Estudante da Medicina USP vence atleta olímpica e cogita voltar ao esporte

Letícia Nakada treina na USP e cogita tentar ir a Tóquio.
É recorrente nas análises sobre os gargalos do esporte brasileiro a dificuldade de se aliar prática esportiva em alto-rendimento com o estudo universitário, como acontece principalmente nos Estados Unidos. Letícia Nakada é exemplo dessa barreira e das dificuldades de superá-la. No último final de semana, a estudante de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) venceu a Copa Brasil Sul-Sudeste Tênis de Mesa, passando entre outras, pela duas vezes atleta olímpica Caroline Kumahara.
A conquista veio graças à mesma rotina de treinos de qualquer outra atleta da equipe de tênis de mesa de uma das mais tradicionais escolas de medicina do país. Letícia, de 20 anos, treina apenas duas vezes por semana, na própria faculdade. Com um campus vizinho ao Hospital das Clínicas, a Medicina USP tem seu próprio clube esportivo, que entrou para a história pela morte de um calouro em 1999, afogado. Toda estrutura passa longe do básico para atender uma atleta de alto rendimento.
Naturalmente, não foi por causa do tênis de mesa que Letícia escolheu a USP. Foram dois anos de cursinho até ser aprovada em um dos vestibulares mais concorridos do país. A dedicação pelo sonho de ser médica a obrigou a abandonar uma até então promissora carreira no esporte.
"Em 2016, eu decidi fazer cursinho e, como ia disputar o Sul-Americano, tentei conciliar os treinos. Saía do cursinho de manhã e ia treinar à tarde. Em julho, ainda continuei treinando firme para o Campeonato Pan-Americano. Como eu não passei em nenhuma faculdade, resolvi parar total de jogar e me dedicar a estudar", conta.
Naquele momento, Letícia já havia perdido a última esperança de estar na Rio-2016. Inicialmente uma das seis cotadas para formar a seleção brasileira que competiria em casa, viu Gui Lin e Caroline Kumahara garantirem vagas individuais e, depois, Bruna Takahashi, aos 16, não deixar dúvidas de que merecia ficar com o posto restante. "Não foi só por isso, mas ficar fora me fez ter certeza da decisão. Além disso, eu também gostava bastante de estudar."
Veio o cursinho, a aprovação na USP, e reencontro com o tênis de mesa. Mas só para disputar torneios universitários. No ano passado, por exemplo, o principal torneio disputado por Letícia foi o Intermed, o festivo campeonato entre faculdades de medicina de São Paulo. Sequer disputou competições do sistema oficial universitário.
"A maioria do pessoal começou a treinar aqui, é mais iniciante. Eu continuei como hobby. No começo do ano, tive tendinite e bursite e dei uma parada nos treinos. Treinei só três semanas antes do campeonato. Nem imaginava que pudesse conquistar um título. Já era difícil quando eu treinava…"
Na campanha para o título em São Paulo, Letícia venceu nas quartas de final Caroline Kumahara, que é a número 285 do ranking mundial, e na final atropelou Bruna Alexandre, medalhista de bronze dos Jogos Paraolímpicos do Rio e que também atua contra atletas sem deficiência.
O resultado mostrou a Letícia que, com treinamento, ela pode voltar a sonhar com uma Olimpíada. Mas tudo ainda é confuso na cabeça dela. "Eu voltei para jogar a Universíade, que sempre foi meu sonho. Foi muito rápido, mas vou tentar conciliar melhor os treinos e a faculdade. Com certeza o que não falta é vontade. Estou pensando em pagar um técnico particular, treinar em um clube, não sei. A cabeça fica pensando sozinha."
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