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Olhar Olímpico

Novo ministro da Defesa comandou empresa olímpica e esporte militar

Demétrio Vecchioli

13/11/2018 10h29

General Fernando (Agência Senado)

A indicação do general Fernando de Azevedo e Silva para ser o futuro ministro da Defesa no governo de Jair Bolsonaro (PSL) agradou setores importantes do esporte. É que o general da reserva tem relação estreia com o esporte: foi um dos propulsores da ainda forte parceria entre o Ministério do Esporte e os militares, e presidiu, no governo Dilma Rousseff (PT), a Autoridade Pública Olímpica (APO), consórcio público formado por União, estado do Rio e município do Rio para centralizar as decisões sobre a Rio-2016. Durante a Olimpíada, foi o responsável pela área de segurança dos Jogos, como o Comandante Militar do Leste.

Ainda candidato, Bolsonaro chegou a anunciar que o ministro da Defesa seria outro general: Augusto Heleno, que também agradava ao esporte. É que ele foi diretor de comunicação e educação corporativa no Comitê Olímpico do Brasil (COB) e mantém até hoje estreita relação com antigos interlocutores no esporte. Na semana passada, porém, Heleno foi anunciado como ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), abrindo a vaga na Defesa.

Indicado por Bolsonaro, o general Fernando tem relação ainda mais próxima com o esporte. Ex-diretor do Departamento do Desporto Militar e ex-responsável pela Comissão de Desportos do Exército, ele ganhou projeção ao ajudar a organizar, no Rio, os Jogos Mundiais Militares de 2011. Na ocasião, o Brasil ficou no primeiro lugar no quadro geral de medalhas, o que só foi possível com uma contratação em massa, por parte das Forças Armadas, de atletas de alto rendimento. A expectativa é de que o programa seja mantido.

"Sempre acreditei e acredito que a prática esportiva é um instrumento valioso para a formação do caráter do homem, desenvolvendo vários atributos na área afetiva e sendo indispensável à saúde e à educação", contou, em outubro de 2013, durante uma sabatina no Senado. Naquele momento, era aprovado para presidir a Autoridade Pública Olímpica (APO). Ficou no cargo até fevereiro de 2015, quando pediu demissão.

Ex-jogador de vôlei, com passagem pelo Tijuca Tênis Clube na década de 1970, o general cultiva algumas amizades na modalidade. Entre os mais próximos estão nomes proeminentes como Bernard Rajzman (membro brasileiro no COI), Marcus Vinicius Freire (ex-diretor do Esporte do COB) e o técnico Bernardinho.

"A escolha dele também é uma influência do general Heleno, antecessor nas mesmas estruturas esportivas. Para nós, representantes do esporte, ter um esportista comandando a Defesa é muito bom. É a certeza de que o desporto militar, já muito presente no alto rendimento, assim como no Forças do Esporte, tende a ser extremamente valorizado", disse, ao blog, o velejador Lars Grael, uma das vozes mais influentes no esporte.

Vice-presidente do COB, Marco La Porta, que é coronel da reserva e foi instrutor na Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx), que já foi comandada por Fernando, também comemorou a escolha. "Acho que para o esporte vai ser muito bom. A última vez que conversei com o general Heleno, ele sinalizou que ia incentivar o projeto Forças do Esporte. O general Fernando deve ir para o mesmo caminho", comentou.

O Forças do Esporte é uma vertente do Segundo Tempo, programa do Governo Federal, e une os ministérios do Esporte e da Defesa. O primeiro paga os materiais esportivos e os salários dos professores e estagiários, enquanto as Forças Armadas coordenam o programa, disponibilizando infraestrutura. De acordo com a própria Defesa, o projeto está presente em 97 localidades de todos os Estados e do Distrito Federal, atendendo cerca de 23.500 crianças, jovens e adolescentes, de 6 a 18 anos, em situação de vulnerabilidade social.

Recentemente, o COB demonstrou interesse em também fazer parte do programa, usando sua capilaridade para formar atletas de alto rendimento. "A gente tem a capacitação dos professores formados pela Academia Brasileira de Treinadores (ABT). Queremos usar a estrutura do Forças do Esporte para ser um celeiro atletas em inicialmente quatro modalidades: natação, atletismo, ginástica e judô", conta La Porta.

Com os generais Fernando e Heleno próximos a Bolsonaro, o esporte ainda espera destravar outra questão: o legado olímpico. A Autoridade de Governança do Legado Olímpico (AGLO), herdeira da APO comandada por Fernando, precisa ser desfeita no ano que vem, depois de dar uma destinação para os equipamentos construídos nos Parques Olímpicos de Deodoro e da Barra.

Os primeiros já estão sob administração da EsEFEx, enquanto que o parque da Barra, maior e mais complexo, deverá ser administrado por confederações ligadas ao COB – mas não pelo próprio comitê, que recusou a atribuição. Tramita no Congresso e precisa ser votado até o próximo dia 28 o relatório da MP 846, que propõe garantir uma verba contínua, pela Lei Agnelo/Piva, para que as confederações mantenham o Parque Olímpico.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.