Escândalo sexual tem atletas afastadas e suicídio no basquete paraolímpico
Um novo escândalo de abuso sexual vinha sendo mantido em sigilo por uma importante confederação nacional. Imagens do abuso, ocorrido no ano passado, já causaram o afastamento de três atletas da seleção brasileira de basquete em cadeira de rodas, Lia Soares Martins, Denise Eusébio e Geisa Vieira – as duas primeiras disputaram a Rio-2016 e estavam convocadas para o Mundial deste ano. O incidente ocorreu durante treinamento do clube Gladiadoras/Gaadin (Grupo de Ajuda dos Amigos Deficientes de Indaiatuba), do interior de São Paulo.
O caso ainda vai além. Gracielle Silva, coordenadora do clube e que também aparece nas imagens do abuso, tirou a própria vida há duas semanas. Todo o tema vem sendo tratado com extrema delicadeza pelos envolvidos, que sabem estarem lidando com um barril de pólvora. Lia é o grande nome do basquete em cadeira de rodas no Brasil, tendo participado de três edições dos Jogos Paraolímpicos. O basquete em cadeira de rodas é uma das modalidades geridas por confederação própria, não pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), que soube do caso há um mês.
A reportagem do Olhar Olímpico teve acesso a algumas das imagens da agressão. O abuso teria ocorrido em março do ano passado, mas só passou a ganhar repercussão em março deste ano. Pelas fotografias, é possível ver a vítima deitada no chão, sendo segurada à força por companheiras de clube e pela coordenadora, única que não cadeirante. Uma das jogadoras participa fotografando e, ao que consta, também filmando o ato, que envolve um pênis de borracha.
O caso vinha sendo tratado como "brincadeira" até o fim de abril, quando a Rede Globo exibiu reportagem e denunciou os abusos cometidos pelo técnico Fernando de Carvalho Lopes, da ginástica artística. No dia seguinte, o ginasta Diego Hypolito, medalhista olímpico, foi a público revelar que, na infância, havia sido vítima de abusos por parte de colegas, que o obrigaram inclusive a enfiar uma pilha, banhada de pasta de dente, em seu ânus.
Os relatos teriam motivado à cadeirante vítima do abuso a agir. Nos dias seguintes ela deixou o clube no qual treinava e passou a reconhecer que aquela "brincadeira" havia sido, na verdade, um abuso. A denúncia chegou até um órgão de imprensa, que avançou na apuração até encaminhar a divulgação da história. Foi quando a técnica da equipe se suicidou.
Há uma semana, o Olhar Olímpico foi informado da história. Nos dias seguintes, diversos atletas da modalidade em questão foram procurados, mas todos encerraram qualquer contato quando informados sobre o assunto. Afirmaram, em uníssono, que não tinham nada para falar sobre o tema, que virou tabu. As fotos circulam em grupos de Whatsapp há pelo menos três meses, assim como um vídeo, que comprovaria o abuso.
A própria vítima até agora não apresentou queixa formal junto à polícia e a expectativa, pelo que apurou o blog, é que isso ocorra esta semana ou, no mais tardar, na próxima. A advogada que a representa quer primeiro colher provas suficientes que a permitam atestar que o caso tratou-se de um abuso, não de uma brincadeira, como dizem as jogadoras afastadas da seleção. Estas afirmam que são vítimas de um complô. Em uma das imagens a que o Olhar Olímpico teve acesso é possível ver a mão da vítima tentando recolocar sua calcinha, enquanto as demais impedem.
Em nota ao Olhar Olímpico, a Confederação Brasileira de Basquetebol em cadeira de rodas (CBBC) disse que tomou conhecimento do caso no final de março de 2018 e imediatamente pediu que as provas fossem enviadas. Assim que recebeu o material, cerca de um mês depois, decidiu afastar as atletas envolvidas da seleção brasileira. "Aguardamos os desdobramentos da justiça para qualquer novo posicionamento ou medida", disse a entidade, alegando não ter sido procurada pela vitima.
O blog também falou com a jogadora Geisa, que seria a responsável por fazer as fotografias do abuso. Ela parou de responder à conversa pelo Whatsapp quando foi informada da publicação da reportagem e também não compartilhou os contatos das demais jogadoras acusadas.
Já o CPB, que no caso do basquete em cadeira de rodas tem a mesma relação com a CBBC que o COB tem com a CBB no basquete, diz que foi informado do caso no mês passado, pelo presidente da confederação, Valdir Soares Moura. "O CPB não gerencia clubes e seleções de confederações afiliadas", explicou o comitê, quando questionado se havia tomado providência. "O CPB está monitorando o caso e seus desdobramentos atentamente", complementou o órgão, que informou que nos últimos meses promoveu duas ações de conscientização sobre o tema. "Estamos em contato direto com o Ministério Público do Trabalho, para apoiar em atividades preventivas, em consonância com o que já tem sido feito com outras entidades esportivas."
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