Patrocinadores articularam candidatura de Tifanny antes mesmo da estreia
Antes mesmo de assinar contrato para se tornar a primeira jogadora profissional transexual feminina no Brasil, Tifanny Abreu já considerava a possibilidade de sair candidata a deputada federal pelo MDB de São Paulo. Contratada pelo Vôlei Bauru, teria seu nome impresso nos "santinhos" ao lado de Rodrigo Mandaliti e Paulo Skaf, os dois patrocinadores do clube. O primeiro acabou por abrir mão da candidatura a deputado estadual, enquanto o segundo é o nome do MDB para governador.
A candidatura começou a ser articulada quando Tifanny chegou à cidade de Bauru, em junho do ano passado. Mas, para entender esse processo, é necessário conhecer outras articulações, paralelas. A primeira, a negociação para que o Vôlei Bauru se fundisse à equipe feminina do Sesi. Ao mesmo tempo, Reinaldo Mandaliti, principal patrocinador do clube, assumia a presidência do Vôlei Bauru. Paralelamente, ele deixava a presidência do partido Solidariedade em Bauru para se filiar ao MDB na cidade. Levava com ele o irmão Rodrigo, para ser candidato a deputado estadual.
Há 20 anos a região de Bauru não tem um deputado federal. Na falta de uma liderança política clara, a cidade no Noroeste do estado se acostumou a ver um número grande de candidatos competitivos dividindo votos. Para quebrar essa rotina, só um candidato com projeção nacional, capaz de atrair votos de outras regiões do estado. E aí surgiu Tifanny.
Desempregada e disposta a quebrar uma barreira histórica no esporte brasileiro, Tifanny foi apresentada a Reinaldo Mandaliti, que a considerou bom reforço para o time que patrocina. O contrato foi assinado em agosto, mas só se tornou público em dezembro. Dias depois de Mandaliti, então vice-presidente, assumir a presidência do clube, e de ser divulgada a fusão com o Sesi, de Paulo Skaf, para a temporada 2018/2019.
Skaf e os Mandaliti são aliados políticos e trabalharam juntos pela candidatura de Renato Purini à prefeitura de Bauru, em 2016. Presidente do MDB de Bauru e ligado à ala do partido que é comandada pelo presidente Michel Temer (com quem seu pai, Roberto Purini, fez dobradinhas eleitorais), Renato diz ter sido o responsável por sugerir lançar Tifanny como candidata a deputada federal. Ideia prontamente acatada pelos irmãos.
Como fez nas eleições anteriores, Skaf mais uma vez constrói sua candidatura a governador a partir da capilaridade do Sesi/Senai no interior do estado. Com Bauru não seria diferente. Na cidade com mais de 330 mil habitantes, fundiu o time feminino do Sesi ao Vôlei Bauru dos Mandaliti, numa aliança esportiva e política. Tanto que fez questão de assinar a filiação tanto de Rodrigo Mandaliti, então pré-candidato a deputado estadual, quanto de Tifanny, pré-candidata à Câmara.
As filiações foram assinadas em abril, no limite do prazo exigido pela Justiça Eleitoral. Naquele momento, porém, a candidatura de Tifanny não era uma certeza, ainda. A própria jogadora revelou ao Olhar Olímpico, há dois meses, que tomaria a decisão mais adiante. No fim de semana, teve seu nome referendado pela convenção estadual do MDB que, como não se coligou com nenhum outro partido no Estado, vai ter apenas a jogadora como candidata na região.
"Ela tem muita gratidão por todo o trabalho que a gente fez por ela. Todo o esforço que eu, pessoa física, fiz por ela", diz Reinaldo, que é presidente do Sesi/Vôlei Bauru e que será o coordenador da campanha. "Eu trouxe ela da Itália e falei que Bauru ia incluir todo tipo de pessoa, sem preconceito. Disse: 'Se você tem direito, você vai jogar'."
O empresário, porém, garante que a candidatura de Tifanny está diretamente ligada aos seus ideais e que a bandeira dela será a da inclusão. "Ela teve a coragem de mudar de sexo. De dizer que se sentia uma mulher em um corpo masculino. E ela tem a mesma vontade de lutar contra o preconceito e pela inclusão."
Tanto Reinaldo quanto Renato Purini, porém, fazem questão de ressaltar que partiu de Tifanny a iniciativa de se lançar candidata. "Óbvio que ela tem uma gratidão pelo que eles fizeram por ela, mas, sinceramente, participei de várias conversas e a liberdade dela de decidir ser candidata ou não foi até o último momento. Como a gente diz na política, ela foi picada", afirma o presidente do MDB Bauru, numa referência à "mosquinha" que pica quem entra na política e não quer mais sair.
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