Atletas ganharam mais voz nas confederações; agora precisam usá-la
Muito mais graças ao lobby feito por ex-atletas do que propriamente por esportistas em atividade, os atletas conquistaram o direito de ter cada vez mais voz nas chamadas entidades de administração do desporto – as famosas confederações. Uma portaria do Ministério do Esporte, no meio do ano passado, passou a exigir um voto de atleta para cada três de federações. Depois, lei sancionada em dezembro ampliou esse mínimo para 1/3 do colégio eleitoral, regra que passa a valer em maio.
Isso significa que, na prática, em uma confederação com 27 federações estaduais, os atletas passarão a ter direito a pelo menos 14 votos. A medida visa enfraquecer entidades estaduais que pouco ou nada fazem para o esporte, mas que, pelo motivos mais escusos, mantêm no poder dirigentes nocivos. Em tese, os atletas só precisam se unir a sete federações estaduais para terem votos suficientes para eleger um presidente ou implementar qualquer medida que considerem importante.
No papel é muito bonito. Na prática, não está funcionando. Na terça-feira (19) aconteceu a assembleia de CBDA, confederação que reúne as cinco modalidades aquáticas. Em uma das votações, foi aprovado, por 12 votos a 11, que os campeonatos nacionais de base voltarão a ter disputas das provas de "50m estilos". É praticamente consenso que o incentivo a essas provas, que não são olímpicas, tem atrapalhado a evolução da natação brasileira nas provas olímpicas.
Os atletas não podem reclamar. O voto deles poderia ter feito a diferença, empatado a votação, mas simplesmente ninguém compareceu na assembleia. A CBDA é em parte culpada. Enviou o boletim chamando para a reunião a um e-mail coletivo da comissão, de domínio da própria CBDA. Uma gestão que foi eleita principalmente com o discurso de abrir as portas para aos atletas precisa ser mais pró-ativa.
Mas é dos atletas, todos, a responsabilidade maior. Leonardo de Deus fez campanha para ser escolhido representante dos nadadores na comissão, em 2017, e foi eleito, depois, o presidente desse grupo. Faltando dois meses para a assembleia, renunciou aos cargos, alegando questões pessoais. Os representantes das demais modalidades não se reuniram para escolher outro presidente. E os nadadores não saíram da inércia para escolher outro que os representasse.
E ninguém entrou na área de "boletins" no site da CBDA para observar que, há um mês, há ali uma convocação para a assembleia realizada nesta terça-feira. Os atletas tinham direito a um voto em todas as discussões do dia, desde aprovação de contas até mudança de estatuto, passando por calendário e orçamento. Mas ninguém apareceu para fazer valer esse voto.
Mesmo assim, para se adequar à lei, a assembleia da CBDA aprovou a mudança no estatuto. Por pouco, uma insuficiente. O departamento jurídico da confederação, liderado pelo advogado Marcelo Jucá, errou nas contas e propôs a participação de 10 atletas. Notado o erro, fechou-se questão em 14 – seis de natação, dois de cada uma das outras modalidades. Todos com direito a voto peso seis, assim com as federações. Cinco clubes têm, cada um voto de peso um.
Claro se trata de uma questão cultural. O atletismo é o melhor exemplo. A CBAt abriu já há algum tempo sua assembleia para os medalhistas olímpicos, que inicialmente foram omissos. No ano passado, diante das denúncias contra o então presidente Toninho Fernandes, o ídolo Joaquim Cruz veio dos Estados Unidos para participar da assembleia e liderar os atletas em um movimento que forçou a renúncia de Toninho.
Depois disso, a assembleia da CBAt também passou a incluir nove atletas eleitos durante o Troféu Brasil. No total, são 24 atletas e a enorme maioria deles, cerca de 20, esteve na assembleia da semana passada. As mudanças já são sentidas. Pelo novo estatuto, os atletas terão 47% do colégio eleitoral, contra 42% das federações. Clubes, técnicos e árbitros ocupam os postos restantes.
* Este post não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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