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Olhar Olímpico

Após investir R$ 3 mi, Caixa cortará patrocínio à ginástica de São Bernardo

Demétrio Vecchioli

07/05/2018 04h00

Diego Hypilito e Caio Souza, estrelas do time de São Bernardo. No Brasileiro de 2015 (foto) eles competiram pelo ADC São Bernardo, mas vestiram uniformes de outro clube, o ASA.

Há quatro anos, a Caixa Econômica Federal resolveu estender o apoio que já dava à Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) e passar a patrocinar também um clube. E o projeto escolhido foi o da cidade de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, que tinha como responsável o técnico Fernando de Carvalho Lopes, atualmente acusado por mais de 40 ex-atletas de ter cometido abuso sexual.

Agora, após um investimento de mais de R$ 3 milhões na equipe, a Caixa decidiu encerrar o patrocínio, que envolvia também o naming rights do centro de treinamento de ginástica e o estádio de atletismo. Inicialmente o banco havia informado à reportagem que estava "avaliando todas as medidas cabíveis". Depois, nesta segunda-feira, foi mais específico e revelou que já havia decidido não renovar o acordo, de totais R$ 1,8 milhão ao, e que vence no mês que vem. Assim, o time que hoje tem Diego Hypolito e o CT que deveria ser a base da seleção masculina ficarão sem patrocínio.

Anteriormente, na semana passada, quando questionada sobre o patrocínio à CBG, a Caixa já havia informado que "está acompanhando o resultado das investigações junto às autoridades competentes e tomará as medidas cabíveis previstas em contrato, se for o caso". O banco, porém, não respondeu a questionamento do Olhar Olímpico sobre a existência de cláusula contratual que trate de denúncias de abuso envolvendo técnicos ou funcionários da confederação.

No caso da equipe de ginástica de São Bernardo, o contrato é entre a Caixa e a prefeitura da cidade, em um convênio de R$ 1,8 milhão ao ano. O projeto se chama "Esporte São Bernardo – Atletismo e Ginástica" e inclui os trabalhos desenvolvidos na Arena Caixa de Ginástica, base da equipe de ginástica, e na Arena Caixa de Atletismo, local onde foram realizadas as últimas edições do Troféu Brasil e onde treinava a equipe do ASA São Bernardo. As estruturas são quase vizinhas. É este contrato que não será renovado.

Procurada pelo blog, a prefeitura de São Bernardo foi mais específica e disse que a ginástica recebe uma cota de R$ 800 mil por temporada, valor que deve ser utilizado para: "manutenção do ginásio, auxilio a atletas, pagamentos de taxas federativas e viagens, alimentação, publicidade, assessoramento e demais despesas inerentes à modalidade". Em quatro anos, até junho, terão sido destinados R$ 3,2 milhões para a modalidade.

Esse valor sai da Caixa e chega à prefeitura de São Bernardo do Campo, que descentraliza parte dele para outras instituições. Quando o projeto de ginástica foi criado, em meados de 2014, a entidade que recebia os recursos era a ASA: Associação Sãobernardense de Atletismo. Naquele momento, a cidade acabava de ganhar a Arena Caixa, um galpão do antigo Clube da Volks, reformado por R$ 1,25 milhão pela prefeitura de São Bernardo e estruturado com equipamentos comprados pela CBG com dinheiro do Ministério do Esporte.

Injetar recursos na equipe mediana que Fernando de Carvalho Lopes mantinha há quase duas décadas no Mesc, um clube social, foi a forma encontrada para que o CT tivesse utilidade no dia-a-dia e para que São Bernardo ganhasse projeção na ginástica. Assim, a antiga equipe do Mesc virou ASA/Mesc, sendo reforçada por Diego Hypolito e Caio Souza, ambos contratados com a verba do patrocínio da Caixa. Então prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT) foi quem apresentou Diego à imprensa.

Em agosto de 2015, porém, a prefeitura de São Bernardo parou de repassar recursos ao ASA. Não que a equipe tenha sofrido qualquer modificação: treinador, atletas e patrocinador continuaram os mesmos. A diferença é que o dinheiro passou a ir, por convênio, para outra entidade, a Associação Desportiva e Cultural São Bernardo (ADC São Bernardo), uma espécie de ONG, ligada à prefeitura, e que é dona, por exemplo, de uma franquia da Superliga Masculina de Vôlei – o time joga com o "nome fantasia" de Corinthians/Guarulhos.

Quando a primeira denúncia de abuso sexual surgiu, em junho de 2016, Fernando era oficialmente um funcionário da ADC São Bernardo, que o afastou. Hoje, a equipe continua treinando na Arena Caixa, mas com outro treinador, Ricardo Yokoyama, contratado depois de longo trabalho na AABB. Além do time masculino, há também um feminino, essencialmente de base.

Procurada pela reportagem, a prefeitura de São Bernardo não soube explicar por que houve mudança no destino do repasse da verba da ginástica, da ASA para a ADC. A alegação do governo municipal foi de que a decisão foi tomada pela gestão anterior. O Olhar Olímpico enviou perguntas para o diretório estadual do PT em São Paulo, presidido por Luiz Marinho, mas não obteve respostas.

Leia mais: Como dinheiro transformou Fernando Lopes de formador a técnico de seleção

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.