Até algoritmo do Facebook entra em discussão de calote da Caixa no futebol
* Com Marcello De Vico
Presidentes de clubes de futebol de todo o país estão irritados com a Caixa Econômica Federal. Reclamam não só da falta de pagamento da parcela final dos contratos de patrocínio, que venceram em janeiro e correspondem a 20% do total do contrato, mas também da postura do banco estatal, que quer multar a maioria deles em cerca de 25% do valor devido. O motivo: uma suposta falta de crescimento mínimo dos times nas redes sociais, seja no número de seguidores, seja no total de engajamentos.
"Suposto" porque boa parte dos clubes questiona a metodologia adotada pela Caixa.
O banco usa as contas da Sport Track, consultoria de monitoramento de mídia, para avaliar o rendimento de seus patrocinados nas redes sociais. A empresa usa a média de seguidores ao longo dos 12 meses na comparação com janeiro como medida de sucesso.
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O problema é a que a mesma Caixa exige que os clubes contratem outra empresa, a Ibope/Repucom, para produzir um relatório de mídia (que calcula a exibição da marca da Caixa na mídia impressa e televisiva e quanto custaria comprar esse espaço), mas não aceita o relatório mensal que esse instituto publica sobre mídias sociais. O Ibope/Repucom soma o número de seguidores dos clubes em quatro redes sociais: Twitter, Facebook, Instagram e Youtube.
Por contrato, os clubes patrocinados pela Caixa perdem 25% do valor da parcela final se não crescerem 10% no ano em seguidores e 10% no ano em engajamento. A grande maioria dos 25 patrocinados (América-MG, Athlético, Atlético-GO, Atlético-MG, Avaí, Bahia, Botafogo, Ceará, Coritiba, CRB, Criciúma, Cruzeiro, CSA, Flamengo, Fortaleza, Goiás, Londrina, Paraná, Paysandu, Ponte Preta, Sampaio Correia, Santos, Sport, Vila Nova eVitoria) não conseguiu cumprir ao menos uma das exigências na metodologia da Sport Track, mas sim na do Ibope.
O conflito não é novo. O Botafogo (que ainda não passa por problemas, porque seu contrato só vence em fevereiro), por exemplo, diz que já sofreu a multa de 25% no ano passado. Mas o que vem irritando dirigentes é a intransigência da Caixa, aliada a uma falta de respostas. Eles não sabem se vão receber, quando vão receber, ou quanto vão receber. Alguns nem ouviram da Caixa que de fato o acordo não será renovado.
Os contratos são assinados entre clubes e superintendências regionais, que servem de interlocutoras entre os cartolas e a diretoria da Caixa. Em alguns estados, essas superintendências deram um recado claro: "A Caixa não quer pagar". Em outros, o discurso é de que a demora é porque o clube não atendeu exigências. "O problema é que não querem pagar e não dizem por que não vão pagar. A gente sabe que a orientação é não pagar", disse um presidente de clube da Série B ao Olhar Olímpico. Relato semelhante foi ouvido pelo blog de pelo menos mais cinco cartolas.
Mesmo quem cumpre todas as exigências de crescimento nas redes sociais, como o Fortaleza, que cresceu 42% no ranking da Ibope/Repucom, também não recebeu a parcela de janeiro. E não sabe por que. Só Bahia, Ponte Preta e Santos, entre os patrocinados, disseram ao UOL Esporte que os vencimentos estão normais – os primeiros dizem que têm até o fim de fevereiro para receber e o Santos diz que recebeu uma "parcela fixa", faltando a "variável". O Paraná não quis comentar e o Botafogo só receberá sua última parcela em março, porque tem contrato até fevereiro. Todos os outros consideram que a Caixa não pagou o devido.
Cartolas ouvidos pelo Olhar Olímpico afirmam que se a Caixa, de fato, se colocar à disposição para pagar a última parcela, mesmo com o desconto de 25%, clubes médios e pequenos devem aceitar. Alguns, inclusive, acreditam que a multa é justa em seus casos. Mas um grupo de presidentes de clubes da Série B já se articula para reclamar na Justiça o direito ao valor integral.
Eles alegam que o crescimento de interações nas redes sociais não depende somente do esforço dos clubes. Citam que mudanças no algoritmo do Facebook reduziu as impressões de páginas corporativas, como as dos clubes. E que a eleição do ano passado concentrou as atenções dos brasileiros nas redes sociais de uma maneira inesperada, não apenas reduzindo o interesse no futebol, mas também mantendo os usuários cada vez mais tempo no Whatsapp, em detrimento às redes consideradas no contrato com a Caixa.
O Olhar Olímpico apurou que a Caixa chegou a receber levantamentos que desconsideram o Facebook para medir a interação das páginas dos clubes, mas o banco estatal não informou aos clubes se poderá adotar esse critério, mais brando, para pagar os 25%. Dirigentes ouvidos pelo Olhar Olímpico reclamam, contudo, que as cláusulas relativas a redes sociais, duas em mais de 30 dentro dos contratos, são, na verdade, um subterfúgio para que o novo governo, que já se disse contra o patrocínio da Caixa aos clubes de futebol, não honre os compromissos assumidos em 2018, ainda no governo Michel Temer (MDB).
Cartolas reclamam que a Caixa passou a fazer exigências que, para eles, não fazem sentido. Por exemplo: cobrar fotos das camisas de todos os jogadores do time com o logo da Caixa. Não basta só uma. Nunca satisfeita com os documentos apresentados, a estatal vai adiando o pagamento.
A tese de que o governo busca subterfúgios, ou "pelos em ovos", é reforçada por entidades do setor olímpico e paraolímpico, que têm contrato até 2020 com a Caixa e, por isso, não dependem agora dessa cláusula de redes sociais. Mesmo assim, não receberam a parcela de janeiro. Elas, que temem qualquer declaração pública que irrite o banco, reclamam que receberam exigências incomuns, incluindo formalidades e burocracias inéditas. No entender de dirigentes, para, na melhor das hipóteses, adiar os pagamentos. Na pior, para não pagar.
Procurada, a Caixa disse que as questões são tratadas diretamente com os clubes.
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