Preso, Carlos Arthur Nuzman renuncia e deixa a presidência do COB
Com Leo Burlá, no Rio de Janeiro
Carlos Arthur Nuzman não é mais o presidente do Comitê Olímpico do Brasil. Nesta quarta-feira (11), a entidade anunciou que o dirigente, que está preso por suspeita de participar de um esquema de compra de votos na eleição do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016, renunciou ao cargo. Quem assume é Paulo Wanderley, que até então era o vice-presidente. Até o fim do ano, uma nova eleição deve eleger agora um novo vice.
A carta de renúncia foi lida por Sérgio Mazzillo, um dos advogados ligados a Nuzman, em assembléia extraordinária nesta quarta, na sede do COB. O dirigente assinou o documento horas antes no presídio de Benfica, onde está detido. Na correspondência, Nuzman se defende das acusações e diz que deixará o cargo para se dedicar à sua defesa.
"Venho pela presente, reiterar os termos de minha correspondência, datada de 6 de outubro de 2017, em especial a minha completa exoneração de qualquer responsabilidade pelos atos a mim injustamente imputados, os quais serão devidamente combatidos pelos meios legais adequados", disse Nuzman no documento, que surpreendeu aos dirigentes que estavam na assembleia. O plano era que, da reunião, saísse um movimento de pressão para Nuzman renunciar. Mas ele se antecipou a isso.
Nuzman estava desde 1995 à frente do COB, tendo sido reeleito outras cinco vezes, a última delas no ano passado, quando fez um acordo político para substituir seu vice-presidente. Saiu André Richer, último presidente do COB antes de Nuzman e vice durante 20 anos, para entrar Paulo Wanderley.
A movimentação foi costurada com os presidentes das confederações, que já pensavam na sucessão de Nuzman. Paulo Wanderley, que derrubou o clã "Mamede" para ficar 16 à frente da CBJ, era tido como o mais preparado para assumir a cadeira de Nuzman assim que o veterano saísse dela.
Se tudo desse certo, isso teria acontecido ainda no primeiro semestre deste ano, quando aconteceu a eleição da Organização Desportiva Pan-Americana (ODEPA). Nuzman era candidato desde antes de ser reeleito no COB ano passado, e grande favorito. Mas, por um voto, não passou nem da primeira rodada da eleição.
O plano foi por água abaixo e Nuzman, que desde 2002 se dedicou às candidaturas e à organização do Pan e da Olimpíada, voltou a tocar o dia-a-dia do COB. Paulo Wanderley, que por vontade própria deixou o comando da CBJ, elegendo sucessor com tranquilidade, assumiu que sua hora demoraria um pouco mais a chegar, até 2020.
Mas o cenário sofreu uma reviravolta com a prisão de Nuzman, na quinta-feira passada. Paulo Wanderley não perdeu tempo e fez valer sua interpretação do estatuto e assumiu como presidente interino. Ali começava uma disputa pelo poder do COB, da qual Nuzman foi alijado de participar, uma vez que está preso. Seus antigos aliados também não se mostraram muito dispostos a ajuda-lo.
As somas dos fatos foram levando ao caminho tomado nesta quarta-feira. A começar pela postura dura do Comitê Olímpico Internacional (COI), que na sexta-feira anunciou a suspensão do COB e a suspensão dos repasses feitos à entidade brasileira. Esses repasses são toda a verba sem "carimbo" do orçamento do COB atualmente – o restante é proveniente da Lei Agnelo/Piva.
Também na sexta, depois de ficar sabendo disso e para conseguir um habeas corpus, Nuzman assinou uma carta pedindo afastamento da presidência do COB e do Comitê Organizador. A existência desta carta permitiu que a reunião informal marcada para terça-feira entre os presidentes de confederações fosse transformada em assembleia geral extraordinária, realizada nesta quarta.
Nuzman segue preso, agora por tempo indeterminado. Na segunda, quando venciam os cinco dias de sua prisão provisória, o juiz federal da 7ª Vara Criminal do Rio, Marcelo Bretas, acatou o pedido do Ministério Público Federal do Rio para colocar Nuzman em prisão preventiva. Detido em Benfica, Nuzman só tem tido acesso aos seus advogados, do escritório criminal de Nélio Machado.
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