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Olhar Olímpico

Secretário isenta Eletropaulo e diz que falha no Pacaembu é inédita

Demétrio Vecchioli

05/03/2018 19h55

(Divulgação)

Com Bruno Freitas e Gabriel Carneiro

A Eletropaulo não tem qualquer responsabilidade sobre a queda de energia que interrompeu por cerca de 45 minutos o clássico entre Santos e Corinthians, domingo, no Pacaembu. Quem garante isso é o secretario municipal de Esporte de São Paulo, Jorge Damião. Em entrevista ao UOL Esporte no começo da noite desta segunda-feira, ele contradisse uma nota oficial emitida mais cedo pela própria Secretaria de Comunicação da prefeitura.

"O relatório preliminar elaborado hoje (segunda) apontou que houve um problema na cabine primária, que é um equipamento do próprio estádio. Essa falha pode ter ocorrido em razão de oscilação na rede da Eletropaulo, da energia do gerador ou ainda por um erro do próprio equipamento", informou, mais cedo, a prefeitura.

Mas, na verdade, a Eletropaulo não estava atuando no fornecimento de energia do estádio durante o clássico.  Historicamente, pelo que explicou Damião, a oscilação na rede da Eletropaulo na região do Pacaembu faz com que os clubes optem por locar geradores. Assim, como de costume, era um gerador de energia locado pelo Santos por R$ 14 mil que iluminava o estádio quando as luzes se apagaram, aos 21 minutos do segundo tempo.

Leia: De olho em privatização, gestão Doria infla custo de manutenção do Pacaembu

Uma análise preliminar da prefeitura, que contou com o auxílio de técnicos da Eletropaulo, identificou uma falha na cabine primária, um equipamento do estádio que recebe a energia vinda do gerador (ou da rede elétrica) e a distribuiu entre as torres. "A grosso modo, o problema foi causado pela leitura do relé. Houve uma oscilação da rede, o relé identificou e tentou atuar. Com isso, desligou o disjuntor. Aí tem de 15 a 20 minutos até recomeçar tudo de novo", comentou Damião. "Estimulamos 48h para detectar o problema. De sexta a domingo a gente estava fazendo um levantamento elétrico. Se tivesse acontecido 25 minutos, depois não teria esse problema todo."

Ele nega que a prefeitura tenha se omitido, ainda que esta seja a quinta vez que a energia elétrica do Pacaembu cai em partidas de futebol só este ano. Foram 15 minutos de paralisação em Palmeiras x Portuguesa (pela Copa São Paulo) e cerca de 30 minutos em São Caetano x Corinthians. Além disso, faltou luz em Corinthians x Ferroviária (antes e depois do jogo) e em Corinthians x São Paulo (breve queda).

"As quatro vezes os problemas foram resolvidos e os jogos voltaram. Foram resolvidos dentro de cada problema que teve. Em um teve um super aquecimento do gerador. Outro não tinha o equipamento e buscou-se uma nova solução. Mas essa é a primeira vez que acontece esse problema na cabine primária", assegurou o secretário.

Apesar de o problema ser inédito, segundo ele, o diretor do Pacaembu, José Eduardo Gomes, foi afastado. Questionado sobre a decisão, Damião explicou que "puxou a gestão" do problema para o "gabinete". Ou seja: que pelas próximas 48 horas, no mínimo, é ele quem comanda a operação do estádio. Para isso, pediu auxílio a engenheiros da própria SEME, à cúpula da Eletropaulo e a Francisco Dada, hoje diretor do Departamento de Gestão de Políticas e Programas de Esporte e Lazer (DGPE), mas que antigamente trabalhava no Pacaembu.

Será essa "força-tarefa" – na verdade, o que o mercado conhece como comitê de crise – que tomará decisões sobre o Pacaembu. O Santos volta a atuar no dia 15 de março no Pacaembu, quando pega o Nacional pela Libertadores, e a expectativa é que até lá tudo esteja resolvido. A Eletropaulo, segundo Damião, se comprometeu essa oscilação na rede e deixar uma equipe de plantão para o caso de uma necessidade.

De acordo com a Prefeitura de São Paulo, a ideia é que a Eletropaulo "estude a instalação de um novo circuito elétrico na região do Pacaembu, tendo em vista que o estádio é um consumidor final de linha e recebe carga instável". Ainda não há prazo para isso acontecer.

Locar um gerador custou R$ 14 mil para o Santos na partida contra o Corinthians. Diante do Ituano, o investimento foi de R$ 11 mil. O próprio Corinthians pagou R$ 9 mil pelo gerador usado contra a Ponte Preta, em um dos poucos jogos sem registros de oscilações energéticas – os outros foram São Paulo x Flamengo, em 25/1, pela Copa São Paulo, e Santos x Ituano, já no Paulistão.

Diretamente interessado na resolução do problema, o Santos (que não fala oficialmente sobre o caso) teria se oferecido para ajudar. "Conversei longamente com o presidente do Santos, que se colocou à disposição para mandar junto uma equipe de engenharia do Santos, para a gente buscar uma solução do problema", contou Damião.

Questionado sobre os dados informados pela própria SEME, que apontam aumento no custo de manutenção do Pacaembu no primeiro ano da gestão de João Dória em comparação com a media de seu antecessor, Fernando Haddad, Damião desconversou e pediu para aguardar até a divulgação dos números oficiais de 2017, o que só vai acontecer em abril.

Procurada pela reportagem do UOL Esporte, a Eletropaulo apenas informou que "não houve problema com o fornecimento na sua rede de distribuição de energia elétrica".

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.