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Olhar Olímpico

Aposentado, Robert Scheidt se junta a Torben e vira treinador no Mundial

Demétrio Vecchioli

29/07/2018 04h00

Torben Grael e Robert Scheidt (Saulo Cruz/Exemplus/COB)

Se há hoje um velejador brasileiro homem com chances repetir Torben Grael e Robert Scheidt e conquistar o ouro olímpico na vela, esse cara é Jorge Zarif. Em busca desse objetivo, o primeiro passo é aproveitar o Mundial de Vela, que começa na próxima quinta-feira, para carimbar a vaga em Tóquio-2020 na classe Finn. Para tanto, Jorginho vai contar com dois treinadores de peso: exatamente Torben e Robert.

O Mundial de Aarhus (Dinamarca), que começa na quinta-feira, será a primeira experiência de Robert Scheidt como treinador. Maior medalhista olímpico brasileiro – tem cinco medalhas, empatado exatamente com Torben -, Robert anunciou sua aposentadoria da vela olímpica em outubro do ano passado, aos 44 anos. Mas nunca fez parte dos planos dele deixar de velejar, até porque mora a alguns passos de um dos mais importantes palcos da vela mundial, o Lago di Garda, a Itália.

E foi exatamente em Garda onde começou a parceria entre Robert e Jorginho. O mais velho convidou o mais jovem a velejar com ele no badalado circuito mundial da TP52, classe de vela oceânica que tem um time brasileiro, o Onda, onde Robert é o tático de uma equipe com outros 15 atletas. "Aceitei o convite pelo aprendizado, para conhecer o pessoal de outros projetos. Você vai conhecendo gente. Claro que não vou fazer esse circuito em 2020, mas acho que dá para conseguir conciliar bem", explica Jorginho.

Ele treina com Robert desde março. Partiu do velejador de 25 anos o pedido para que Robert o treinasse. "Liguei perguntando se ele tinha disponibilidade e se poderia me ajudar. Ele falou para eu mandar meu calendário até o final do ano para ele e viu as datas que poderia me ajudar. Depois a gente se acertou com o COB", continua.

Os resultados, que já vinham sendo bons, melhoraram. Após um quinto lugar no Princesa Sofia, na Espanha, evento mais tradicional do calendário anual da vela, Jorginho ganhou as etapas de Hyères e Marselha (ambas na França) da Copa do Mundo. Não à toa, hoje é o líder do ranking mundial da classe Finn, cinco anos depois de tornar o mais jovem campeão mundial da classe, aos 21 anos, em 2013.

"Com 25, estou entrando na melhor fase da carreira. É o melhor momento físico.Estou melhorando, me dedicando bastante, procurando novas formas de evoluir. Troquei material, troquei a vela que eu uso, tô evoluindo. É um evolução natural", diz Jorginho, que já tem duas Olimpíadas no currículo e foi quarto colocada na Rio-2016 – exatamente o mesmo resultado de Robert em sua despedida olímpica.

Guardiola e Mourinho

O Mundial de Aarhus é a primeira seletiva olímpica para Tóquio e a meta de Jorginho é garantir uma das oito vagas em jogo para 2020 na classe Finn. Na competição, ele terá o acompanhamento de Robert como seu treinador pessoal e de Torben Grael como treinador-chefe da seleção brasileira. Zarif diz que os dois têm estilos muito diferentes.

"São dois ex-atletas que conseguiram muito sucesso, mas cada um tem um estilo de velejar muito diferente. Um é o Mourinho e outro o Guardiola", compara, se recusando a dizer quem é quem. Mas dá a dica de que Robert tem métodos parecidos com o do espanhol. "Ele já me deu alguns livros de tática, de regrinhas que ele considera fundamentais para a regata. Passa muita coisa de tática, de técnica. No nosso primeiro dia de treino, ele já tinha visto a medal race de um monte de gente. Já sabia como o inglês velejava com determinado vento, como o francês tomava decisões em determinada situação. Qualquer coisa que ele fizer ele vai fazer bem feito", elogia.

Pela divisão de tarefas, será Robert a dar as instruções do dia-a-dia, enquanto Torben, treinador contratado pelo COB, cuida das questões "macro", pelo que explica Jorginho. E, dependendo do que acontecer no Mundial, todos vão sentar com o COB para discutir o futuro, se Robert continuará como treinador. "Ficamos de acertar depois do Mundial dos próximos passos. Eu se pudesse escolher, com certeza gostaria que ele pudesse continuar. Vamos ver como funciona, se ele se sente realizado sendo treinador."

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.