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Olhar Olímpico

Sem candidato natural, COB abre processo para escolher novo vice

Demétrio Vecchioli

09/01/2018 11h43

Nuzman e Paulo Wanderley (Heitor Vilela/COB)

O Comitê Olímpico do Brasil (COB) abriu na segunda-feira o processo eleitoral para escolher um novo vice-presidente, uma vez que o cargo está vago depois que Carlos Arthur Nuzman renunciou à presidência e Paulo Wanderley, eleito vice, foi promovido de forma efetiva. A eleição, que ainda não tem data marcada, é uma prova de fogo para o COB, que não formou uma substituto natural para a dupla.

Esta é a primeira vez em muitos anos que o colégio eleitoral do COB de fato tem que fazer uma escolha que não é de cartas marcadas. Antes de ser eleito presidente do COB, em 1995, Nuzman era o vice de André Richer. Naquele ano, eles inverteram suas funções e continuaram nelas até o fim de 2016. Richer abriu mão do cargo e acabou sendo natural a escolha por Paulo Wanderley, o líder dos presidentes de confederações.

Agora, não há nenhum nome de consenso. Toninho Fernandes, do atletismo, é o mais experiente entre os presidentes que defenderam a ampliação do número de atletas no colégio eleitoral – ou seja, entre os membros de uma ala de dirigentes mais modernos. Mas ele perdeu força depois que o Olhar Olímpico denunciou suspeitas de fraudes em convênios com o governo do Estado de São Paulo. Toninho apresentou uma nota de R$ 550 mil de hospedagem a alimentação de atletas durante uma edição do Troféu Brasil, listou 370 atletas beneficiários, mas mais de uma centena deles nega ter recebido o serviço. Desde então, há um movimento forte que pede seu afastamento da presidência da CBAt.

Com Toninho colocado de lado, as grandes confederações ficam com suas possibilidades reduzidas. As de judô, basquete e natação têm presidentes recém-eleitos, sem experiência no cargo, enquanto que as de handebol e vôlei têm dirigentes envolvidos nas mais diversas denúncias. A exceção é a vela, mas a escolha por Marco Aurélio de Sá Ribeiro sofreria rejeição da ala mais conservadora – ele está no outro oposto.

Já os dirigentes que saíram derrotados na polêmica queda de braço pelo aumento do número de atletas no colégio eleitoral perderam força. O grupo, que tinha 15 membros em dezembro, na primeira votação, é composto basicamente pela "velha guarda" e tem como líder o presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), Alaor Azevedo, outro envolvido em escândalos.

Além disso, não é segredo para ninguém dentro do COB que o Ministério Público Federal e a Polícia Federal estão em estágio avançado em investigações que envolvem boa parte das confederações. Não interessa a ninguém correr o risco de, daqui a alguns meses, o COB voltar ao noticiário com um vice-presidente preso.

Não será surpresa então se a escolha recair sobre um outsider, alguém de fora do COB. Ainda mais porque, com a mudança estatutária, um candidato não precisa ter vínculo com nenhuma confederação, precisando do apoio de apenas três membros da assembleia para ser registrado. E, vale lembrar, são os 12 os atletas que agora fazem parte da assembleia.

As inscrições ficarão abertas até o dia 8 de fevereiro e, além da vice-presidência, também estão abertos 10 postos no Conselho de Administração, sendo presidentes de entidades filiadas ao COB e dois membros independentes, além de cinco no Conselho de Ética, das quais obrigatoriamente três para membros independentes.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.