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Olhar Olímpico

CBG diz confiar em Goto e lança Zanetti como embaixador contra assédio

Demétrio Vecchioli

04/05/2018 19h40

(Marcos Goto (Ricardo Bufolin/CBG)

A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) saiu em defesa do treinador-chefe das seleções brasileiras de ginástica, Marcos Goto, criticado por ex-atletas por supostamente fazer graça dos relatos de que eles haviam sido molestados pelo técnico Fernando de Carvalho Lopes. Nesta sexta-feira, em reunião com o Ministério Público do Trabalho, a direção da CBG disse que confia no treinador.

"A direção da CBG reafirmou seu compromisso e confiança perante o coordenador Marcos que, vale ressaltar, foi quem incluiu no programa do seminário realizado em janeiro entre COB e CBG para treinadores de ginástica justamente o tema de combate ao abuso e assédio. E foi também um dos apoiadores para desenvolvimento de ações educativas do tema", diz a ata da reunião, assinada pelo consultor jurídico da CBG, Paulo Schmitt.

Marcos Goto também foi ouvido e disse que tudo não se trata de "mera boataria". Na ata consta que ele afirmou que sua história "não é compatível com qualquer conduta que não seja a de todos uma vida dedicar-se ao desenvolvimento da ginástica, não podendo jamais esse legado sequer ser questionado por mera boataria".

A reunião serviu para CBG e MPT tratarem assuntos referentes às denúncias de assédio sexual contra Fernando de Carvalho Lopes, que tramitam na esfera policial desde 2016 e que foram expostas em reportagem do Fantástico de domingo. Durante o encontro, ficou definido que a regulamentação do Código de Ética da CBG, lançado em janeiro, se dará em forma de cartilha.

Por sugestão dada por Goto em janeiro, ficou definido que a partir de junho devem ser implementadas ações como atividades promocionais de combate ao assédio sexual em competições e em preleções de seleções. Para tanto, foi indicado o campeão olímpico Arthur Zanetti como uma espécie de embaixador da campanha. Ele é treinado por Goto.

COB chama para conversar

Goto não é contratado diretamente pela CBG, mas sim pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB), que mais cedo revelou que chamou o treinador para uma conversa no próximo dia 14, segunda-feira, quando a seleção brasileira vai treinar no Maria Lenk.

Contra Goto não pesa nenhuma denúncia de teor sexual, que são restritas a Fernando, mas o hoje treinador da seleção brasileira é acusado de ter conhecimento das denúncias e fazer piada com as vítimas. "Quando mudei para São Caetano, todos os técnicos sabiam. Os técnicos todos faziam piadas. Uma piada ou outra alguns faziam. Mas o Marcos (Goto) chacoteava bastante. Ele chacoteou bastante as pessoas. Por que em vez de fazer piada, ele não fez alguma coisa para ajudar?", reclamou uma das vítimas, que não quis se identificar, na matéria veiculada no domingo pelo Fantástico.

Outra vítima também citou Goto como responsável pelas piadas. "Era o Marcos. O Marcos Goto que fazia. Os auxiliares testemunhavam isso. Todos testemunhavam porque a piada era feita abertamente. Ficava constrangido de ouvir isso. Saber que eu passei por isso e continuar sofrendo piada na frente de todo mundo era doloroso", afirmou ao programa. São Caetano do Sul e São Bernardo do Campo são cidades vizinhas e diversos atletas que deixaram o Mesc reclamando do assédio de Fernando foram trabalhar com Goto no Serc.

Técnico campeão olímpico com Arthur Zanetti, Goto chegou à seleção e, em 2016, foi quem passou a trabalhar diariamente com Diego Hypolito depois que Fernando foi afastado da equipe a menos de um mês do início da Olimpíada. Era ele o treinador individual de Hypolito quando a sonhada medalha olímpica foi conquistada. Depois dos Jogos, Goto e foi promovido a treinador-chefe dos times masculino e feminino, passando a ser contratado pelo COB.

Procurado pelo Olhar Olímpico na segunda-feira, ele disse que só falaria no "momento oportuno". Na terça,  enviou comunicado à imprensa alegando que os fatos narrados pelos atletas eram tratados como boatos. "Em primeiro lugar, boatos não são fatos. Os boatos existiam na ginástica. O mundo da ginástica inteiro no Brasil sabia dos boatos. Todos já tinham ouvido sobre esses boatos, mas os atletas jamais tinham chegado em algum adulto e falaram realmente o que aconteceu. Tanto que só agora esse caso começa a sair e os atletas começam a falar. Jamais algum atleta veio a mim e relatou o que aconteceu como está sendo falado agora. Gracejos sempre tiveram no meio da ginástica. Esses boatos existiam realmente, mas o fato nunca foi falado para mim ou para outro treinador", argumentou.

 

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.