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Olhar Olímpico

Nuzman pede afastamento do COB e da Rio-2016 para 'provar inocência'

Demétrio Vecchioli

07/10/2017 15h02

Nuzman é preso pela PF. Foto: Mauro Pimentel/AFP

Carlos Arthur Nuzman será afastado da presidência do Comitê Olímpico do Brasil (COB) a pedido. Na sexta-feira, o dirigente, que está no cargo há 22 anos, assinou documento produzido pelos seus advogados solicitando seu afastamento. O pedido será avaliado pela assembleia geral do COB na próxima quarta-feira, no Rio, durante assembleia extraordinária convocada ontem. Ele também solicitou seu afastamento da presidência do Comitê Organizador Rio-2016.

O documento, de uma página, assinado por Nuzman de dentro da penitenciária de Benfica, onde cumpre prisão provisória de cinco dias, é objetivo no pedido. Nele, o dirigente solicita seu afastamento até que os "fatos" sejam esclarecidos, em uma clara referência à sua detenção, na quinta-feira, e as investigações que correm tanto no Ministério Público Federal do Rio (MPF-RJ) quanto na Polícia Federal.

Ou seja: o afastamento seria sem data para voltar, abrindo o caminho para que Paulo Wanderley, vice-presidente eleito no ano passado, siga à frente do COB. Ele assumiu a entidade na quinta-feira à tarde, depois de Nuzman ser preso, mas de forma interina. No Comitê Rio-2016, um novo presidente deverá ser eleito na próxima vez que o conselho se reunir, ao longo da próxima semana.

A defesa de Nuzman garante que o pedido de afastamento foi uma decisão do próprio dirigente, após ele ter sido informado da suspensão do COB pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).

Ainda não está claro, porém, se Nuzman e Paulo Wanderley seguem próximos. Em entrevista ao blog do Ohata, ontem à noite, o presidente em exercício do COB adotou um tom muito mais rebelde do que está acostumado. Ao mesmo tempo, há quem entenda que Paulo vai aproveitar o respaldo que tem dos presidentes de federações, que afinal comandam a assembleia geral, para assumir o poder de forma definitiva.

Para reforçar essa tese, de que Paulo Wanderley e Nuzman estão agindo de forma independente, cada um dentro da sua estratégia, até o começo da tarde os principais dirigentes do COB desconheciam o conteúdo da carta de Nuzman que está na pauta da reunião de quarta-feira – trata-se, teoricamente, desta carta de afastamento.

Além disso, como mostrou também o colega Ohata, causou estranheza o fato de Paulo Wanderley inicialmente ter convocado uma reunião informal para terça-feira e, depois de ela se tornar pública exatamente pelo blog do Ohata, a data ser alterada para quarta-feira, transformada em uma assembleia extraordinária. Alguma decisão será tomada e agora se sabe que ao menos essa carta de afastamento.

O jogo de xadrez ainda deverá ter muitas ações até a quarta-feira. O pedido de prisão de Nuzman se encerra na segunda-feira e, com ele solto, fica muito mais difícil que as coisas aconteçam à sua revelia. Por outro lado, se o MPF convencer o juiz Marcelo da Costa Bretas a renovar a prisão por mais cinco dias, Nuzman estará longe enquanto toda essa movimentação ocorrer. Os advogados, claro, querem que o habeas corpus saia logo e cartolas ouvidos pelo UOL acreditam que a divulgação desse pedido de afastamento seja uma estratégia para convencer o desembargador responsável pelo caso.

Importante ressaltar que Paulo Wanderley foi eleito vice-presidente no ano passado, depois de 20 anos com André Richer como vice de Nuzman. O dirigente vindo da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) é um líder dos presidentes de federações e, diferente de outros figurões influentes no COB, é bem visto por patrocinadores, por atletas e pela mídia de forma geral.

Como mostrou o blog do Marcel Rizzo, o COI teria determinado do COB que só vai reaver a suspensão imposta na sexta-feira se a entidade brasileira não for mais comandada por Nuzman. Neste ponto, pesa a favor de Paulo Wanderley o fato de ele não ter feito parte do Comitê Rio-2016 ou estivesse no COB em 2009, data das suspeitas de corrupção. Ou seja: ainda que seja vice de Nuzman, ele não tem conexão com as denúncias investigadas.

Além disso, o estatuto do COB não permite que pessoas que não da assembleia geral se candidatem à presidência. Ou seja: ainda que diversos críticos de Nuzman tenham lançado balões de ensaio, eles não podem se candidatar. E, hoje, parece impossível que alguém desafie Paulo Wanderley. Explico melhor a situação no post: O que significa na prática a suspensão do COB?

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.