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Olhar Olímpico

Bolsonaro visita Parque Olímpico e COI diz esperar atenção ao legado

Demétrio Vecchioli

19/11/2018 04h00

 

O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) percorreu pouco mais de 10 quilômetros na manhã de domingo e, sem sair da Barra, onde mora, visitou o Parque Olímpico construído para a Rio-2016. Na Arena Carioca 1, foi recebido aos gritos de "mito" pelo público presente ao ginásio para acompanhar a etapa do Rio do Abu Dhabi Grand Slam Jiu-Jitsu, um circuito de torneios de jíu-jitsu promovido mundialmente pela federação dos Emirados Árabes Unidos.

A Arena Carioca 1 faz parte, junto com a Arena 2, o Centro Olímpico de Tênis e o Velódromo, do complexo administrado pela Autoridade de Governança do Legado Olímpico (AGLO). A autarquia, criada em meados de 2017, precisa ser extinta em 30 de junho do ano que vem ou "após tomadas as providências de longo prazo necessárias à destinação do legado olímpico". O que ocorrer primeiro.

O governo Michel Temer (MDB) inicialmente planejava que o Parque Olímpico fosse privatizado. Até pediu ao BNDES um estudo sobre essa possibilidade, como mostrou o Olhar Olímpico. Mas o plano A não vingou e o Ministério do Esporte passou a focar numa ideia alternativa, mais próxima àquela prevista na época da construção da estrutura, com confederações administrando os espaços. Recursos extras da Lei Agnelo/Piva garantiriam a manutenção do local.

Até agora, Bolsonaro não deu indícios de como pretende resolver a questão. No plano de governo do então candidato sequer constava a palavra "esporte" (também não havia nenhuma referência ao Parque) e, em entrevistas, o hoje presidente eleito não tocou no assunto. Ao visitar a Arena no domingo, Bolsonaro falou dos médicos cubanos, mas não dos planos para o espaço.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) acompanha o assunto com atenção, desde o processo eleitoral. Em nota ao Olhar Olímpico, culpou "um conjunto de circunstâncias" pelo plano de legado não estar sendo cumprido e disse que espera que todos os níveis de governo terminem de entregar o prometido.

"Os Jogos Olímpicos Rio-2016 foram projetados com legados objetivos específicos, inclusive para o Parque Olímpico. Atualmente, devido a um conjunto de circunstâncias, nem todos os aspectos do plano foram totalmente entregues. No entanto, tanto a comunidade esportiva quanto a população local têm aproveitado a grande maioria das estruturas da Rio-2016. O COI não especulará sobre situações hipotéticas, mas espera-se que, no futuro, os vários níveis de governo, em suas próprias áreas de responsabilidade, completem totalmente o que era uma visão muito forte de legado. Estamos confiantes de que esse será o caso dos benefícios que essas instalações trouxeram para o Brasil e para o povo do Rio de Janeiro", escreveu o COI.

A entidade não quis comentar a possibilidade de o Ministério do Esporte ser fundido com os da Educação e da Cultura, sob o guarda-chuva do MEC. Essa parecia uma certeza, com o Esporte ficando com uma secretaria, mas o próprio presidente eleito deixou no ar a possibilidade de manter o setor com um Ministério.

"Eu falo uma coisa aqui e lá na frente falam que estou recuando. Estamos definindo essas coisas todas", disse aos jornalistas, sobre a fusão. Pelo Twitter, também deixou no ar a possibilidade de não fundir as pastas. "Como professor formado na Escola de Educação Física do Exército, tenho consciência do valor do esporte na vida de todos: empregabilidade, auxiliando na saúde e no combate à criminalidade e drogas. Dada tamanha importância, buscamos soluções que correspondam aos futuros desafios", postou.

A indefinição sobre o futuro do Esporte tem causado apreensão entre pessoas do alto escalão do esporte brasileiro. Logo após a eleição, o setor acreditava ser questão de poucos dias não só a definição sobre o futuro do ministério, como também a nomeação de um secretário (ou ministro). Mas o tema foi esfriando e mesmo interlocutores entre o setor e aliados próximos de Bolsonaro passaram a ficar sem pistas do que vem pela frente. Em entrevista à Folha, o ministro Leandro Cruz revelou que o Ministério sequer foi procurado pela equipe de transição de Bolsonaro.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.