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Olhar Olímpico

Amigo alertou Nuzman sobre pente-fino do governo em contas do Pan

Demétrio Vecchioli

06/10/2017 04h00

Ao cumprir mandado de busca e apreensão na casa de Carlos Arthur Nuzman, há um mês, a Polícia Federal teve acesso aos celulares utilizados pelo dirigente que viria a ser preso nesta quinta-feira. E uma conversa em especial chamou a atenção dos procuradores do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF-RJ). Nela, Nuzman é alertado sobre um pente-fino nos convênios firmados pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) com o Ministério do Esporte.

A conversa, a única que consta no pedido de prisão preventiva feito pela Força-Tarefa Lava Jato, do Núcleo de Combate à Corrupção, é com um contato salvo como "Sergio Lobo". Muito provavelmente, Sergio Vieira da Costa Lobo, secretário-geral do COB e responsável por assinar, por exemplo, a carta que indicou Nuzman à presidência da Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa) – o brasileiro foi derrotado no pleito.

"Segundo Wladimyr, abertura dos convênios do Pan foi iniciativa do novo ministro do ME (Ministério do Esporte) e seu staff", avisa Lobo. Nuzman responde brevemente: "É bom avisar o Mazzillo". Lobo rebate: "Vai virar fofoca. Falo pessoalmente".

Os procuradores da Lava Jato não identificam quem é Wladimyr, ainda que este nome, peculiar, seja também o de um advogado que atua na área do direito esportivo. Já Mazzillo seria Sergio Mazzillo, advogado e amigo pessoal de Nuzman, responsável inclusive por sua defesa neste processo que corre na Justiça Federal do Rio.

A denúncia cita que a conversa aponta "para o conhecimento de outras possíveis irregularidades" e entende que, "por razões reveladas apenas pessoalmente, o interlocutor acreditava que as investigações não avançariam".

O Ministério do Esporte, que foi comandado pelo PCdoB durante quase todo os governos Dilma e Lula, com uma breve interrupção em 2015, de fato iniciou um processo de reavaliação de convênios firmados durante essa gestão. E o movimento é comandado pelo ministro Leonardo Picciani, do mesmo partido do presidente Michel Temer.

Questionado, o Ministério do Esporte não respondeu se de fato os convênios firmados com o COB especialmente durante o Pan do Rio, em 2007, e durante o processo de candidatura do Rio para a Olimpíada, em 2009, estão entre os que passam por pente-fino. Todos esses convênios foram firmados por André Richer, que então era vice-presidente e que também está envolvido nas investigações – os policiais federais cumpriram mandado de busca e apreensão na casa dele, encontrando armas e uma coleção de relógios de ouro

Desde 2010, porém, o Ministério do Esporte e o COB não firmam mais convênios. A pasta foi questionada, mas não quis comentar sobre a prisão do principal dirigente esportivo do país.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.