

Para o Mundial, são 24 vagas. Serão convocados quatro integrantes para cada um dos revezamentos masculinos (4x100m livre, 4x200m livre e 4x100m medley), todos com chances reais de medalha. Depois disso, as vagas serão distribuídas aos atletas com melhor posição no ranking da Fina, sem cota por gênero. Para o Pan também vale o ranking da Fina, mas com garantia de que serão 18 homens e 18 mulheres, com limite de dois atletas por prova.

Vale ficar de olho

É muito provável que o time que vai ao Mundial seja formado, em sua maioria, por atletas de menos de 24 anos. Essa geração já fez bonito no Mundial de Piscina Curta do fim do ano passado, inclusive batendo o recorde mundial do revezamento 4x200m, e a expectativa é que haja uma evolução ainda maior em 2019.

Uma das provas mais aguardadas já acontece nesta terça-feira: a final dos 200m livre, com Fernando Scheffer, Luiz Altamir e Breno Correia, todos candidatos a grande nome da competição antes mesmo de ela começar. Terão a concorrência de Vinicius Lanza, que vai buscar quatro medalhas: 50m, 100m e 200m borboleta e 200m medley, e Pedro Spajari, promessa para os 50m e 100m livre.

A competição também marca o retorno de Bruno Fratus, que passou boa parte da temporada passada machucado e vai buscar uma vaga também no 4x100m livre. Não terá a concorrência de Cesar Cielo, que está sem clube e não se inscreveu.

 

 

 

 

 

 

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.