Astro do skate, Pedro Barros é pego no doping por derivado da maconha
A entrada de novas modalidades no programa olímpico exige a adequação delas a uma série de normas internacionais, incluindo de doping. A pouco mais de dois anos de fazer sua estreia nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, o skate sofreu um duro baque. Maior nome da modalidade no país, Pedro Barros foi flagrado em exame antidoping. Campeão do Oi Park Jam em janeiro, em Itajaí (SC), ele testou positivo para um derivado da maconha. No ano passado, Pedro foi um dos cinco indicados ao prêmio do Laureus para os melhores do esporte radical no mundo. Agora, pode ficar até dois anos suspenso.
O exame foi feito pela Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), que apareceu de surpresa na competição para fazer um exame antidoping pela primeira vez em uma competição de skate. Além de Pedro, também teve resultado analítico adverso Ítalo Peñarrubia, por metilfenidato, estimulante presente em remédios de déficit de atenção. Os dois estão entre os quatro nomes da seleção brasileira de skate park, convocada no começo do mês. No Oi Park Jam, eles foram campeão e quinto colocado, respectivamente.
O Olhar Olímpico apurou, porém, que essa é só a ponta do iceberg. Uma fonte com conhecimento do caso informou que outros atletas testados tiveram resultado analítico adverso. Por enquanto, a ABCD só divulgou os nomes de Pedro e Ítalo, que ainda não receberam suspensão provisória. De acordo com a Confederação Brasileira de Skate (CBSk), ainda não foi aberta a contraprova de nenhum dos dois exames.
Os demais casos vão demorar a se tornar públicos. Seriam menores de idade, que não podem ter seus nomes expostos, e também um competidor internacional, que não aparecem na lista da autoridade brasileira de controle. Neste momento, a preocupação é de primeiro mudar o comando da ABCD, depois avançar nas discussões sobre temas delicados, como esses. Os atletas internacionais devem ser julgados em seus países.
Existe um debate internacional sobre a maconha ser ou não considerada como doping. A Agência Mundial Antidoping (Wada) chegou a elevar consideravelmente o nível mínimo de Carboxy-THC para que um resultado seja considerado analítico adverso (logo, passível de suspensão), apenas em competição. Hoje, esse nível é de 180 ng/mL, mas o exame de Pedro estava em uma faixa acima disso, não revelada pela ABCD.
Pelo código da Wada, o THC é considerado como substância especificada, o que significa que seu uso é menos grave, por haver menos probabilidade de uso para trapaça. De acordo com o advogado Marcelo Franklin, especialista em regras antidopagem, a pena padrão para esse tipo de doping é de até dois anos. A acusação pode até pedir a ampliação para quatro, mas aí a defesa precisa comprovar que o uso ocorreu em contexto não relacionado ao esporte para afastar a presunção de uso intencional para trapaça. A pena, nesse cenário, ficaria em dois anos.
Pedro é o grande nome do skate brasileiro. Menino prodígio, desde 2010, quando tinha 15 anos, ele sobe ao pódio dos X-Games na prova de skate park, colecionando seis medalhas de ouro e três de prata. Procurado por intermédio das assessorias de imprensa de dois de seus patrocinadores, não respondeu até a publicação desta reportagem.
A CBSk já tinha conhecimento do caso e disse à reportagem que está auxiliando os atletas da seleção em todos os aspectos, inclusive legais, e que acredita que não haverá punição para os atletas. A entidade ainda ressaltou que só se tornou a entidade representativa do skate no Brasil em dezembro, começando a trabalhar em janeiro.
Confira nota enviada pela CBSk:
À CBSK cumpre informar que o assunto já é de nosso conhecimento e que estamos auxiliando os nossos atletas em todos os aspectos. Estamos confiantes na absolvição de ambos, principalmente porque os exames acusam substâncias de uso terapêutico para as quais os atletas possuem as devidas prescrições médicas. Nos estranha tbm o fato de a ABCD ter tornado público o assunto antes da abertura da contra prova, contrariando o regimento ao qual estao submetidos. Temos a certeza de que, após todos os procedimentos administrativos, os atletas continuarão exercendo suas atividades normalmente.
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