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Olhar Olímpico

Brasileirão teve cinco atletas pegos no doping, mas nenhum foi suspenso

Demétrio Vecchioli

01/02/2018 17h42

Pedro Ken, do Ceará, e Lucas Crispim, do Santos, estão entre os cinco atletas que foram flagrados pelo consumo de substâncias proibidas em exames antidoping realizados durante o Campeonato Brasileiro do ano passado, entre as quatro divisões nacionais. Nenhum dos casos, porém, foi tornado público, da mesma forma que nenhum deles foi suspenso sequer preventivamente, em postura que contrasta com a que vinha sendo recorrente até o ano retrasado. Ramón (do Boa), Eliandro (do Guarani) e Dirceu (do Juventude) também escaparam de uma suspensão preventiva e sequem livres para atuar.

Desde 9 de maio do ano passado, não cabe mais aos tribunais das confederações (os conhecidos STJD's) julgarem casos de doping, mas sim ao Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TJDA), ligado à Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) e ao Ministério do Esporte. E, na mão do TJDA, a postura punitiva foi abrandada, especialmente no futebol.

De acordo com a ABCD, há atualmente 18 jogadores de futebol na fila, aguardando julgamento definitivo. Desses, 12 casos são anteriores à data em que o TJDA passou a ser o exclusivo responsável pelas punições. Até então, a prática era suspender preventivamente: foram oito casos de suspensão preventiva aplicada, em um total de 12 atletas que tiveram resultado analítico adverso – ou seja, 66%.

Desde que o TJDA assumiu completamente o processo, as punições acabaram. A partir de 9 de maio, há o registro de seis jogadores que foram flagrados em exames antidoping. E todos foram liberados para continuar jogando até serem julgados pelo tribunal, o que ainda não tem data para acontecer – na fila, de outras modalidades, há um caso de 2015 e sete de 2016.

Em nota, o TJDA explicou ao blog que existem dois tipos de suspensão preventiva: a com aplicação obrigatória e a  facultativa, determinadas pelo tipo de substância encontrada na amostra do atleta. "As substâncias classificadas como 'não especificadas' exigem aplicação mandatória da suspensão preventiva. Já no caso das substâncias classificadas como 'especificadas' – comumente encontradas em complementos alimentares, o que possibilitaria uma contaminação acidental -, a aplicação da suspensão preventiva é facultativa", complementa o tribunal.

Ainda assim, porém, posturas diferentes foram tomadas para casos de doping semelhantes. O meia Ramón, do Boa, caiu no doping no jogo contra o Paraná, pela Série B, em agosto. A substância encontrada no corpo dele foi a hidroclorotiazida, um diurético. Ramón foi liberado a continuar jogando, enquanto Gabriel Valongo (Campinense) e Daniel Simões (Catanduvense), flagrados pela mesma substância antes de 9 de maio, foram e estão suspensos.

O cenário está longe de ser único. O meia Eliandro, então no Guarani, testou positivo para furosemida numa partida da Série B também contra o Paraná, em junho. A substância também é um diurético e ele não foi suspenso. Nicole Keppke Lopes, atleta da canoagem, por exemplo, também teve resultado analítico adverso para furosemida, em maio, sendo suspensa.

Dentre os jogadores flagrados no doping nas quatro séries do Brasileirão do ano passado, o mais conhecido é Pedro Ken, que defendeu o Ceará na Série B. O doping dele foi por anastrozol, mesma substância utilizada pela velocista Vanda Gomes, suspensa por dois anos pela CBAt em 2014. Mas Pedro Ken, flagrado no jogo contra o Santa Cruz, em setembro, foi liberado para continuar jogando. Mesma sorte não teve, entre outros, Daniel Mesquita Martini, do tiro com arco, que aguarda julgamento desde 2015 em suspensão preventiva.

Hoje no São Bento, o meia Lucas Crispim é o único caso de doping na Série A do ano passado. No duelo entre o Santos e o Flamengo, pela penúltima rodada, o então jogador do Sanos foi sorteado para o antidoping e deu positivo para fenoterol. A substância é encontrada em medicamentos para aspa e quase tirou Etiene Medeiros da Olimpíada – diferente de Crispim, ela foi suspensa preventivamente e só foi liberada para competir após ser inocentada no STJD da natação.

A relação é completada pelo meia Dirceu, do Juventude, que caiu no doping em uma partida contra o Vila Nova, em agosto. O caso dele é o que mais se encaixa na não-aplicação de suspensão preventiva. É que ele testou positivo para isometepteno, o conhecido princípio ativo do remédio Neosaldina. Ainda assim, há diversos exemplos de atletas na mesma situação que foram suspensos, como Wendell Jeronimo Souza, do atletismo, também em 2017.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.