Topo

Olhar Olímpico

Governo deve reverter MP, mas esporte se prepara para "guerra" por dinheiro

Demétrio Vecchioli

11/07/2018 14h09

Deputados e entidades participam de audiência pública que discutiu a MP 841 na Comissão do Esporte na Câmara

O governo federal deve editar ainda esta semana uma nova Medida Provisória para devolver ao esporte – e à cultura – o dinheiro retirado pela MP 841. Mas isso não significa que as coisas voltem a ser como eram antes. As confederações brasileiras de Desporto Universitário (CBDU) e Desporto Escolar (CBDE) devem ser excluídas da divisão dos recursos das loterias e isso tende a afastar entidades que hoje lutam do mesmo lado da trincheira.

Leia mais sobre a MP 841 no Olhar Olímpico

Pela legislação que vigia até a edição da MP 841, há um mês, os comitês olímpico (COB), paraolímpico (CPB) e de clubes (CBC) recebiam recursos diretamente da Caixa e tinham que repassar 10% ao esporte escolar e 5% ao universitário. Ao retirar mais de meio bilhão de reais por ano do esporte, o governo federal, entre outras medidas, zerou recursos do CBC, da CBDE e da CBDU.

Todas essas entidades se juntaram contra a MP, criando um grupo de trabalho, que causou efeito. A interlocutores desse grupo, o governo reconheceu que "avaliou mal" a questão, retirando dinheiro do esporte para ampliar a premiação das loterias, e se comprometeu a resolver o problema. Esse grupo já foi informado que a MP sai do forno na quinta, devolvendo o dinheiro do CBC (cerca de R$ 66 milhões ao ano), mas não da CBDE e da CBDU.

Quando isso acontecer, COB, CPB e CBC devem se dar por satisfeitos, pelo que apurou o Olhar Olímpico. Mais do que satisfeitos, na verdade. Descentralizar recursos à CBDE e à CBDU sempre foi um problema para as três entidades. São elas que respondem ao Ministério do Esporte pela gestão do recurso, mas historicamente reclamam que as confederações estudantis se mostram incapazes de colocar o dinheiro no esporte.

Exigindo projetos que nunca chegaram dentro das especificidades, o CBC nunca repassou recursos à CBDE ou à CBDU. O CPB também não e chegou a ser acionado judicialmente pelos universitários, que perderam a briga. Hoje, os campeonatos nacionais paraolímpicos escolar e universitários são realizados em parceria, mas quem lida com o dinheiro é o CPB.

Nos bastidores, há anos o COB diz que não vê problemas que o dinheiro das Loterias chegue direto no CBDE e na CBDU, sem passar por ele. Não quer dor de cabeça. O CPB, por sua vez, não abre mão de ditar as regras da utilização desses recursos. As duas entidades, porém, vão passar a ficar do mesmo lado quando o governo tirar completamente a CBDE e a CBDU.

Com a publicação da MP provavelmente na quinta, a briga por dinheiro muda. COB, CPB e CBC, que nunca articularam para limar as confederações estudantis da divisão do dinheiro, devem passar a defender que a medida do governo terá sido a correta, corrigindo "um erro histórico". Enquanto isso, CBDE e CBDU vão intensificar o lobby no Congresso, onde têm forte influência, desta vez com os comitês do outro lado da trincheira. É uma briga que ainda está muito longe de acabar.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.