Mercado de corridas de rua teme saída da Caixa, patrocinadora de 200 provas
Se clubes de futebol já foram avisados pela Caixa Econômica Federal de que não terão novos contratos de patrocínios e ligas e confederações temem o rompimento unilateral de contratos que vão até 2020, o mercado de corrida de rua do país teme os próximos passos do banco estatal. Por contratos pontuais, assinados anualmente, a Caixa é, de longe, a maior patrocinadora deste mercado, tendo apoiado mais de 200 provas no ano passado. Agora, ninguém sabe se isso vai mais uma vez acontecer.
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De acordo com a Caixa Econômica Federal, em 2018 foram cerca de 150 contratos dentro da área de "corridas, projetos sociais e eventos de oportunidade", que somaram R$ 31 milhão, dos quais mais de R$ 25 milhões foram para corridas de rua. Esse valor, de acordo com pessoas ligadas ao mercado, já foi maior no passado e sofreu redução na temporada recém-encerrada, quando a Caixa deixou de patrocinar a São Silvestre, por exemplo.
"A gente está tá acompanhando toda essa movimentação, essa alternância no cenário da Caixa. Eles têm trabalhado conosco há cinco anos e sempre fica a expectativa de renovação ou não. Mas é claro que preocupa, com a possibilidade de a coisa ficar mais escassa, de talvez não ter os valores renovados. Uma eventual redução ou saída sem dúvida vai impactar de forma negativa em todo o mercado", comenta Paulo Carelli, da Iguana Sports, uma das três grandes promotoras do país.
A Iguana há dois anos realiza o Caixa o Circuito Caixa da Cidadania, considerado um case de sucesso por ter 10 provas gratuitas em bairros periféricos da cidade de São Paulo, atingindo público de menor renda, normalmente excluídos pelas provas tradicionais. Com R$ 1,5 milhão, o circuito teve o quarto maior dos contratos de corrida da Caixa em 2018.
Outra gigante do mercado, a Yescom, já não conta com a Caixa para a Meia Maratona de São Paulo, em fevereiro. Thadeus Kassabian, dono da agência, diz que o banco é responsável por 15% da carteira de patrocínios da empresa e que uma eventual saída seria sentida. São 15 anos de parceria em algumas das maiores provas do país.
"Eu só tenho a agradecer à Caixa, que foi uma otiót parceira esses anos todos. Como empresaiem e como cidadao, entendo o movimento deles. A mim cabe apresentar projetos e mostrar para a Caixa porque é interessante para ela patrocinar os eventos da Yescom", diz Kassabian.
A maior parte dos cerca de 150 contratos são menores. Mais de 50 deles são de menos de R$ 20 mil, autorizados diretamente pelos departamentos regionais de marketing da Caixa. Outros, que precisam ser aprovados por um comitê, têm valores expressivos, como o Circuito Caixa de Maratoninha, voltado a crianças. A VGS Produções, que sequer tem site, recebeu R$ 7,6 milhões para fazer 23 etapas, em valor criticado por pessoas ligadas ao mercado.
Apesar da redução de investimentos no último ano, boa parte das maiores corridas de 2018 no país foi patrocinada pela Caixa em 2018. Desde provas internacionais como a Maratona do Rio (R$ 1,4 milhão) e a Meia de São Paulo (R$ 250 mil), passando por corridas tradicionais como a Volta da Pampulha (R$ 200 mil) e a Cidade de São Paulo (R$ 80 mil) até as tidas como "comerciais", como a Rolling Stones (R$ 250 mil) e a Mulher Maravilha SP (R$ 50 mil)
"Para a gente quem tem outros eventos, outras receitas, é ruim, afeta o orçamento, tem impacto, mas a gente reduz custos, procuras fontes alternativas de receitas, e não chega a ser uma ameaça de quebra. Mas uma eventual saída da Caixa sem dúvida vai impactar de forma negativa em todo o mercado. Considerado um mercado que já não vai muito bem, já tem sofrido bastante, vai prejudicar muita gente, sem dúvida", diz o sócio da Iguana.
Thadeus, da Yescom, diz que sua empresa está constantemente buscando novos parceiros, mas que uma eventual saída da Caixa terá impacto. "Imagina que você ganha 10 reais, cinco de cada patrocinador. Ai um sai", explica.
