Templo do atletismo, Estádio do Ibirapuera troca esporte por balada
Foi-se o tempo em que o Estádio Ícaro de Castro Mello era o principal templo do atletismo brasileiro. Palco da maior parte dos grandes eventos realizados no país desde a década de 1950, o estádio do Complexo do Ibirapuera está com os dias contados. Enquanto continua a indecisão sobre sua possível demolição, o governo do Estado de São Paulo ao menos encontrou uma solução alternativa para o local: receber uma balada.
Pela primeira vez em sua história recente, o Ícaro de Castro Mello foi palco de um festival de música no último dia 22, o Festival Pilantragi. Originário de uma festa que há alguns anos agita a noite paulistana às quintas-feiras e que também é um bloco de carnaval, o festival reuniu, em palco montado no meio do campo, virado para a arquibancada central, nomes como Karol Conka, Daniela Mercury e Johnny Hooker.
Ainda que a produção do evento fosse de alta qualidade, inclusive com a colocação de placas de plástico sobre a grama, chamou atenção a altura desse "gramado". Na verdade, de um pasto, que tem de tudo quanto é erva, inclusive um pouco de grama, como foi constatado pela reportagem naquele dia. Também, pudera. Há pelo menos dois anos não há uma partida no local, que chegou a receber jogos oficiais do Corinthians, do Santos e do São Paulo na década de 1990. Inclusive, foi a casa do histórico time feminino tricolor, com Sissi e Katia Cilene.
Bons tempos que não voltam mais. A Secretaria Estadual de Esporte, Lazer e Juventude de São Paulo (SELJ) considera que todo o Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães "não está adequado às normas nacionais e internacionais para sediar competições".
A última competição de atletismo lá foi realizada em 2014: o Campeonato Ibero-Americano. Aliás, este foi também o principal evento de atletismo na década em São Paulo, após uma reforma completa em 2011. Na ocasião, no Ibero, uma grua colocada sobre a pista a afundou e, segundo a SELJ, não há conserto. Tanto que o Governo Federal resolveu investir cerca de R$ 7 milhões na reforma de uma pista em São Paulo e ela será a do vizinho Centro Olímpico, que pertence à prefeitura, e não do Ícaro de Castro Mello.
O governo estadual não admite com todas as letras que o estádio do Complexo do Ibirapuera será demolido, até porque de fato isso ainda não é certo, mas tudo indica que não há outro caminho. Está aberto um edital para apresentação de estudos de mercado para o complexo e as empresas interessadas têm até a próxima segunda-feira. O edital lista uma série de obrigações para o concessionário relativas ao ginásio do Ibirapuera, que precisa passar por uma grande reforma. Mas não cobra que o Ícaro de Castro Mello continue existindo.
Com o Pacaembu subutilizado, o Canindé também, e um estádio em São Bernardo do Campo – a Arena Caixa – atendendo a demanda do atletismo, os motivos são poucos para que um concessionário reforme o Ícaro, sendo que nada o impede de demolir o local e construir no lugar algo mais rentável.
Segundo a SELJ, a concessão do complexo "visa a modernização do local, tornando-o adequado para receber eventos esportivos, musicais, culturais, gastronômicos, religiosos e outros, atendendo a grande demanda da cidade de São Paulo por espaços com tais características". A pasta não revelou quanto a CRS Music pagou pelo aluguel do espaço para o Pilantragi, que passou longe de lotar o gramado.
O governo bate na tecla de que abriu o processo de concessão exatamente para tornar o complexo "apto a a receber eventos das mais variadas modalidades esportivas", com expectativa de investimentos de R$ 230 milhões. Além do estádio e do ginásio, o complexo ainda inclui um parque aquático, recentemente reformado e subutilizado desde que recebeu o Troféu Maria Lenk de natação, também em 2014, e um ginásio menor, o Mauro Pinheiro, que cabe bem na demanda por ginásios para competições de artes marciais, principalmente.
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