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Olhar Olímpico

O que motivou Sarah Menezes a enfim deixar o Piauí e ir para o Flamengo?

Demétrio Vecchioli

20/03/2018 04h00

À medida que os resultados do judô brasileiro evoluem, também o mercado se abre para os melhores atletas. Reação (RJ), Minas Tênis Clube (MG), Pinheiros (SP) e Sogipa (RS) se acostumaram a disputar entre eles a possibilidade de contar com a elite da seleção brasileira. Só nunca conseguiram atrair um nome: Sarah Menezes, que se recusava a deixar o Piauí. Em 2018, porém, o tabu caiu e, aos 28 anos que completará na semana que vem, a campeã olímpica em Londres-2012 enfim resolveu sair de Teresina. Balançou com o convite do Flamengo.

Ao anunciar a contratação do reforço para sua recém reativada equipe de alto rendimento de judô, o Flamengo fez questão de ressaltar que a judoca é flamenguista. Mas esse não é o único motivo que a fez trocar o Nordeste pelo Rio de Janeiro, onde ainda não conhece o Maracanã. O principal deles é a possibilidade de treinar com atletas homens de peso equivalente e mais jovens que ela.

"Sempre treinei com os jovens, mesmo lá no Piauí. O que me incentivou foi a quantidade de jovens para eu treinar aqui no Flamengo, que está com uma base bem estruturada", explicou Sarah em entrevista exclusiva ao Olhar Olímpico.

Uma vez que luta na categoria de peso mais baixa entre as mulheres, Sarah precisa de sparrings que tenham o mesmo peso que o dela (cerca de 50 kg), mas com força equivalente. Ou seja: também não podem ser adultos, até porque a categoria masculina mais baixa é para atletas de até 60kg. Com uma escolinha forte, o Flamengo pôde oferecer isso.

"No ciclo de 2012, quando foi campeã olímpica, a Sarinha tinha bastante meninos deste tipo lá em Teresina, mas esses meninos cresceram, naturalmente. Então ela ficou carente de atletas. No ano passado, ela veio treinar no clube e viu que a gente tem muito sub-15, sub-18 levinho", explica Rosicleia Campos, técnica do Flamengo e da seleção brasileira feminina.

Rosi, aliás, é outro dos motivos que levaram Sarah ao Flamengo. A técnica da seleção brasileira sempre teve boa relação com a piauiense. "Eu estou com a Rosi na seleção desde os meus 15 anos. Estar com ela aqui me faz sentir em casa", conta Sarah – ou "Sarinha", para a "Rosi".

Estar o tempo todo perto da técnica da seleção também significa ter alguém sempre no pé de Sarah para que ela controle o peso. Na temporada passada, por recomendação da comissão técnica da seleção (logo, com influência de Rosi), Sarah subiu para a categoria até 52kg, mas apresentou resultados muito aquém do esperados. Voltou à 48kg, mas precisa fechar a boca.

"É uma coisa que ela tem que saber lidar. Ela tem o perfil de gulosa. Se a gente estiver num restaurante, a Susu (Maria Suelen Altheman, peso pesado) vai comer o brócolis e o peixe. A Sarinha vai querer a lasanha. Ela tem a cabeça de gordo. Mas é a hora de abrir mão disso tudo, ela sabe e está feliz", conta Rosicleia.

A treinadora vinha trabalhando apenas com jovens no Flamengo. E achava que precisava de uma atleta que servisse de inspiração para a molecada. Esse é mais um dos motivos da ida de Sarah Menezes ao Rio. "O judô estava carente, há muito tempo que o Flamengo não investia de ter uma atleta de referência dentro do tatame. Precisa ver como o treinão está mais animado. Ela é uma campeã olímpica de uma acessibilidade incrível. Traz toda a bagagem a vivência. Além disso, dá visibilidade. Agora todo mundo passa no dojô (local onde é feito o treinamento no esporte) para ver nosso treino", conta Rosicleia.

Sarah concorda: "O legal do clube é a harmonia no treino. É um treino bem competitivo para todos. No Flamengo tem mais pessoas do que no meu clube em Teresina. Isso é bom porque posso treinar com judocas de diferentes perfis."

Apesar da transferência para o Flamengo, inicialmente com contrato só até o fim do ano, Sarah continua ligada ao seu antigo treinador, Expedito Falcão. "Falo com ele quase todos os dias. Ele me ajuda muito. Sempre foi assim…
Eu conversei com ele, ele entendeu perfeitamente e sempre tivemos uma relação aberta. Eu sei que, onde eu estiver, eu posso contar com ele. Nós somos amigos acima de tudo", afirma Sarah.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.