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'Acusação é totalmente diferente de caso americano', diz defesa de Fernando

Demétrio Vecchioli

30/04/2018 13h03

Crédito: RicardoBufolin/CBG

A denúncia contra Fernando de Carvalho Lopes, ex-técnico da seleção brasileira masculina de ginástica artística, é "totalmente diferente" daquela que levou o médico Larry Nassar, do time norte-americano, a ser condenado a 300 anos de prisão nos Estados Unidos. É isso que alega o advogado Luis Ricardo Vasques Davanzo, contratado para defender Fernando.

"As acusações contra o médico americano são totalmente diferentes, totalmente diferentes, mas as pessoas querem fazer analogia com o caso. Pelo pouco que eu sei, porque o caso está correndo em segredo de Justiça, nenhuma acusação foi assim… assedio sexual é algo reprovável, mas nenhuma acusação foi no sentido de abuso sexual ou algo do tipo", disse Davanzo, em entrevista por telefone ao Olhar Olímpico.

No domingo, uma reportagem exibida pelo Fantástico, da Rede Globo, mostrou uma série de relatos, anônimos e também diante das câmeras, de atletas que foram treinados por Fernando e o acusam de tocar em suas partes íntimas, pedir para que se masturbassem em sua frente e impedir que tomassem banho reservadamente. Um deles inclusive relatou que, em um exercício, Fernando enfiou a mão em seu calção e retirou seu pênis para fora.

Para o advogado, porém, o fato de não haver denúncia de penetração torna o caso de Fernando diferente do de Nassar. "O caso do médio americano havia consumação de ato, introdução, nesse aspecto que é totalmente diferente. Pela lei, hoje o tipo de crime sexual é muito aberto, se tocou já é considerado estupro. A lei mudou, não era assim, havia necessidade de haver penetração. É diferente do caso de uma pessoa que houve introdução de dedo ou penetração", argumentou Davanzo.

De acordo com o advogado, que também é presidente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil em São Bernardo do Campo, ele ainda não pode comentar com detalhes o caso porque não há uma denúncia formal na Justiça. O caso estaria parado entre o Ministério Público e a Polícia Civil, que aguarda para fazer oitivas. A primeira denúncia foi realizada em 2016.

"Para fazer a defesa, a gente precisa ver a acusação. A demora da acusação está baseada no fato que do MP requereu inúmeras oitivas. Se a acusação não está formada é difícil se defender. Talvez agora com a reportagem de ontem (domingo) fique um pouco mais fácil saber quais as acusações. O Fernando nega tudo, mas reconhece que tenha sido um professor exigente com todas as pessoas", continua o advogado.

Davanzo acha "curioso" que a primeira denúncia contra Fernando tenha surgido poucas semanas antes da Olimpíada do Rio. "Nunca houve denúncia formal no clube. Quando acontece algo, vai alguém no clube e reclama. Não foi o que aconteceu. Se tivesse alguma reclamação normal seria chegar na secretaria de esporte, diretoria do clube e isso acabou não ocorrendo. Estranha a acusação em uma época em que ele estava na iminência de estar no momento profissional de maior relevância, que era ser técnico do Diego Hypolito na Olimpíada."

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Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

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