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Olhar Olímpico

Ex-presidente do Flamengo e do COB, André Richer morre aos 90

Demétrio Vecchioli

11/04/2018 19h44

(Daniel Marenco/Folhapress)

Faleceu nesta quarta-feira, no Rio de Janeiro, o ex-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) André Richer, que tinha 90 anos. Também ex-presidente do Flamengo, Richer estava em estado crítico desde que soube da primeira operação da Polícia Federal contra o COB, em 6 de setembro. Ele passou mal na ocasião e foi levado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Samaritano, no Rio. Lá, foi diagnosticado com um quadro de psicose.

Richer foi presidente do Flamengo entre 1969 e 1973 e última pessoa a presidir o COB antes de Nuzman assumir o poder. Mandatário da entidade entre 1990 e 1995, tendo Nuzman como vice, ele trocou de cadeiras com o amigo em 1995 e seguiu como vice do COB até o fim de 2016, quando deu lugar a Paulo Wanderley.

Diferente de Nuzman, que nunca respondeu a processos como presidente do COB, Richer era réu em um processo na Justiça Federal do Rio por inconsistências em convênios do comitê com o Ministério do Esporte. É que Nuzman deixava para o antigo vice assinar esses contratos.

Há muitos anos, Richer era uma figura decorativa dentro do COB, responsável apenas por assinar papeis. Sozinho depois da morte da companheira e sem filhos, não faltava nunca ao trabalho, segundo informações de funcionários. Passava o dia assistindo à TV Senado ou à TV Câmara e à disposição para assinar o que fosse necessário. "A vida dele era o COB", contou ao blog um antigo colega.

Depois que deixou a vice-presidência, ganhou o cargo de diretor financeiro, que manteve enquanto esteve lúcido. Em 6 de setembro, quando chegou à sede do COB para dar seu expediente, encontrou tudo revirado pela Polícia Federal. Funcionários do COB ainda tentaram disfarçar, mas não teve jeito. Richer teve um ataque nervoso e, desde então, nunca mais voltou a ter lucidez.

Quando o Ministério Público Federal (MPF) solicitou um mandado de busca e apreensão nos endereços associados a Richer, em 5 de outubro, não o encontrou. Ele estava internado, segundo sua defesa, com um quadro de "psicose aguda". No Samaritano, foi operado por causa de uma "complicação abdominal".

Richer era natural Rio Branco, Minas Gerais, e formou-se em Direito no Rio. Nos anos 1950, foi atleta de remo do Flamengo, chegando a disputar os Jogos Olímpicos de Melbourne (Austrália), em 1956. De acordo com o COB, que decretou luto oficial de três dias, Richer também foi diretor jurídico, diretor técnico e Chefe de Missão nos Jogos Olímpico Moscou-1980, Los Angeles-1984 e Seul-1988. Entre 1990 e 1995, foi vice.

"Richer teve uma vida inteiramente dedicada ao esporte. Líder nato desde os tempos de atleta olímpico, dedicou seu tempo e enorme energia ao desenvolvimento do esporte brasileiro, assumindo cargos de chefia tanto na CBF quanto no COB. O esporte brasileiro perde um dos seus mais importantes colaboradores", disse o presidente do COB, Paulo Wanderley.

No Flamengo, foi presidente entre 1969 e 1973, chegando depois a ser ser diretor da Confederação Brasileira de Futebol entre 1975 e 1986.

Denunciado

Antes mesmo da operação da Polícia Federal no ano passado, Richer já era réu em processo que corre na Justiça Federal do Rio por supostamente fraudar um convênio firmado entre o COB e o Ministério do Esporte. E isso só aconteceu porque, desde 2005, somente Richer assinou convênios com o governo federal em nome do comitê. No período, até 2010 (data do último contrato), foram 24 convênios do COB com o ME. Sem assinar convênios, Nuzman não correria o risco de ser denunciado por improbidade administrativa – só Richer.

E foi exatamente assim em processo que corre na Justiça Federal, relativo a supostas irregularidades na contratação da tradução do Dossiê de Candidatura dos Jogos Olímpicos Rio-2016. Para o MPF-RJ, houve fraude na contratação da empresa V&B Serviços, localizada em um bairro pobre de São Gonçalo (RJ) e que concorreu em uma licitação contra uma empresa de um familiar e outra que, sempre de acordo com a denúncia, não existe. A contratação, por R$ 400 mil, em 2009, foi realizada com recursos de um convênio com o Ministério do Esporte. Ou seja: um contrato assinado por Richer e não por Nuzman.

Por ser um processo por improbidade administrativa, o MPF-RJ solicitou não só o ressarcimento dos valores, mas também que a indisponibilidade dos bens dos acusados até um total de R$ 800 mil, além da perda dos direitos políticos. Junto com Richer, é réu o ex-ministro interino do Esporte Wadson Nathaniel Ribeiro, ex-deputado federal pelo PCdoB de Minas Gerais.

A contratação fazia parte de um convênio de quase R$ 1,5 milhão firmado em setembro de 2008 para a divulgação da candidatura, incluindo produções editoriais (o dossiê foi apresentado como um livro). A V&B Serviços, novamente de acordo com a denúncia do MPF, recebeu valores correspondentes a 11.589 laudas, mas só traduziu 7.839. As demais seriam páginas idênticas às anteriores.

 

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.