Topo

Olhar Olímpico

Criticado por ex-atletas, Marcos Goto é chamado para conversa no COB

Demétrio Vecchioli

04/05/2018 17h23

Marcos Goto era treinador do clube Mesc na época em que ocorreram os supostos casos de assédio cometidos pelo técnico da seleção Fernando de Carvalho Lopes. | RicardoBufolin/CBG

Marcos Goto (Ricardo Bufolin/CBG)

Acusado por ex-atletas de fazer piadas com as queixas que Fernando de Carvalho Lopes os molestava, Marcos Goto terá que dar explicações ao COB, que é quem paga seu salário. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) convocou o treinador-chefe das seleções masculina e feminina de ginástica artística para uma conversa no próximo dia 14, segunda-feira, no Rio de Janeiro.

A data coincide com um período de treinamentos da seleção, que vai se reunir no Parque Aquático Maria Lenk, onde fica o CT do Time Brasil e, especificamente, da ginástica artística. Há quatro anos, o Ministério do Esporte e a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) chegaram a apresentar a Arena Caixa, em São Bernardo do Campo, como o centro de treinamento da equipe masculina. Foi a existência dessa estrutura que permitiu a Fernando transformar sua equipe, então de nível intermediária, numa das mais poderosas do país, contratando atletas de seleção.

Contra Goto não pesa nenhuma denúncia de teor sexual, que são restritas a Fernando, mas o hoje treinador da seleção brasileira é acusado de ter conhecimento das denúncias e fazer piada com as vítimas. "Quando mudei para São Caetano, todos os técnicos sabiam. Os técnicos todos faziam piadas. Uma piada ou outra alguns faziam. Mas o Marcos (Goto) chacoteava bastante. Ele chacoteou bastante as pessoas. Por que em vez de fazer piada, ele não fez alguma coisa para ajudar?", reclamou uma das vítimas, que não quis se identificar, na matéria veiculada no domingo pelo Fantástico.

Outra vítima também citou Goto como responsável pelas piadas. "Era o Marcos. O Marcos Goto que fazia. Os auxiliares testemunhavam isso. Todos testemunhavam porque a piada era feita abertamente. Ficava constrangido de ouvir isso. Saber que eu passei por isso e continuar sofrendo piada na frente de todo mundo era doloroso", afirmou ao programa. São Caetano do Sul e São Bernardo do Campo são cidades vizinhas e diversos atletas que deixaram o Mesc reclamando do assédio de Fernando foram trabalhar com Goto no Serc.

Técnico campeão olímpico com Arthur Zanetti, Goto chegou à seleção e, em 2016, foi quem passou a trabalhar diariamente com Diego Hypolito depois que Fernando foi afastado da equipe a menos de um mês do início da Olimpíada. Era ele o treinador individual de Hypolito quando a sonhada medalha olímpica foi conquistada. Depois dos Jogos, Goto e foi promovido a treinador-chefe dos times masculino e feminino, passando a ser contratado pelo COB.

Procurado pelo Olhar Olímpico na segunda-feira, ele disse que só falaria no "momento oportuno". Na terça,  enviou comunicado à imprensa alegando que os fatos narrados pelos atletas eram tratados como boatos. "Em primeiro lugar, boatos não são fatos. Os boatos existiam na ginástica. O mundo da ginástica inteiro no Brasil sabia dos boatos. Todos já tinham ouvido sobre esses boatos, mas os atletas jamais tinham chegado em algum adulto e falaram realmente o que aconteceu. Tanto que só agora esse caso começa a sair e os atletas começam a falar. Jamais algum atleta veio a mim e relatou o que aconteceu como está sendo falado agora. Gracejos sempre tiveram no meio da ginástica. Esses boatos existiam realmente, mas o fato nunca foi falado para mim ou para outro treinador", argumentou.

Antes do COB, a Confederação Brasileira de Ginástica já havia informado que faria uma "oitiva" do treinador sobre a acusação de "comportamento inadequado". Até agora, nenhuma data foi anunciada. A delegada responsável pelo caso na Delegacia de Defesa da Mulher de São Bernardo também deverá convocá-lo a depor.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.