Calderano faz história, vence chinês e fará final inédita no tênis de mesa

Calderano é a capa da World Table Tennis deste mês.

Quinta-feira da semana passada, finalmente consegui entrevistar Hugo Calderano, depois de quase um mês de desencontros. Queria ouvi-lo para contar que nunca um brasileiro esteve tão perto de ganhar de um chinês no tênis de mesa. Pelo Skype, Hugo não parecia tão otimista quanto eu. "Os chineses raramente perdem. Mas eu trabalho para conseguir", me disse, determinado, mas com os pés no chão. Mal sabia ele que esse dia chegaria tão rápido, neste sábado.

"Estamos vendo um momento histórico." "Isso é um sonho? É real?" O narrador da transmissão internacional do Aberto do Catar, feita pela federação internacional, deu o tom do que foi a vitória de Calderano sobre Lin Gaoyuan, por 4 sets a 0 (11/9, 11/8, 11/3 e 11/6) na semifinal em Doha, levando-o à final de um dos torneios mais importantes do calendário, que reúne toda a elite da modalidade. Havia quase um ano que nenhum dos quatro melhores chineses da atualidade perdiam um jogo para qualquer jogador que não um asiático.

Não é preciso ser nenhum especialista em tênis de mesa para saber que existem dois níveis diferentes na modalidade: o dos chineses e de todos os outros. Em todo o ano passado, foram apenas quatro vitórias de não-asiáticos contra os melhores chineses – aqueles que disputam as principais etapas do circuito mundial. Nenhuma por 4/0, como de Calderano neste sábado, todas dos alemães Timo Boll e Dimitrij Ovtcharov, respectivamente hoje os números 1 e 3 do mundo.

Na sexta, Calderano venceu Boll para avançar às quartas de final, por 4/1. Houve quem argumentasse – com razão – que, na liderança do ranking, o alemão não é o melhor do mundo. Que só está nesta posição por conta da mudança nos critérios do ranking para essa temporada. Que quem manda no tênis de mesa são os chineses, especialmente Fan e Lin Zhendong, respectivamente números 2 e 4 do mundo.

Calderano deixou claro que número pouco importa. Ele, que é o 15º do mundo, atropelou Lin. Exceto o primeiro set, um pouco mais disputado, o jogo foi um passeio do brasileiro, que também deixou o ritmo cair um pouco depois de fazer 10/4 no segundo set.

"Eu não esperava isso, mas estou muito feliz de alcançar a final agora. Todas as horas de treino e de sofrimento me permitiram jogar nesse nível tão alto. Não é qualquer um que pode ganhar de um chinês por 4/0", afirmou à transmissão internacional. Mais cedo, pelas quartas de final, ele havia vencido o japonês Tomokazu, fenômeno de 15 anos que já é o 12º do mundo.

No domingo, Calderano joga a final do Aberto do Qatar contra Fan Zhendong, chinês que fez um jogo parelho contra seu compatriota Xu Xin, quinto do mundo, vencendo por 4/3. Ainda que não consiga a vitória, a campanha já é histórica para o Brasil, uma vez que o torneio é do nível mais alto do calendário internacional. Equiparando com o tênis, é como se Calderano estivesse numa final de Grand Slam depois de vencer Federer e Djokovic. Agora, que venha Nadal.