COI suspende Nuzman e COB, mas atletas brasileiros poderão competir
O Comitê Olímpico Internacional (COI) foi duro ao anunciar, nesta sexta-feira, a sua postura após a prisão do presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman. A entidade internacional não só suspendeu o brasileiro de todas as atividades ligadas ao movimento olímpico, retirando-o de seu cargo na organização dos Jogos de Tóquio, em 2020, como suspendeu o COB como membro. Isso não afeta, porém, a participação dos Brasil na Olimpíada de Inverno do ano que vem, na Coreia do Sul. A suspensão, segundo o COI, vale até que as questões de governança do COB forem direcionadas dentro do que quer o seu Comitê Executivo.
A decisão tomada pelo COI é muito pouco comum, se não inédita. Não foi assim, por exemplo, quando o presidente do comitê olímpico da Irlanda, Patrick Joseph Hickey, foi preso na Olimpíada do Rio acusado de comandar esquema de venda ilegal de ingressos para a Olimpíada. A postura só tem paralelo com casos em que o governo interferiu dentro do comitê olímpico nacional, como foram os casos de Índia e Kwait, recentemente.
A punição a Nuzman e ao COB é a primeira desde que a Comissão de Ética do COI passou a ser presidida pelo sul-coreano Ban Ki-moon, antigo secretário-geral da ONU, há menos de um mês. E foi exatamente essa comissão que sugeriu as punições. Nuzman foi suspenso provisoriamente de todos os seus direitos e funções relativos à sua posição de membro honorário do COI e deixa a Comissão de Organização dos Jogos de Tóquio.
Ainda que a investigação brasileira não envolva diretamente o COB e sim o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio-2016, ambos presididos por Nuzman, a entidade considera que o COB, assim como seu presidente, foram responsáveis pela candidatura do Rio em 2009. E é essa candidatura que é investigada pela Justiça Brasileira, em cooperação com autoridades francesas.
Desta forma, o COB está "provisoriamente suspenso". Mesmo assim, para proteger os atletas, eles continuarão podendo competir como brasileiros. Da mesma forma, o COI vai aceitar a missão brasileira nos Jogos de Inverno de PyeongChang, na Coreia do Sul, no começo do ano que vem. O mesmo deve acontecer nos Jogos Olímpicos da Juventude, em Buenos Aires, em outubro. Ao menos esportivamente, nada muda.
O grande problema deste gancho é que ele mina financeiramente o COB. A entidade brasileira ficou sete anos dentro de um período de máscara, no qual não podia ter patrocínios individuais, recebendo uma cota daqueles firmados pelo Comitê Rio-2016. Esse período acabou em 31 de dezembro de 2016, quando o COB ficou sem nenhum patrocinador individual. Desde então, firmou contratos com chinesa Peak, sua nova fornecedora de material esportiva, e com quatro apoiadores menores, que não injetam dinheiro.
Enquanto tem dificuldades de buscar patrocinadores, o COB tem se sustentado com o bom valor repassado pelo COI aos seus membros relativos aos chamados patrocinadores olímpicos. São eles: Samsung, Toyota, P&G, Panasonic, Omega, McDonald's, Intel, GE, DOW, Atos, Alibaba, Coca Cola, Visa. Agora, essas transferências vão cessar, deixando o COB dependente apenas dos recursos da Lei Agnelo/Piva, que são carimbados. Ou seja: não terá fonte de recursos, exceto suas economias, para gastos que não previstos na Agnelo/Piva.
De acordo com o COI, porém, o apoio dado a atletas brasileiros por meio da Solidariedade Olímpica continuará a ser pago normalmente. A entidade ainda diz que é de seu interesse que tudo seja esclarecido.
"O COI reitera seu compromisso total com a proteção da integridade do esporte. O COI continuará a abordar qualquer questão que afete a integridade de acordo com as regras e regulamentos de seu sistema de governança recentemente reformado. Para acompanhar adequadamente este caso, o Comitê de Ética solicita a todas as autoridades judiciais que forneçam à Comissão de Ética do COI todas as informações disponíveis o mais cedo possível. O COI continuará a cooperar plenamente com todas estas autoridades judiciais. É do maior interesse do COI poder abordar completamente tais questões relativas a um membro do COI ou a um membro Honorário o mais rápido possível, a fim de proteger sua reputação como organização", diz o comunicado.
Nuzman foi preso na última quinta-feira no Rio de Janeiro. No pedido de prisão apresentado pelo Ministério Público Federal, ele é acusado de tentativa de ocultação de bens. Também é apontado um aumento de patrimônio de Nuzman de mais de 457% entre os anos de 2006 e 2016.
Como exemplo, o Ministério Público citou uma chave apreendida na primeira fase da operação que poderia corresponder a um cofre na Suíça, considerando que estava guardada junto a cartões de visita de agentes que trabalham como serviço de locação. Ela contém 16 barras de ouro de 1 kg.
Além disso, foi anexado no processo e-mails que atrelam o dirigente a uma lista de pagamentos que seriam feitos a dirigentes pela escolha do Rio de Janeiro como sede olímpica em 2016. Esses pagamentos foram efetuados pelo empresário Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur, em uma conta ligada ao ex-presidente da Federação Internacional de Atletismos, Lamine Diack, na véspera da escolha do Rio, em 2009.
Depois desse primeiro pagamento, de US$ 2 milhões, Diack enviou e-mails a Nuzman cobrando que um "problema" fosse resolvido e citando suas contas bancárias. Para os procuradores, isso é um indício de que os US$ 2 milhões iniciais foram depois seguidos de novos depósitos. Além disso, eles entendem que não apenas o voto de Diack foi comprado.
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