Confederações rechaçam proposta do COB e atletas terão só cinco votos
Reunidas na manhã desta quarta-feira na sede do Comitê Olímpico do Brasil (COB), as 30 confederações que atualmente têm direito a voto na assembleia geral do comitê decidiram manter o status quo delas próprias. Aprovaram praticamente na íntegra a proposta de novo estatuto apresentada por uma comissão formada pelas próprias confederações, mas fizeram uma alteração significativa: os atletas terão direito a apenas cinco votos.
A proposta apresentada pela estatuinte, uma comissão formadas pelos presidentes das confederações de atletismo, vela e esgrima e pelo representante dos atletas, o judoca Tiago Camilo, sugeria um voto de atleta para cada três de confederações. Ou seja: 12 votos na próxima eleição. Mas, por 15 a 14, foi aprovada nesta quarta-feira uma modificação. Os atletas só terão cinco votos, contra 35 das confederações – a partir do ano que vem, as de beisebol, caratê, skate, surfe e escalada também farão parte do COB.
A proposta foi feita por Durval Balen, presidente da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo (CBTE). Quando começou a discussão, o presidente do conselho administrativo da Confederação Brasileira de Rúbgi (CBRu), Eduardo Mufarej, avisou que precisava ir embora mais cedo da assembleia extraordinária e declarou o voto dele a favor da proposta de 1/3 de voto para os atletas, pedindo para que sua declaração contasse em ata.
Foi solicitada então uma pausa, os dirigentes ligados a Durval se reuniram, e voltaram para votar. O resultado: 15 a 15. Foi então que Alaor Azevedo, presidente da CBTM (tênis de mesa) e um dos dirigentes esportivos há mais tempo no poder no Brasil, que se apresentou ano passado como opositor de Carlos Arthur Nuzman e a favor de uma modernização no COB, sugeriu anular o voto da CBRu.
Ana Paula Terra, do jurídico do COB e coordenadora da comissão estatuinte, deu parecer favorável a validade do voto de Mufarej, mas a assembleia optou por descartá-lo. Afinal, naquele momento, o grupo tinha maioria na assembleia. Por 15 votos a 14, o voto da CBRu foi descartado.
Tivesse o voto da CBRu sido aceito, a votação ficaria empatada em 15 a 15 e Paulo Wanderley daria o voto de minerva, provavelmente a favor da proposta de 1/3 – aos jornalistas presentes, ele não confirmou isso. Na assembleia extraordinária na qual foi lida a carta de renúncia de Nuzman, há 42 dias, a CBRu também não votou, porque não enviou um dirigente, mas seu CEO.
A decisão desta quarta-feira, que deixou irritados os dirigentes de uma ala progressista dentro do COB, é uma grande surpresa e, também, uma derrota considerável do novo presidente do comitê, Paulo Wanderley Teixeira. Ainda que tenha conseguido a aprovação de uma série de medidas de governança, elogiadas por ONG's que acompanham de perto a política esportiva, ele foi derrotado no tema mais importante colocado em votação.
Convidadas a opinarem, as ONG's Atletas pelo Brasil e Sou do Esporte propuseram que a cada dois votos de confederações, os atletas tivessem um voto. Mas a estatuinte propôs uma versão menos radical: um voto a cada três. Mesmo assim, as ONG's a comissão de atletas se deram por satisfeitas. Atualmente, só um atleta tem direito a voto.
Nesta quarta-feira, a votação foi nervosa, de acordo com dirigentes ouvidos pelo Olhar Olímpico, uma vez que validou a força de uma ala mais antiga de dirigentes, formada principalmente por aqueles que estão há mais de uma década no poder. Votaram a favor da proposta aprovada os dirigentes das confederações de boxe, canaogem, ginástica, handebol, levantamento de peso, pentatlo moderno, remo, ciclismo, taekwondo, tênis de mesa, tiro com arco, tênis, tiro esportivo, vôlei e wrestling.
A maior parte dessas confederações, vale ressaltar, está envolvida em escândalos. As confederações de handebol e levantamento de peso, por exemplo, têm suas eleições contestadas na Justiça. As de tênis, tiro esportivo, vôlei e tênis de mesa foram recentemente envolvidas em denúncias de corrupção, enquanto as de canoagem, ciclismo, tiro com arco, handebol e tênis de mesa são as que têm dirigentes há mais tempo no poder.
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