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Olhar Olímpico

Quatro anos após acidente, Brasil ainda procura uma nova Lais para o esqui

Demétrio Vecchioli

27/01/2018 04h00

(Margaret Cheatham Williams/The New York Times)

Há quatro anos, Lais Souza sofria o acidente que marcaria sua vida. Em preparação para os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, ela estava esquiando nos Estados Unidos quando perdeu o controle sobre o esqui, chocou-se contra uma árvore, e teve séria lesão na terceira vértebra (C3) da coluna cervical, perdendo movimentos, sensibilidade e controle de todos os órgãos abaixo do pescoço. Ex-ginasta, ela competiria no esqui aéreo, prova do esqui estilo livre considerada estratégica para a Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN). Um novo ciclo olímpico inteiro passou, porém, e nenhuma substituta foi encontrada até agora.

Com Lais ainda internada nos Estados Unidos, o Brasil até participou do esqui aéreo em Sochi, com Josi Santos, também uma ex-ginasta. As duas haviam sido recrutadas no ano anterior, num projeto ousado da CBDN, que identificou a possibilidade de disputar uma prova que tem poucos praticantes ao redor do mundo. O projeto deu certo, as duas se classificaram, mas na Rússia Josi terminou em último. Em PyeongChang, a partir do próximo dia 9, o Brasil não será representado.

Presidente da CBDN, Stefano Arnhold explica que a prova continua fazendo parte do planejamento estratégico da confederação, mas que o documento vale "para o lado positivo e para o negativo". "Nós já fizemos seletivas para duas novas gerações, mas as meninas que foram selecionadas não atingiram as metas e acabaram não chegando lá", conta.

A primeira opção da CBDN era investir na própria Josi, que hoje tem 34 anos. Ela chegou a competir depois da Olimpíada, mas acabou não continuando no projeto por opção da confederação. "A Josi tinha que ter uma progressão a partir de Sochi. Para Sochi, a nossa meta era a classificação, mas para 2018 não era mais se classificar, então tinha que continuar progredindo e, infelizmente, ela não progrediu", lamenta Stefano.

Desde 2014, a CBDN tem buscado substitutas. Primeiro, encontrou Mariah Soares e Ana Mussi. Depois, em 2015, selecionou Julia Rabelo e Adrian Gomes, todas ex-ginastas, sendo que a última chegou a ser convocada para os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, e cortada já na Vila Olímpica por lesão. Desde o início do projeto, a CBDN entende que ginastas têm as característica necessárias para a prova.

Nenhuma delas continua na equipe, porém. Mariah, a primeira a entrar, sofreu duas lesões no joelho e acabou derrotada pelo corpo, enquanto as demais ou desistiram ou foram dispensadas por não terem atingido os objetivos propostos. "O nosso planejamento determina que se você está com atletas que não atingem os índices previstos, você é obrigado a selecionar uma nova geração. Tinha menina que a gente manteria mesmo sem ter atingido o exigido, daria uma chance, mas que decidiu não continuar", conta o presidente da CBDN.

Se com Lais e Josi o projeto foi realizado a toque de caixa, visando Sochi, agora a CBDN quer etapas mais longas. As meninas selecionadas primeiro precisam treinar as partes física e acrobática, em São Paulo, para depois aprenderem a esquiar. O terceiro passo é treinar em uma rampa na água, na Bielo-Rússia, e o quarto o treino no CT montado em São Roque, no interior de São Paulo. Só depois disso tudo é que a atleta vai de fato fazer o salto acrobático na neve.

No processo de classificação para a Olimpíada de PyeongChang, nenhuma brasileira participou. Isso não significa que o projeto esteja descartado. "Passamos por uma renovação completa na equipe e nossas meninas têm 15, 16, 17 anos, e estão em um outro ciclo ainda, de desenvolvimento acrobático. Não fazia sentido de longo prazo tentar a classificação e optamos por não estar presente nessa Olimpíada, seguindo nosso caminho natural no desenvolvimento dessa equipe. Se tudo correr bem, em 2022 vamos estar presentes", afirma Stefano.

Como nenhuma atleta está no estágio de fazer saltos na neve, o Brasil está sem um treinador estrangeiro. Por enquanto, as jovens Luana Silva (única com passagem pela seleção), Beatriz Sales e Stephany Costa trabalham com uma treinadora acrobática no Centro Olímpico, em São Paulo, três vezes por semana. Ainda neste inverno no hemisfério norte, vão aprender a esquiar.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.