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Olhar Olímpico

Em meio a crise, COB começa a pagar a conta por preterir formação

Demétrio Vecchioli

09/10/2017 11h16

(Wander Roberto/Exemplus/COB)

A crise política e econômica não é a única dor de cabeça do Comitê Olímpico do Brasil (COB). A primeira missão do novo ciclo olímpico, para participar dos Jogos Sul-Americanos da Juventude, mostrou um desempenho preocupante. O Brasil até liderou o quadro de medalhas, mas viu sua vantagem sobre os vizinhos cair vertiginosamente na comparação com a edição de quatro anos atrás.

A competição, preparatória para os Jogos Olímpicos da Juventude do ano que vem, em Buenos Aires, contou com 149 atletas brasileiros, que conquistaram 152 medalhas. Dessas, 49 só na natação. Considerando que na comparação com a primeira edição do evento, em 2013, havia 120 provas a mais e o Brasil ganhou apenas nove medalhas extras, o resultado é preocupante.

Basta ver a comparação com o desempenho de Colômbia e Argentina, as outras três outras forças do continente. Os colombianos passaram de 70 para 119 medalhas. Os argentinos, de 64 para 102. O Chile, competindo em casa, alcançou 88. Se em 2013 o Brasil teve mais do que o dobro de medalhas do que o segundo colocado, agora liderando com 42 ouros a mais, agora a vantagem foi reduzida a 32 e 15, respectivamente.

Diferente dos Jogos Sul-Americanos para adultos, na competição para jovens todos os países levam o que têm de melhor. Afinal, é esta a primeira chance para esses garotos participarem de uma missão internacional.

O resultado não chega a ser surpresa diante do baixo investimento nas categorias de base durante a preparação para os Jogos Olímpicos do Rio, quando o grosso dos recursos foi colocado nos atletas que buscavam classificação. Em diversas modalidades, os jovens não tiveram apoio para disputar sequer Campeonatos Mundiais, muito menos Sul-Americanos e Pan-Americanos. Culpa não só do COB, mas principalmente das confederações.

Uma hora essa conta ia chegar. E ela está chegando, já posta à mesa. Exemplos não faltam: o Basquete não levou suas seleções para torneios de base no ano passado, o vôlei pela primeira vez na história não ganhou medalha em nenhum dos Mundiais de base e a natação passou em branco no Mundial deste ano.

Mesmo assim, o COB fiz ter ficado satisfeito. "O objetivo do COB em termos de performance foi alcançado e, para os atletas, foi uma experiência única. Vencemos os Jogos no total de medalhas, mas o ganho maior foi fora das competições, onde pudemos proporcionar a estes jovens elementos para sua formação global, além da interação com diferentes modalidades e países de culturas distintas. Isso tudo é muito rico para quebrar o gelo e minimizar o deslumbramento das grandes competições. O resultado é, sim, importante, mas é só um detalhe dentro de tudo que estamos construindo", comentou, via assessoria, o chefe da missão brasileira em Santiago, Sebástian Pereira, ex-judoca.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.