Outros profissionais do mercado, patrocinados pela Caixa ou não, falaram com o Olhar Olímpico na condição de anonimato. E eles também acreditam que o impacto pode ser devastador, principalmente sobre pequenos organizadores, que fazem corridas pequenas e dependem do patrocínio da Caixa, quase sempre inferior a R$ 80 mil por prova/etapa. Para eles, uma eventual saída da Caixa poderia inviabilizar dezenas ou até centenas de provas, aumentando o valor de inscrição para tantas outras.
Contratos
Patrocinadora da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), a Caixa adotou o rótulo de "patrocinadora oficial do atletismo" com ações em diversas vertentes. É dela o mais importante circuito de provas de rua do país, que teve 12 etapas em 2018, ano de sua 15ª edição. Ligado de forma intrínseca à Caixa, o "Circuito Caixa", como é conhecido, é na verdade é organizado pela HT Sports Marketing & Consultoria, que recebeu R$ 3,2 milhões em um contrato de patrocínio firmado em maio.
Essas promotoras têm acesso a um sistema da Caixa onde elas apresentam os projetos todos os anos. O departamento de marketing do banco avalia os projetos que interessa, fecha os valores, e assina contratos com as agências. Foi assim que, no ano passado, surgiu, por exemplo, o Circuito Caixa Triday Series. Ele pertence à principal promotora do triatlo no país, a Unlimited Sports, que recebeu R$ 2,7 milhões pelo patrocínio às 12 provas da temporada passada.
Todos esses contratos se encerraram ainda durante 2018. Quando o governo Jair Bolsonaro (PSL) assumiu, em 1º de dezembro, não havia nenhum acordo em vigor, exceto um social e outro de patrocínio ao time de basquete de Brasília, que joga o NBB.
Cabe à Caixa decidir por assinar o que ela considera serem "novos contratos" – ela descarta o termo "renovação". Procurado pelo Olhar Olímpico, o banco ressaltou que todos os patrocínios para 2019 estão "em análise"
Heróis olímpicos
Patrocinadora da CBAt, a Caixa ao longo dos anos vem aproximando sua imagem à dos que ela chama de "heróis olímpicos", que são os medalhistas olímpicos brasileiros do atletismo. Para alguns ela paga R$ 6,7 mil mensais a título de direitos de imagem. Outros ela apoia patrocinando seus projetos sociais.
Joaquim Cruz, por exemplo, está à frente do Clube dos DescalSOS, em Brasília, o maior desses projetos, que recebeu R$ 380 mil da Caixa no ano passado. A ação atende continuamente 90 crianças e adolescente de 12 a 17 anos e o contrato tem duração até março, apenas. É o único em vigor.
Outros projetos já acabaram e aguardam renovação. São os casos do Futuro Olímpico, de Arnaldo de Oliveira (R$ 200 mil), o Talento Olímpico, de Claudinei Quirino (R$ 160 mil), o Correndo para Vencer, de Edson Luciano (R$ 120 mil) e o Projeto Herói, de Vanderlei Cordeiro de Lima (R$ 100 mil), que também ajuda a financiar uma corrida contra o cigarro (R$ 80 mil) e outra de conscientização ambiental (R$ 10 mil).
Equipes
Além de projetos sociais, da confederação e de corridas de rua, a Caixa também é uma das principais patrocinadoras de equipes do país. Só no ano passado o banco investiu cerca de R$ 1 milhão em pelo menos cinco equipes, pelo que mostra o levantamento disponibilizado pela estatal.
A maior parte de investimento é no Paraná. Lá, a Caixa patrocina as equipes de Londrina (R$ 300 mil), Curitiba e Maringá (R$ 100 mil cada). Também entram nessa conta uma das principais equipes de pedestrianismo do país, a Pé de Vento (R$ 180 mil) e a equipe conhecida por trazer estrangeiros, especialmente quenianos, para correr no Brasil, a Luasa (R$ 180 mil). No alto rendimento, a mais importante é a CASO, de Sobradinho (DF), onde treina Caio Bonfim, bronze no último Mundial.
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