Ibirapuera recebe sete projetos e pode trocar estádio por shopping
Considerada a mais rica cidade do mundo sem uma arena poliesportiva, São Paulo deve ter essa lacuna ocupada em breve. O governo do estado de São Paulo recebeu sete projetos na primeira parte do edital de concessão do Complexo Esportivo do Ibirapuera. São, por enquanto, sete interessados em reformar o Ginásio do Ibirapuera ou mesmo construir uma nova arena para 20 mil pessoas. Azar do Estádio Ícaro de Castro Mello e do Parque Aquático Caio Pompeu de Toledo, que também fazem parte do complexo e estão com os dias contados.
Das sete empresas que apresentaram projetos neste chamamento público, só uma topou falar com o Olhar Olímpico, ainda que os projetos não sejam sigilosos e que eles devam ser levados a audiências públicas. As demais ou não responderam à reportagem, ou não aceitaram dar nenhum detalhe sobre o projeto, ou não quiseram expor publicamente o que pensam.
A única a revelar seu projeto foi a Unyco Marketing Esportivo. Pelo projeto dela, o Ícaro de Castro Mello, que já foi o maior templo do atletismo brasileiro e hoje encontra-se muito pouco utilizado, seria demolido para dar lugar a um prédio com shopping e estacionamento. Também o parque aquático, reaberto em 2013 após uma reforma que consumiu R$ 30 milhões, seria demolido com o mesmo propósito.
O Olhar Olímpico, porém, apurou com outras empresas que apresentaram projeto – e que não querem expô-los para não parecer estarem fazendo lobby -, que a chance de o estádio e o parque aquático continuarem existindo se aproxima bastante de zero. "É impossível investir no ginásio se não pudermos aproveitar a área onde hoje está o estádio de outra forma. Precisamos gerar receita", resumiu um empresário.
Relembre: Templo do atletismo, Estádio do Ibirapuera troca esporte por balada
Pelo menos um projeto segue a linha do que propôs o governo do estado quando abriu este edital: que o estádio seja demolido para que, em seu lugar, seja construída uma nova arena multiuso, para 20 mil lugares. A Time For Fun (T4F) foi uma das que não respondeu ao Olhar Olímpico, mas a empresa, promotora de eventos, já tinha um projeto pronto de arena, pensado para o Anhembi.
Em 2015, o então prefeito Fernando Haddad (PT) lançou um chamamento público parecido com este do governo do estado, depois de uma proposta exatamente de T4F. A ideia era construir uma arena no Anhembi, com capacidade de 20 mil pessoas, para suprimir essa demanda em São Paulo. Seis empresas apresentaram estudos preliminares, incluindo a T4F, mas o processo foi cancelado pelo atual prefeito da cidade, João Doria (PSDB), que quer privatizar o Anhembi inteiro.
Das seis empresas que apresentaram "estudos preliminares técnicos e de modelagem de projeto" para a arena do Anhembi, só duas voltaram à tona agora no Ibirapuera: além da T4F, também a Arena Assessoria de Projetos. As demais não demonstram interesse em mais uma concorrência, depois que os estudos feitos para o Anhembi foram descartados pela prefeitura.
Além da T4F e da Arena, também apresentaram projetos um consórcio que tem DC Set e Capital Live (agências de eventos), GL Events (que administra a Arena da Barra/Jeunesse Arena, o São Paulo Expo e o Riocentro), ESM Participações e Consultoria (agência de marketing esportivo) e Consórcio Pyau Ibirapuera.
Este último tem é encabeçado pela francesa Lagardère, que administra dezenas e arenas e estádios ao redor do mundo e, no Brasil, cuida do Independência (Belo Horizonte) e Arena Castelão (Fortaleza). Os franceses também já demonstraram interesse no Maracanã e no Parque Olímpico do Rio e veem o Brasil como mercado estratégico, especialmente São Paulo.
A partir de agora, o estado tem 60 dias (até 7 de janeiro) para analisar todas as sugestões, definir o modelo de negócio e elaborar o edital de licitação que vai balizar a escolha da futura concessionária. Ou seja: caberá ao governo escolher que modelo melhor se encaixa aos seus interesses. Da concorrência poderão participar, inclusive, empresas e grupos que não apresentaram estudos nesta primeira fase.
A expectativa da Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude (SELJ) e da Secretaria de Governo é de que a iniciativa privada traga investimentos na ordem de R$ 230 milhões para o complexo.
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