Topo

Olhar Olímpico

Destaque na Rio-2016, esporte militar fica mais caro sem crescer para 2020

Demétrio Vecchioli

24/08/2018 04h00

Arthur Nory bate continência ao receber medalha de bronze no pódio da Rio-2016 (REUTERS/Mike Blake)

Com 145 atletas, que renderam o Brasil 13 medalhas, o programa militar de alto rendimento foi um dos protagonistas da Rio-2016. Os resultados garantiram sua continuidade, mas não impediram a redução no número de atendidos. Apesar disso, o projeto ficou mais caro aos cofres públicos.

Os números são do Ministério da Defesa: em 22 de agosto de 2016, o Programa Atletas de Alto Rendimento (PAAR) atendia 670 atletas, dos quais 76 militares de carreira e outros 594 temporários. Hoje o programa é menor. Contempla 630 atletas, sendo 119 de carreira e 511 temporários. Uma vez que são estes últimos, selecionados por edital, que de fato concorrem por vagas olímpicas, a redução é de quase 15%.

Ao mesmo tempo, ficou mais caro. Em outubro de 2016, quando o programa contava com 627 atletas, o Ministério do Esporte informou, em seu site, que a Defesa pagava R$ 15 milhões em salários. Agora, a conta feita pela Defesa é de R$ 19,9 milhões ao ano somente com os atletas temporários, que não receberam aumento salarial – ainda na casa de pouco mais de R$ 3 mil.

O Olhar Olímpico questionou a Defesa sobre esse aumento de custos, mas não obteve respostas.  A pasta designou, em abril, um novo comandante para o Departamento de Desporto Militar. Saiu o vice-almirante Paulo Zuccaro, apontado como o símbolo do programa, e entrou ao general de divisão Jorge Smicelato.

O novo diretor não aceitou dar entrevista ao blog. Em nota, disse que, "no momento, não se visualiza necessidade de crescimento no número de beneficiados". Segundo ele, o PAAR hoje trabalha visando os Jogos Mundiais Militares de 2019, na China, como maior evento preparativo para Tóquio-2020.

O planejamento também inclui a realização de competições militares no Brasil, financiadas em partes iguais pela Defesa e pelo Esporte. Em 2018, o calendário inclui os Mundiais de Judô (de 6 a 10 de novembro) e de Taekwondo (27 de novembro a 3 de dezembro), ambos no Rio. Cada um desses torneios custará cerca de R$ 800 mil aos cofres públicos, segundo os militares.

No ano passado outros dois Mundiais Militares foram disputados no Rio: de Vôlei de Praia e de Natação. Ambos tiveram papel irrelevante no calendário internacional, apesar de terem custado R$ 2,7 milhões somente ao Ministério do Esporte. O primeiro contou apenas com oito duplas femininas, de quatro países. No masculino participaram 20 duplas, sendo cinco brasileiras. As demais eram de Sri Lanka, Burkina Faso, Irã, Letônia e Palestina estavam entre os rivais – além de China e Alemanha. Na natação, o Mundial teve a participação de 131 atletas, de 12 países.

Problema

O Mundial Militar de Natação deste ano acabou nesta terça-feira em Samara, na Rússia, e gerou muitas dores de cabeça para a natação brasileira. Isso porque atletas como Leonardo de Deus tiveram que viajar direto de Tóquio, onde a seleção disputou o Pan-Pacífico, principal evento da temporada. E, na volta ao Brasil, ainda têm que competir de novo, desta vez no Troféu José Finkel. Seletiva para o Mundial de Piscina Curta, o Finkel teve que ser adiado para que nenhum nadador militar fosse ainda mais prejudicado.

O Brasil até ficou em segundo no quadro de medalhas na Rússia, atrás dos donos da casa, mas sem resultados expressivos do ponto de vista esportivo. A exceção foi Brandonn Almeida nos 400m medley: 4min14s20. É a melhor marca dele no ano e 15º tempo do ranking mundial.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.